19 Abril, 2024

Criadores de gado no nordeste algarvio preocupados com futuro da atividade

© DGAV

A falta de chuva e de água disponível está a agravar os níveis de seca, impedindo o desenvolvimento de pastagens no campo e a deixar os criadores de gado do Algarve preocupados com o futuro, disse um produtor.

Em declarações à Lusa, Nuno Coelho considerou que a falta de chuva tem afetado o crescimento das pastagens, mas também a diversidade de espécies disponíveis, reduzindo o tempo em que os animais se podem alimentar no campo e obrigando os produtores a recorrer a rações e forragens, aumentando os custos de podução.

“A situação está pior do que no ano passado. No ano passado tivemos um outono/inverno mau, mas depois no inverno/primavera compôs-se, e ainda se safaram as pastagens, mas este ano aconteceu o contrário. Tivemos um outono molhado, que acabou por dar algum alento às barragens, mas desde essa altura, passámos o inverno, a bem dizer, sem chuva”, afirmou.

A situação tem tendência a “ficar cada vez pior”, porque “as plantas não têm o crescimento e desenvolvimento adequado e, ano após ano, a variedade da biodiversidade do banco de sementes no solo é cada vez pior”, justificou.

“Um hectare de terra, para os meus animais, permitia pastar lá durante 15 dias, com muita facilidade, e neste momento, se calhar em três ou quatro dias limpam o terreno”, exemplificou o produtor, que tem um rebanho de cabras de raça algarvia no nordeste algarvio.

Para manter a atividade e “conseguir mais ou menos suportar as despesas”, Nuno Coelho contou que já reduziu “drasticamente” o efetivo, passando dos 130 animais que tinha há três para os cerca de 60 exemplares de caprinos que compõem atualmente o seu rebanho.

“As despesas mantêm-se, ou seja, o negócio já não era muito rentável e, agora, não é de todo rentável”, lamentou, advertindo que é preciso “resiliência” para manter a atividade pecuária no Algarve e contar com outras fontes de rendimento, como é o seu caso, para cobrir as perdas que “ameaçam a sobrevivência” dos produtores.

Nuno Coelho alertou ainda que, se não for assim, “muita gente abandona a atividade ou pensa noutras formas de se manter no território com outras atividades”.

“A chuva não vem, não mandamos nela, e não há grande maneira de inverter isto. Temos de ser resilientes, tentando manter as coisas da melhor forma, adaptando, se calhar, algumas formas de maneio a estas realidades, mas não havendo água, não há vida, e não vejo grande futuro para a atividade pecuária, não só aqui na serra, como em todo o Algarve”, alertou.

Nuno Luís, que também tem um rebanho com cerca de 300 caprinos no nordeste algarvio, próximo da fronteira espanhola e uma das zonas do Algarve mais afetadas pela seca, disse à Lusa que a falta de água e o aumento dos custos está a ameaçar a atividade dos produtores de gado.

“A situação tem estado crítica. Com a falta de água, as pastagens têm secado todas e está muito complicado”, afirmou o produtor, lamentando que as sementeiras de pastagens feitas em outubro não tenham crescido devido à falta de chuva e água.

Nuno Luís explicou que as pastagens “já não vão produzir nada do que deveriam”, porque “ainda choveu em novembro e dezembro, mas agora, na primavera, que devia ter chovido mais, isso não aconteceu” e as plantações não cresceram.

“Tínhamos semeado para o verão, gastámos dinheiro a fazer as plantações, e agora vamos ter de gastar mais dinheiro nas rações e nas palhas”, acrescentou, frisando que a ideia inicial era conseguir alimentar o gado no campo até ao verão, mas “no final de abril já vai estar tudo seco”.

A isto soma-se também a subida de custos de produção, como o das rações, que estão a cerca de 13 euros a saca de 25 quilogramas, quando há três anos se pagavam oito euros por uma saca de 40 quilogramas, assinalou, frisando que isso provoca “um gasto adicional de cerca de 1.000 euros mensais” para alimentar o rebanho.

Os preços pagos por cada cabrito ainda “subiram um pouco”, passando de 45 para 50 euros, mas esse valor “também não é suficiente para cobrir os gastos adicionais”, que estão a tornar a atividade “mais difícil de ano para ano”.

“Antes, tínhamos um ano mau e três ou quatro bons. Agora, temos tido anos maus atrás de anos de maus e a atividade é cada vez mais difícil”, concluiu.

Agência Lusa

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