Os deputados do PSD que pediram uma reunião extraordinária da bancada social-democrata na sequência das buscas apelaram a que o partido não desvalorize as questões da Justiça, com vários a defenderem uma audição parlamentar da procuradora-geral da República.
Na reunião, que ainda decorre à porta fechada, um dos mais críticos foi o vice-presidente da Assembleia da República, Adão Silva, que chegou mesmo a falar num “auto de fé moderno” ao ex-presidente do PSD Rui Rio, que foi alvo de buscas na quarta-feira passada, tal como a sede nacional do PSD, e chegou mesmo a perguntar “quem quer imolar” o partido.
De acordo com relatos feitos à Lusa, o ex-vice-presidente do PSD André Coelho Lima falou num ‘timing’ tardio por parte do líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, que só falou na sexta-feira, justificando o pedido de reunião urgente por parte de um grupo de 30 deputados, em que se inclui.
Coelho Lima considerou que existiu um silêncio tático, chegando mesmo a falar de “hipocrisia e falta de coragem”, apoiando que Lucília Gago dê explicações na Comissão de Assuntos Constitucionais.
A sugestão de audição da procuradora-geral da República – que “não assegurou a salvaguarda do estado de Direito” – foi feita, em primeiro lugar, pelo deputado Maló de Abreu, que defendeu que “as questões da justiça devem ser uma prioridade para o PSD”.
“Os políticos por medo, estratégia, tática, mantêm as calças na mão. Espero que nós não”, apelou.
O ex-líder parlamentar Paulo Mota Pinto foi outro dos que defendeu que o PSD não pode desvalorizar as questões de justiça, alertando que se tal acontecer o partido deixará a exploração deste caso para o PS.
Mota Pinto defendeu ainda que o PSD deve, na conferência de líderes de quarta-feira, apoiar o pedido de explicações público que o presidente da Assembleia da República fez ao Ministério Público e, se estes não forem dados, que seja pedida a audição parlamentar de Lucília Gago.
O líder parlamentar Joaquim Miranda Sarmento foi respondendo quase individualmente e rejeitou que o PSD tenha desvalorizado a questão, elencando as várias reações do partido desde quarta-feira, dia em que a Polícia Judiciária mobilizou cerca de 100 inspetores e peritos informáticos e financeiros para um conjunto de 20 buscas, incluindo na casa do ex-presidente do PSD Rui Rio e na sede nacional deste partido, num inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional de Lisboa, por suspeitas dos crimes de peculato e de abuso de poder.
Depois de o partido se ter queixado na quinta-feira, por carta, à procuradora-geral da República sobre a “grande desproporcionalidade” entre os atos realizados e o objeto da investigação, o argumento foi repetido no sábado depois pelo presidente Luís Montenegro.
Na segunda-feira, à saída de uma audiência com o Presidente da República, Montenegro recusou, contudo, voltar ao tema, dizendo que não se iria distrair dos temas “que interessam à vida das pessoas”.
O líder social-democrata admitiu que a justiça é um desses temas centrais, mas disse não querer – “à boleia de um episódio lamentável” – escamotear o que diz serem “as necessidades e anseios dos portugueses” em áreas como a saúde, educação ou habitação.