“Também acho honestamente que há o risco de uma islamização acelerada da Europa, muito mais até do que em Portugal neste momento, mas Portugal também já está a sentir esse vestígio”, afirma André Ventura, em entrevista à agência Lusa, uma semana depois da realização em Lisboa de uma manifestação de extrema-direita contra aquilo que dizem ser a islamização da Europa.
O ‘Grupo 1143’ – um movimento de extrema-direita que tem como porta-voz o militante neonazi Mário Machado, queria manifestar-se primeiramente na zona da Mouraria, mas essa ação foi proibida por motivos de segurança, pelo que o protesto decorreu no Chiado com tochas e faixas com mensagens como “Stop Islão” ou “Portugal aos portugueses”.
“Temos de ter alguma cautela com a imigração islâmica”, afirmou André Ventura, admitindo “a potencial análise discriminatória” da sua afirmação.
Considerando que existe “o risco de islamização” e que “esse risco deve ser controlado”, André Ventura sustentou que é “de natureza civilizacional”.
O presidente do CHEGA defendeu ser necessário “manter equilibrada a matriz cultural europeia, que é uma matriz judaico cristã”.
“Não é uma matriz de natureza islâmica e, por isso, a aceleração da imigração com foco em países islâmicos traz um desequilíbrio a esta matriz cultural e civilizacional”, sustentou.
Ventura argumentou que estas são “comunidades que muitas vezes, ou quase sempre, têm dificuldades de se integrar e criam guetos culturais”.
Questionado se existem guetos de muçulmanos em Portugal, respondeu: “Vou deixar para outra análise, não quero fazer esse juízo. Acho que há um risco real de isso acontecer e acho que se temos o exemplo dos outros países da Europa, devemos evitar que isso aconteça aqui”.
Instado também a esclarecer qual o perigo que estas pessoas constituem efetivamente, o líder do CHEGA respondeu que se trata do risco de “distorcer o equilíbrio civilizacional e a matriz judaico cristã”.
O líder do CHEGA considerou também que uma limitação com base no país de origem é “uma questão mais problemática” e “às vezes pode ser injusta para quem está do outro lado”.
“Mas eu acho que quem vem do Afeganistão ou do Paquistão não pode ter o mesmo tipo de controlo, de análise prévia, de alguém que vem de Espanha ou de alguém que vem de Marrocos ou de alguém que vem do Brasil”, afirmou.
André Ventura sustentou a sua posição referindo uma “excessiva flexibilização” da entrada de imigrantes, que pode constituir “alguns riscos ao nível de segurança interna, porque são países muito marcados pela presença do terrorismo, do fundamentalismo islâmico e também países onde o controlo quase não existe”.
Questionado sobre o protesto do último sábado e sobre notícias de que contou com apoiantes do CHEGA, Ventura fez questão de dizer que o seu partido “não teve nada a ver com esta manifestação”, mas disse desconhecer se “estiveram lá pessoas do CHEGA ou não”.
“O CHEGA não teve nada a ver, não patrocinou, não ajudou, não teve nada a ver com essa manifestação”, insistiu, ressalvando, no entanto, que também não controla tudo num “partido com 50 mil militantes”.
O CHEGA defende, a revogação do acordo de mobilidade entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a reversão da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, bem como um maior controlo, com o estabelecimento de quotas anuais para a entrada de estrangeiros em Portugal assentes nas qualificações das pessoas e nas necessidades do mercado de trabalho.
“Nunca dissemos que íamos expulsar a toda a gente, nunca dissemos que íamos expulsar pessoas por expulsar, dissemos que tinha de haver uma imigração controlada, como a maior parte dos países da Europa neste momento estão a reconhecer”, em colocar em “causa a proteção de pessoas mais frágeis ou que estejam em risco de vida”, defendeu.