Menores de 16 anos procuram ajuda na SOS Voz Amiga para alivar a dor e pensamentos suicidas

Menores de 16 anos com problemas emocionais e alguns que manifestam o “desejo de desaparecer” estão a procurar o serviço SOS Voz Amiga, uma situação recente que deixa quem está do outro lado da linha “sem chão”.

© D.R.

O alerta foi feito à agência Lusa pelo presidente da linha de prevenção do suicídio SOS Voz Amiga, Francisco Paulino, no dia em que o serviço completa 46 anos e na véspera do Dia Mundial da Saúde Mental.

Francisco Paulino começou a trabalhar há mais de 25 anos como voluntário nesta linha de apoio, a mais antiga do país, e contou que até à pandemia de covid-19, em 2020, os pedidos de ajuda por problemas de ansiedade, depressão ou transtornos emocionais eram feitos por “pessoas mais velhas” ou jovens adultos, apesar de a linha estar disponível para todas as idades.

Desde 2020, a situação mudou, com adolescentes e pré-adolescentes a entrarem em contacto com o serviço para falar das suas angústias, uma situação que não era usual, tendo em conta que “os jovens não estão muito habituados a usar o telefone”.

“Quem liga nestas idades são, normalmente, filhos de pais separados que são utilizados como arma de arremesso entre os progenitores, o que gera uma confusão emocional enorme nestes jovens que não conseguem a estabilidade necessária para crescerem em harmonia”, descreveu Francisco Paulino.

Também há jovens que são vítimas de ‘bullying’ e que não falam do assunto em casa porque não têm “um ambiente ideal” e na escola têm receio de se queixar aos professores ou ao psicólogo, para não ficarem “ainda mais expostos”.

“Sabemos que a pré-adolescência e a adolescência são fases em que ocorrem várias mudanças físicas e psicológicas e nem todos os jovens conseguem lidar facilmente com essas alterações”, disse Francisco Paulino.

Realçou o “papel importante” dos pais e educadores para os ajudar, com “compreensão e paciência”, a ultrapassar esta fase.

“Mas se os jovens não tiverem abertura em casa para falar destas angústias ou decidirem não falar delas para não preocupar os pais, isolam-se e vão acumulando ansiedade e baixa autoestima, o que pode torná-los em alvos fáceis de ‘bullying’ e aumentar o transtorno emocional destes jovens”, alertou.

Para Francisco Paulino, o mais preocupante é alguns jovens dizerem que querem desistir de viver, o que causa “preocupação, frustração e sentimento de impotência” nos voluntários, cuja vontade é “sair dali e ir ter com o jovem”, mas a confidencialidade e o anonimato a que são obrigados não o permite.

“Se fosse apenas o relato das dificuldades que estão a atravessar é natural, porque a adolescência e a pré-adolescência são fases em que qualquer problema ganha uma dimensão maior, mas quando nos dizem ‘estou farto da vida’, ‘a minha vontade era desaparecer’, isto deixa-nos sem chão”, confessou.

O número de chamadas feitas por estas crianças e adolescentes representa cerca de 5% das cerca de 900 recebidas na linha mensalmente, mas o responsável disse que em conversas com pais, educadores e professores tem tido relatos “de situações já preocupantes”, o que o leva a dizer que o chega à SOS Voz Amiga é apenas “a ponta do icebergue”.

Contactado pela Lusa, João Marques, coordenador regional de Lisboa e vale do Tejo do “Mais Contigo”, um projeto de promoção de saúde mental e prevenção de comportamentos suicidários na comunidade educativa, disse não ter ficado surpreendido com o alerta do SOS Voz Amiga.

O especialista em saúde mental e psiquiátrica da Unidade Local de Saúde São José, em Lisboa, disse não “conseguir explicar propriamente o fenómeno”, mas adiantou que há dois anos fez um estudo que pretendeu saber a quem os adolescentes recorreriam se precisassem de ajuda.

“É muito interessante que os adolescentes já nessa altura falavam sobre as linhas de apoio como um importante recurso de ajuda”, salientou.

No projeto também são divulgadas, em alguns contextos, as linhas de apoio como recurso de ajuda, disse João Marques, assinalando ainda o “cuidado acrescido” da comunicação social de publicar no fim das notícias os serviços de apoio, conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde, quando escrevem sobre estas temáticas.

“Provavelmente, todas estas questões em conjunto e a sensibilização para a temática da saúde mental e para a possibilidade de ajuda têm feito com que (…) os jovens se sintam com vontade de usar estes recursos e esta ajuda”, comentou.

Contactos de apoio e prevenção do suicídio:

SNS 24 – 808242424

SOS Voz Amiga – 213544545, 912802669, 963524660

Conversa Amiga – 808237327, 210027159

SOS Estudante – 915246060, 969554545, 239484020

Últimas do País

A PSP apreendeu hoje várias armas na Figueira da Foz, que se suspeita que eram usadas por um homem para causar medo à sua companheira, afirmou o Comando Distrital.
Trinta médicos da urgência geral do Hospital Amadora-Sintra alertaram esta sexta-feira para a “situação insustentável” desse serviço, alegando escalas deficitárias que não cumprem os rácios de segurança, avançou o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS).
A greve nacional dos peritos forenses da Polícia Judiciária (PJ) que hoje decorre regista uma adesão a rondar os 80%, segundo o sindicato, que reivindica uma carreira própria e acusa a direção nacional de subalternizar estes profissionais.
A Metro do Porto vai expropriar uma área com arbustos e ocupar temporariamente espaço junto a lojas num troço da Rua de Júlio Dinis junto à Praça da Galiza, no âmbito da construção da Linha Rosa, foi hoje divulgado.
Dois serviços de urgência de obstetrícia e ginecologia e um de urgência pediátrica vão estar encerrados no sábado, enquanto no domingo estarão fechadas quatro urgências obstétricas, segundo o Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O presidente do Supremo Tribunal de Justiça elogiou hoje a iniciativa de juntar no parlamento os principais agentes da justiça, para fazer "a ação acontecer", e considerou que os sistemas digitais nesta área estão obsoletos.
Portugal está preparado para responder a eventuais emergências causadas por doenças transmitidas por mosquitos e carraças, afirmou hoje o presidente do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, instituição que passou a coordenar oficialmente a Rede de Vigilância de Vetores.
A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez revelou hoje que a Polícia Judiciária (PJ) realizou na terça-feira buscas no quartel, em particular nos equipamentos informáticos da corporação, e que não há arguidos constituídos.
A Polícia Judiciária pediu hoje ajuda à população da Grande Lisboa com informações que permitam encontrar os pais de um bebé encontrado morto em agosto de 2024 numa empresa de tratamento de resíduos sólidos em Cascais.
Um homem de 39 anos e uma mulher de 31 foram detidos no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, por suspeita de tráfico de droga, informou hoje a Polícia Judiciária (PJ).