Mais de 900 estudantes de Medicina criticam a qualidade da formação médica ministrada em Portugal, alertando para a ausência de investimento, segundo os resultados de uma iniciativa da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) hoje divulgados.
“São os resultados que estávamos à espera. (…) Acabamos ter resultados muito semelhantes entre si, o que revela que, de facto, os problemas são transversais a todos”, adiantou à agência Lusa o presidente da ANEM.
De acordo com Vasco Cremon de Lemos, a iniciativa “A tua voz. O teu diagnóstico” serviu para “fazer uma pequena descrição” daquilo que é a formação dos estudantes de Medicina.
Os quase 1.000 alunos apontam para o subfinanciamento dos recursos das escolas médicas, escassez dos recursos humanos, métodos de ensino desatualizados e a ausência na digitalização da Saúde.
“Esta falta de financiamento e subfinanciamento (…) deve-se sobretudo à falta de condições que muitas vezes acabamos por sentir: auditórios sobrelotados e espaços físicos das faculdades sobrelotados”, indicou o dirigente, afirmando que o mesmo problema acontece “no espaço hospitalar”.
Criticando o Estado por ter aumentado o número de estudantes sem aumentar o financiamento das escolas médicas, Vasco Cremon de Lemos explicou que os jovens médicos, em pré-graduação, acabam por sentir a falta de tutores na formação.
“Acaba por revelar a falta de recursos humanos que também existe. (…) A escassez de recursos humanos pode-se combater com a criação de carreiras atrativas para o corpo docente, permitindo que a carreira docente se concilie com carreira médica, porque grande parte dos nossos docentes são médicos e é necessário que haja uma componente de docência”, sublinhou.
A ANEM também pediu uma audiência com a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, para promover um diálogo sobre a melhoria da formação médica em Portugal.
“Até ao momento ainda não obtivemos nenhuma resposta. O nosso objetivo com o Ministério é apresentar os problemas e discutir em conjunto soluções, perceber de que parte podemos contribuir para a solução. Queremos ser uma parte ativa na construção de soluções”, observou.
Vasco Cremon de Lemos disse à Lusa que a ANEM tem algumas propostas que passam pelo financiamento, pela criação de carreiras mais atrativas para o corpo docente, pelo aumento da simulação na formação médica e pelas infraestruturas necessárias.
Referindo que nunca se deve “abdicar da ética essencial aos cuidados de saúde”, o presidente ANEM esclareceu que a associação vai continuar a analisar as necessidades identificadas pelos estudantes para depois as discutir com o Governo, planificando “iniciativas futuras”.