Mutualista Montepio admite saídas de trabalhadores nas seguradoras

© Montepio

O presidente da Associação Mutualista Montepio Geral disse hoje que a redução de pessoal no grupo se tem feito respeitando a dignidade das pessoas e admitiu saídas de trabalhadores também nas empresas seguradoras.

Na conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2022 da mutualista (lucros consolidados de 90,8 milhões de euros), questionado sobre o clima laboral no banco, Virgílio Lima disse que do Banco Montepio saíram nos últimos anos “centenas de pessoas sem que o clima social fosse degradado” e que para isso contribuiu a “salvaguarda de interesses recíprocos e da dignidade” das pessoas.

Sobre trabalhadores que estão em casa sem funções atribuídas, afirmou que, quando o banco fecha agências e enquanto os funcionários não são postos num novo serviço, “ficam [em casa] a aguardar colocação”, mas que “são tratados com extrema dignidade”.

Sobre a redução de trabalhadores no banco, Virgílio Lima disse apenas que o processo é público.

Afirmou ainda o gestor que, tal como banco, poderá haver um “ajustamento em termos de pessoas” nas empresas seguradoras do grupo, mas sem dar mais indicações.

Sobre os aumentos salariais no Banco Montepio, sendo a última proposta de 3%, abaixo dos 4% que propõem os bancos subscritores do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) do setor, Virgílio Lima disse não querer comentar pois, apesar de a mutualista ser a acionista, o banco tem uma gestão autónoma.

“Há autonomia de gestão e há regras de relacionamento. Temos a responsabilidade na escolha de quem está lá a mandar e na apreciação da gestão e temos dever de acompanhamento e fazemo-lo, mas respeitamos a autonomia de gestão”, disse.

Os sindicatos Mais, SBC e SBN, afetos à UGT, criticaram esta segunda-feira a forma como o Montepio tem conduzido as negociações para a revisão salarial e exigiram que a instituição reveja a proposta.

“Nos últimos três anos o relacionamento institucional entre estes Sindicatos e o Montepio tem sido claramente um faz de conta”, garantiram, indicando que, “embora muito tenham feito para evitar o confronto, o desrespeito pelos trabalhadores e, consequentemente, por estes sindicatos, já não tem qualquer justificação e tornou-se inadmissível manter o atual estado de coisas”.

As estruturas salientam que “não desistem” e querem que administração do banco saiba reconhecer “a justiça das reivindicações e reveja a sua proposta de atualização salarial, demonstrando respeito pelos trabalhadores e pelos sindicatos”.

Já o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) suspendeu a manifestação que estava agendada para a semana passada junto à sede do Montepio, em Lisboa, após o banco ter revisto a sua proposta salarial para 3%.

“Muito embora a proposta do Montepio esteja longe da atualização salarial e das pensões que os nossos sócios merecem, registamos e saudamos esta evolução por parte do Montepio Geral, estando assim restabelecidas as condições mínimas para que seja possível continuar as negociações diretas”, disse o sindicato em comunicado.

No início de maio, o economista e associado do Montepio Eugénio Rosa (concorreu nas últimas eleições pela Lista C) publicou um artigo no qual disse que, no Montepio, continua a haver trabalhadores em casa por não lhes terem sido atribuídas funções, considerando que pode constituir assédio, pois atinge a dignidade das pessoas.

“A política da atual administração, com a conivência do acionista, de apresentar lucros a curto prazo cortando principalmente nas despesas com pessoal, está a fragilizar o banco e a torná-lo irrelevante no setor”, disse Eugénio Rosa, acrescentando que antes de tornar pública a sua posição falou da situação internamente, incluindo com responsáveis da mutualista, pois considera que esta “devia fazer cumprir os princípios mutualistas de respeito pela dignidade das pessoas em todas as empresas do grupo”.

O banco Montepio anunciou em 2020 um plano de saída de trabalhadores, através de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho, com o objetivo de reduzir entre 600 e 900 funcionários.

No final de março deste ano, o grupo Banco Montepio tinha 3.409 trabalhadores, menos 53 do que em março de 2022. Face a final de 2020 (3.721) a redução era de 312.

O Banco Montepio teve lucros de 35,3 milhões de euros no primeiro trimestre de 2023, mais do triplo face aos 11,4 milhões de euros do mesmo período de 2022.

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