Investigação clínica e medicina de precisão são “apostas críticas” do IPO do Porto

O presidente do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, instituição com 50 anos, destacou a investigação clínica e a medicina de precisão como "apostas críticas" na atração de investimento, na diferenciação de cuidados e na retenção de profissionais.

© Facebook do IPO Porto

“O cancro é uma doença que tem tendência a aumentar (…). Esta é uma área que obriga a um muito maior investimento em conhecimento que nos leve a conhecer melhor a doença e, dessa forma, desenvolver armas terapêuticas para a combater, oferecendo mais anos com qualidade de vida aos doentes”, disse Júlio Oliveira.

No âmbito do 50.º aniversário do IPO do Porto, o presidente de um centro oncológico reconhecido pela Organização Europeia de Institutos de Oncologia (OECI), destacou o empenho deste hospital especializado na integração da investigação no contínuo de cuidados “não de forma esporádica, mas sistemática”.

“Por exemplo, a percentagem de doentes incluídos em ensaios clínicos é uma variável de avaliação da qualidade dos grandes centros que querem ser centros de referência em oncologia”, referiu.

O IPO do Porto tem 481 doentes incluídos em ensaios clínicos e desses 26 são de fase 1.

“Trata-se de permitir que os doentes tenham acesso a novos medicamentos, a novas estratégias terapêuticas. Isto tem impacto na melhoria da organização, na melhoria da do padrão assistencial, e, consequentemente, na melhoria dos resultados em saúde que se obtém”, acrescentou.

Em entrevista à agência Lusa, Júlio Oliveira, que preside ao IPO do Porto desde 2022 e é médico na instituição desde 2007, destacou também a aposta na medicina de precisão em oncologia, uma área que permite que os doentes, adultos e crianças, que atinjam a última linha de tratamento convencional e a partir daí já não disponham de opções convencionais, tenham acesso a tecnologias inovadoras.

“O IPO do Porto desenvolveu o primeiro programa de medicina de precisão em oncologia em Portugal (…). Tenta-se obter uma espécie de bilhete de identidade do tumor, caracterizando-o biologicamente para tentar encontrar fragilidades nesse tumor que possam servir para orientar tratamentos. Isto em contexto de ensaio clínico ou utilizando medicamentos que possam estar disponíveis comercialmente, mas que estão só aprovados para o outro tipo de doença que não aquela que o doente tem”, descreveu.

Este programa envolve profissionais da anatomia patológica, genética humana, oncologia, pediatria, cirurgia, farmacologia clínica, biólogos, farmacêuticos, entre outros.

Cerca de metade dos doentes que estão a ser discutidos num serviço aberto a todo o país são de outros hospitais.

E, 10 a 12% dos doentes discutidos, apresentaram alguma alteração molecular que pode predispor para uma resposta a um tratamento dirigido.

À Lusa, Júlio Oliveira destacou a articulação regular com centros de França e de Espanha, bem como, mais recentemente, da Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca.

À medicina de precisão baseada na caracterização genómica dos tumores, soma-se a aposta na medicina nuclear, na qual se usam radiofármacos para tratar a doença oncológica.

“Isto é uma aposta recente, mas resulta de um trabalho de décadas (…). Vamos precisar de mais investimento para podermos continuar a crescer”, referiu o presidente, destacando que, na semana passada, o IPO do Porto incluiu o primeiro doente a nível mundial num ensaio clínico de fase 1 com um radiofármaco.

“Isto é um feito para o país. É um feito para o IPO do Porto”, resumiu.

Salientando que “não está em causa investigação de bancada”, mas sim “tecnologia usada para benefício do doente”, Júlio Oliveira disse que “mais do que expandir as fronteiras do conhecimento, se está a dar acesso a tecnologias inovadoras aos doentes oncológicos em Portugal” e deixou um alerta.

“Isto só é possível e só faz sentido se houver uma visão de organização no ecossistema de saúde português, essencialmente do SNS”, defendeu.

Ainda a propósito de organização, acesso a cuidados e atração de investimento, Júlio Oliveira contou que vários peritos do IPO do Porto estão a participar, a nível europeu, na elaboração de uma estratégia que visa diminuir as assimetrias no acesso a cuidados oncológicos.

“Em Portugal, essa assimetria de cuidados também se vive. Desde o rastreio que sabemos que a norte está muito mais implementado que a sul, passando pelo diagnóstico e tratamento da doença oncológica (…). O conceito que está a consolidar-se é o conceito de ‘Comprehensive Cancer Care Network’, ou seja, a criação de redes compreensivas de cuidados em oncologia”, descreveu.

Defendendo que “o tratamento da doença oncológica não pode ser visto numa lógica de ilha”, Júlio Oliveira considerou que “o padrão de cuidados a oferecer não deve depender do ponto de entrada no sistema”.

“Isto é mais do que referenciação. Trata-se de certificação. Não pode haver diferença no acesso se entra no hospital de Bragança ou num centro de Castelo Branco ou em algum ponto do Porto, de Lisboa ou de Coimbra (…). Esta pode parecer uma visão um bocado utópica, mas qualquer utopia só é utopia enquanto não tem lugar. E o IPO do Porto tem conseguido vencer muitas utopias”, concluiu.

Organizado em 12 clínicas de patologia, o IPO do Porto atende, por ano, cerca de 10.000 novos doentes, tendo, em seguimento, cerca de 56.000.

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