13 Maio, 2024

Gritos Silenciosos

A Epidemia do Suicídio Jovem em Portugal exige ação imediata

No próximo dia 10 de setembro, o mundo inteiro une-se para celebrar o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. Enquanto esta data se aproxima, Portugal não pode ignorar o grito silencioso dos seus jovens que desesperam por ação imediata perante uma epidemia de proporções alarmantes.

Num continente onde as taxas de suicídio têm diminuído, ainda que de forma muito ténue, Portugal, lamentavelmente, destaca-se com uma taxa que supera qualquer outro país do sul da União Europeia. Em 2021, testemunhámos, em média, 77 mortes por mês – mais de duas vidas perdidas a cada dia. No entanto, estes números podem ser apenas a ponta do iceberg, e alguma investigação realizada em Portugal neste domínio põe em causa a validade e fiabilidade destes números que podem estar seriamente comprometidos pelo registo elevado do número de “mortes violentas por causa desconhecida” que pode conduzir a uma subnotificação do suicídio.

O panorama é ainda mais sombrio quando voltamos o nosso olhar para a juventude. Desde 2017, que as estatísticas europeias alertam que “uma em cada seis mortes entre os 10 e os 29 anos em Portugal é resultado de suicídio,” tornando-o na principal causa de morte entre as gerações mais jovens. Se esta situação já era alarmante em 2017, a pandemia agravou-a dramaticamente. Um complexo emaranhado de pressões e ansiedades empurra agora muitos jovens para a beira do abismo com a depressão a afetar, pelo menos, 42%.

É entre os 15 e os 24 anos que se verifica a maior taxa de suicídio jovem em Portugal e este dado representa um verdadeiro grito de socorro por parte desta geração. Os nossos jovens enfrentam uma batalha silenciosa: lutam contra a falta de autonomia financeira, contra o desemprego ou empregos precários, sem possibilidade de comprar ou arrendar casa, sem perspetivas de futuro, sem saúde mental, vão reduzindo a sua lista de sonhos e espectativas até ao ponto de rutura.

A depressão – um fator significativo no aumento do risco de suicídio – atormenta-os. Se a este facto juntarmos que a perceção de infelicidade disparou entre 2018 e 2022 dos 18,3% para os 27,7%, estamos em crer que os números da depressão irão agravar-se e potenciar um aumento do risco de suicídio.

As palavras preocupantes do Dr. Gonçalo Cordeiro Ferreira, diretor do serviço de pediatria clínica do Hospital de Dona Estefânia, lançaram um alerta que deve ressoar em todos nós: os números de tentativa de suicídio por intoxicação medicamentosa voluntária duplicaram em apenas quatro anos “(…) passaram de 226 em 2018 para 464 em 2021 e o prognóstico para 2022 é reservado”. Na grande maioria dos casos foram utilizados psicofármacos prescritos aos próprios ou a familiares e em 33% existiu efetivamente ideação suicida dos quais quase metade são jovens reincidentes seguidos em pedopsiquiatria. Acreditamos que os números de 2022 e 2023 serão seguramente superiores. Atualmente, apenas 132 pedopsiquiatras garantem assistência em unidades do Serviço Nacional de Saúde, mas faltam pelo menos outros 200 especialistas para atender a todas as necessidades.

Nem sempre uma consulta ou medicação resolvem o problema e, por isso, também as escolas devem ter um papel mais ativo na prevenção, numa resposta de proximidade integrada que articule as diversas estruturas da comunidade e que diminua o recurso aos serviços de urgência.

É também inegável que o isolamento social cada vez mais presente, a pressão académica, as demasiadas incertezas quanto ao futuro e a falta de acesso a apoio psicológico atempado desempenham um papel significativo nesta tragédia, que resulta de um sofrimento profundo e de uma sensação total de desespero.

Para combater este problema com eficácia, os decisores políticos devem adotar medidas concretas. Em primeiro lugar, promover a educação sobre a saúde mental nas escolas, em segundo reforçar a criação de redes de apoio mais sólidas e, de uma vez por todas, quebrar o estigma em torno da saúde mental, transformando mentalidades.

Somente através de um compromisso conjunto podemos esperar reverter esta tendência e oferecer um futuro mais brilhante para os jovens de Portugal.

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