A quota de mercado dos genéricos ultrapassou, pela primeira vez, a barreira dos 50%, mas, alertou hoje a presidente da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN), ainda persistem “ineficiências que impedem uma maior adoção” destes fármacos.
No dia em que se assinalam os 31 anos do início da comercialização dos medicamentos genéricos em Portugal, a presidente da associação, Maria do Carmo Neves, adiantou à agência Lusa que a quota de mercado destes fármacos estava nos 51,2%, segundo dados conhecidos esta semana.
“Há vários anos que estamos praticamente estagnados, vimos de 48%, 49%, e com muita dificuldade em aumentar esta quota”, disse, referindo que têm desde 2014 o objetivo de atingir no mínimo os 60&, porque “o nível de adoção dos medicamentos genéricos é um indicador de qualidade de um sistema de saúde”.
“Temos várias propostas em cima da mesa para que isso possa acontecer e vamos ver se conseguimos, para já, chegar aos 60%”, declarou.
Maria do Carmo Neves defendeu que a opção por genéricos “liberta recursos para as famílias e para o sistema de saúde beneficiando a sociedade”, realçando que “países mais desenvolvidos, com populações com maior poder de compra e mais literacia em saúde apresentam maiores quotas de mercado” destes medicamentos, como o Reino Unido e a Alemanha com 85% e 83%, respetivamente.
“Portanto, temos ainda um longo caminho”, mas, defendeu, “um uso adequado” destes medicamentos permite “um maior acesso, uma maior equidade, uma maior sustentabilidade e, com isto, o Ministério da Saúde pode conseguir introduzir a inovação que todos precisamos dela para satisfazer as necessidades médicas ainda não preenchidas”.
Maria do Carmo Neves lembrou que, nos últimos 20 anos, os genéricos geraram uma poupança de 7.000 mil milhões ao Estado: “E não estamos a utilizá-los como os utilizam a Alemanha ou o Reino Unido e, mesmo assim, tivemos esta poupança que é praticamente metade do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]”.
Defendeu que é preciso ter a noção do que são estes medicamentos e “acabar com o estigma que os medicamentos genéricos são para pobres”, exemplificando que a Inglaterra introduziu como indicador de qualidade a adoção dos genéricos no sistema de saúde.
O relatório de 2022 sobre a pobreza e exclusão social em Portugal identifica que 22,4% da população portuguesa está em risco de pobreza ou exclusão social e cerca de 2,5% dos trabalhadores por conta de outrem tinham um rendimento por adulto equivalente ou inferior a cerca de 370 euros.
“Isto é muito perturbador. Temos que tratar na criação de riqueza e a indústria da saúde, nomeadamente a dos medicamentos, e a indústria que nós temos nacional é criadora de riqueza em termos de exportação”, defendeu.
Este ano, até hoje, foram poupados 262 milhões de euros com a dispensa de medicamentos genéricos para o SNS e para as famílias portuguesas, segundo dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde e do contador ‘online’ no ‘site’ da APOGEN.