ONU avança para negociações em torno de convenção sobre crimes contra a humanidade

Os Estados-membros das Nações Unidas (ONU) adotaram hoje por consenso uma resolução que visa dar início a negociações formais para a criação de uma convenção sobre crimes contra a humanidade.

© Facebook da United Nations

A adoção foi alcançada numa sessão da Sexta Comissão da Assembleia-Geral da ONU, presidida pelo embaixador português junto às Nações Unidas, Rui Vinhas, e que foi marcada por vários períodos de negociação, após vários entraves levantados pela Rússia.

Depois de extensas consultas e discussões informais, foi tomada uma decisão que permitiu a convocação de uma conferência diplomática destinada a elaborar uma convenção sobre crimes contra a humanidade na sede das Nações Unidas, a ter lugar em Nova Iorque, em 2028 e 2029.

Após a adoção por consenso, que foi aplaudida pela generalidade dos diplomatas presentes na votação, a República Checa criticou as “negociações de má-fé por parte da Rússia”, enquanto o Reino Unido destacou tratar-se de um “dia histórico para a prevenção e punição de crimes contra a humanidade”.

“Os Estados Unidos aplaudem a 6.ª Comissão por finalmente decidir por consenso lançar um processo para negociar e concluir uma convenção sobre a prevenção e punição de crimes contra a humanidade. Este é um marco histórico na luta contra a impunidade por crimes de atrocidade”, celebrou Washington.

A Lusa confirmou com a Missão de Portugal junto à ONU que “foi a primeira vez, em cerca de 20 anos, que a Sexta Comissão (jurídica) tomou uma decisão rumo a negociar e adotar uma convenção internacional”.

Sob a presidência de Portugal, fê-lo relativamente a dois assuntos: Proteção de Pessoas em Situação de Desastres e Crimes contra a Humanidade.

Nas últimas semanas, organizações não-governamentais (ONG), como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, vinham apelando aos Estados-membros para que aprovassem a resolução.

“Ao contrário de outros crimes de direito internacional, como o genocídio e os crimes de guerra, não existe atualmente uma convenção específica e autónoma para os crimes contra a humanidade”, alertou a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnes Callamard, num comunicado divulgado no mês passado.

“Uma convenção sobre crimes contra a humanidade tornaria muito mais difícil para os perpetradores escapar à justiça”, defendeu Agnès Callamard, argumentando que tal passo iria reduzir “enormemente os refúgios seguros de investigação e acusação para os perpetradores”.

De acordo com a Human Rights Watch, a falta de um tratado deixa uma “lacuna gritante”, especificando que crimes contra a humanidade são atos de assassínio, violação, tortura, mutilação, desaparecimento e outras ofensas flagrantes cometidas de forma generalizada ou sistemática contra civis como parte de um plano ou política de um Governo ou organização.

Embora o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) proíba de facto os crimes contra a humanidade ao abrigo do direito internacional, uma convenção sobre crimes contra a humanidade, que seria aplicada pelos Estados, reforçaria e fortaleceria o quadro geral da justiça internacional, incluindo o do TPI, defendeu ainda a Amnistia Internacional.

Uma convenção sobre crimes contra a humanidade permitirá punir também, exemplificou Agnes Callamard, “crimes baseados no género, que têm recebido muito pouca atenção internacional, como o ‘apartheid’ de género, o casamento forçado e o aborto forçado”.

“Os crimes contra a humanidade são um fenómeno mundial”, alertou ainda a Amnistia Internacional, lembrando que, só nos últimos 10 anos, encontrou provas de tais crimes em pelo menos 18 países de todo o planeta.

“Nenhuma região do mundo está livre destas atrocidades” e situações recentes em países como Afeganistão, China, Etiópia, Irão, Israel e os Territórios Palestinianos Ocupados, Myanmar (antiga Birmânia), Nicarágua, Filipinas, Síria, Ucrânia e Venezuela “servem de lembrete constante para a necessidade urgente de reforçar o sistema de justiça internacional”, concluiu a secretária-geral da Amnistia Internacional ainda antes da aprovação da resolução.

Últimas do Mundo

O número global de vítimas de tráfico humano voltou a aumentar (25%), após recuar durante a pandemia de Covid-19, com mulheres e meninas a continuarem em maioria, indicou hoje o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Três jovens suspeitos de serem jihadistas foram detidos no passado domingo no sudoeste da Alemanha por alegadamente estarem a preparar um atentado, disse hoje o Ministério Publico Federal e a Polícia local.
O Conselho da União Europeia (UE) aprovou hoje um pagamento de 4,2 mil milhões de euros ao abrigo da Mecanismo para a Ucrânia para apoiar a estabilidade macrofinanceira, por considerar que o país "satisfez condições e reformas necessárias".
Uma explosão numa refinaria da empresa petrolífera ENI em Calenzano, perto de Florença, norte de Itália, provocou pelo menos dois mortos e oito feridos, anunciaram hoje as autoridades locais, que estão a avaliar os efeitos poluentes do incidente.
O Presidente deposto sírio Bachar al-Assad e a sua família estão em Moscovo, segundo agências de notícias russas, citadas pela AFP.
A missa voltou a ouvir-se hoje na catedral Notre-Dame de Paris quebrando o ‘silêncio’ de mais de cinco anos imposto pelo incêndio que devastou o local em abril de 2019.
Centenas de refugiados sírios residentes no Líbano atravessaram hoje a fronteira de regresso ao seu país, poucas horas depois de ter sido expulso o presidente Bashar al-Assad e encerrando cinco décadas de governo do Partido Baath.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse hoje que 43 mil soldados ucranianos foram mortos e 370 mil ficaram feridos desde o início do conflito com a Rússia, há quase três anos.
O presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abbas, declarou, em entrevista à agência Lusa, que a Palestina está pronta para realizar eleições “imediatamente e sem demoras”, se Israel permitir a votação em Jerusalém Oriental e noutros territórios ocupados.
Grupos rebeldes anunciaram hoje, num discurso na televisão pública síria, a queda do 'tirano' Bashar al-Assad, garantindo que libertaram todos os prisioneiros detidos 'injustamente' e apelando aos cidadãos e combatentes que preservem as propriedades do Estado.