Uma sondagem recente revelou que metade dos alemães (52%) é a favor da reintrodução do serviço militar obrigatório na Alemanha, suspenso em 2011. A maioria situa-se na faixa etária acima dos 60 anos. Já 42% dos inquiridos pelo instituto Forsa admitiu estar contra e 5% não expressou opinião.
Para a Associação de Reservistas das Forças Armadas Alemãs (Verband der Reservisten der Deutschen Bundeswehr e.V.), o serviço militar obrigatório é “inevitável”.
“Defendemos um ano de serviço obrigatório, porque a Alemanha precisa de uma defesa global forte (…) Não se trata de reintroduzir o antigo serviço militar obrigatório, mas sim de um serviço geral e amplamente diversificado que inclua todos os níveis de defesa civil e militar”, defendeu o presidente da associação Patrick Sensburg.
Em declarações à agência Lusa, Sensburg admite que não é apenas o serviço nas Bundeswehr que é relevante para a defesa, mas também, por exemplo, na Agência Federal de Assistência Técnica (THW), nos bombeiros ou nos serviços médicos.
A mudança para um exército totalmente voluntário, há 13 anos, fez com que o número dos militares caísse. Depois das Forças Armadas alemãs terem atingido o pico com quase 500 mil soldados no final da Guerra Fria, o valor caiu para metade em 2010. Os dados mais recentes, relativos a fevereiro deste ano, indicam que as Bundeswehr tenham cerca de 181.811 profissionais.
Dentro do próprio governo alemão, formado pela coligação semáforo (SPD, Verdes e liberais do FDP), as opiniões dividem-se. O debate, que começou no início do ano passado, tem subido de tom acompanhando o crescimento da ameaça russa.
Marie-Agnes Strack-Zimmermann, deputada especialista em defesa do FDP, já defendeu publicamente que vários pontos teriam de ser mudados nas Bundeswehr antes da reintrodução do serviço militar obrigatório: quartéis teriam de ser construídos ou ampliados, seria necessário mais treino, e mais equipamento militar. O preço a pagar também seria alto, avisou, sendo necessários dezenas de milhares de milhões de euros para reavivar o sistema.
No Bundestag, o Parlamento alemão, os liberais argumentam que o serviço militar obrigatório interfere com a autodeterminação das pessoas, e não contribui para a criação de um exército especializado.
Também a comissária militar Eva Högl, do Partido Social Democrata alemão (SPD), a força política do chanceler Olaf Scholz, se manifestou contra o recrutamento obrigatório. Argumenta que reverter a decisão tomada em 2011 não ajuda em nada, já que o país não tem formadores e infraestruturas suficientes.
Patrick Sensburg, presidente da Associação de Reservistas das Forças Armadas Alemãs, pede uma decisão urgente.
“Cada dia que passamos a discutir e a não decidir e a procurar razões para que não funcione, estamos a perder tempo para reconstruir uma defesa global eficaz e credível como elemento dissuasor. Mas não fazer nada acabará por sair ainda mais caro”, sustentou, em declarações à Lusa.
O ministro da Defesa, Boris Pistorius (SPD) está a estudar vários modelos de serviço obrigatório que incluem, por exemplo, a Suécia, onde todos os jovens, mulheres e homens, são examinados e uma parte selecionada recebe ofertas de serviços.
Pistorius quer que a Bundeswehr conte com pelo menos 203 mil soldados até 2031 para que a Alemanha esteja “pronta para a guerra”.