A associação Habita denunciou hoje o despejo de sete famílias no bairro do Talude, no Catujal, concelho de Loures, que travaram as máquinas que iam demolir as barracas e aguardam uma solução de habitação definitiva.
Em declarações à agência Lusa, o missionário da paróquia de Camarate José Manuel explicou que sete famílias foram notificadas de que as suas casas iam hoje ser demolidas, avançando que “ao certo há mais 20 ou 30 barracas, só que sete famílias é que recebera a ordem de demolição”.
De acordo com o missionário, representantes do trabalho social da autarquia explicaram aos habitantes que “ainda não tinham uma solução [de realojamento] definitiva, mas só provisória”, pelo que “as pessoas ficaram assustadas e mandaram chamar um representante da câmara”.
Apesar de no local estarem as máquinas, a polícia e representantes da autarquia, as demolições ainda não tiveram lugar, dado que, de acordo com José Manuel, as pessoas “puseram-se à frente das máquinas e não as deixaram avançar”.
A associação Habita denunciou hoje em comunicado divulgado cerca das 11:00 que sete famílias iam ser despejadas no bairro do Talude, Catujal, porque a Câmara Municipal de Loures ia demolir as suas casas.
Segundo a associação, a autarquia não tinha apresentado “qualquer alternativa de habitação adequada” e vai mandar “para a rua várias famílias com crianças”.
De acordo com a Habita, em causa estão cinco agregados familiares, “com mulheres chefes de família que cuidam sozinhas dos filhos”, incluindo-se no grupo “uma mulher grávida doente” que aguarda vaga para uma operação cardíaca, além de “um senhor idoso e muito doente, e também cinco menores de idade e dois recém-nascidos”.
“A maioria são pessoas desempregadas em situação de procura de emprego. Mas há também mulheres empregadas formalmente cujo rendimento não é suficiente para aceder a uma habitação”, refere a nota da associação.
Segundo a Habita, várias organizações estão presentes no local e opõe-se “à barbárie do sistema que apenas defende a propriedade e o lucro e atira as pessoas para situações cada vez mais insustentáveis de pobreza e para a rua”.
A associação refere ainda que estas famílias, ao não terem conseguido encontrar uma opção de habitação “não tiveram outra alternativa que não fosse construir uma barraca”.
“Este é o país que voltou a atirar as pessoas para situações em que não lhes resta outra opção que não a construção de barracas”, pode ler-se na nota, que acrescenta que as famílias do bairro do Talude, “como todas as pessoas, têm de ter acesso a uma habitação adequada, não são elas as responsáveis de viverem numa barraca, mas as políticas que incentivam à inacessibilidade da habitação”.
“Enquanto o governo nos entretém com o lançamento caótico e atabalhoado de medidas para habitação que falham redondamente por não abordarem os problemas fundamentais e as causas da crise de habitação, nem criarem medidas imediatas de estancamento da crise, os despejos e a emergência habitacional continuam a fazer-se sentir, e as pessoas são atiradas para a rua pelo próprio Estado”, denuncia a Habita.
A Lusa tentou obter uma resposta da Câmara Municipal de Loures sobre o assunto, mas até ao momento não teve sucesso, tendo a autarquia remetido uma explicação para mais tarde.