“Estamos muito interessados em realizar as eleições gerais o mais rapidamente possível, pelo que emitimos um decreto presidencial fixando a data, mas as autoridades de ocupação israelitas rejeitaram todas as exigências da comunidade internacional para as realizar em Jerusalém Oriental, tal como aconteceu em todas as eleições anteriores”, afirmou Mahmoud Abbas, na entrevista à Lusa, concedida por escrito.
As últimas eleições gerais na Palestina estiveram agendadas para 2021, mas foram então adiadas por tempo indeterminado pelo líder da ANP, argumentando com a recusa das autoridades israelitas em permitir a sua realização em Jerusalém Oriental, motivando protestos do grupo radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e adversário da Fatah de Abbas, que, por sua vez, governa a Cisjordânia.
“Informámos todas as partes internacionais da necessidade de pressionar as autoridades de ocupação para nos permitirem realizar as eleições em Jerusalém Oriental, como no resto dos territórios palestinianos e, se se nos for permitido fazê-lo, estamos prontos a realizá-las imediatamente e sem demoras”, destacou o presidente da ANP desde 2005, quando sucedeu ao dirigente histórico Yasser Arafat.
O líder de 89 anos da ANP e da Fatah observou que “o sistema político da Autoridade Palestiniana permite que todos participem e apresentem a sua visão política ao povo palestiniano através das eleições” e comprometeu-se a que as urnas determinem o vencedor “com base no desejo do seu povo”.
Por outro lado, a propósito de uma futura administração da Faixa de Gaza, sustentou que o enclave atualmente em guerra ”é parte integrante do território do Estado da Palestina e cai dentro das suas obrigações e responsabilidades diretas, em conformidade com o direito internacional”.
O líder da ANP destacou que, desde o primeiro dia da ofensiva militar em grande escala de Israel na Faixa de Gaza, em 07 de outubro do ano passado, que esse direito é reivindicado pelo seu executivo e foi confirmado entretanto pelo Conselho de Segurança da ONU, não só em relação ao enclave como também ao resto dos territórios palestinianos ocupados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, exigindo a retirada israelita completa.
Abbas recordou a propósito que “o Governo Palestiniano paga mensalmente os salários dos médicos, professores, funcionários e as contas de eletricidade e água de toda a Faixa de Gaza, além de prestar assistência social a mais de 300.000 casos sociais”.
A Faixa de Gaza tem sido devastada por bombardeamentos intensivos de Israel há mais de um ano, que já provocaram mais de 44 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais do Hamas, numa operação de retaliação ao ataque sem precedentes do grupo armado xiita em solo israelita, onde cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 250 levadas como reféns.
Os esforços negociais de cessar-fogo entre Israel e o Hamas têm sido infrutíferos e a gestão do território num cenário pós-guerra permanece desconhecida, com o presidente da ANP a alertar que “todas as resoluções de legitimidade internacional confirmam que a visão de uma solução de dois Estados baseada no direito internacional é a base correta para alcançar a paz e a estabilidade na região”.
Nesse sentido, Mahmoud Abbas sustentou que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), “o único representante legítimo do povo palestiniano”, procedeu à assinatura dos acordos com Israel em 1993”, que deram origem à ANP, mas que os sucessivos governos israelitas “seguiram políticas que minam a solução de dois Estados” como base de um entendimento.
Além disso, acusa Israel de “renunciar à implementação das obrigações nos acordos sob os auspícios da comunidade internacional, especialmente as Nações Unidas, os Estados Unidos da América, a Federação Russa e outros países do mundo”, pelo que “não há necessidade de novas plataformas ou acordos”, mas a implementação do que já foi decidido.
“Sempre afirmámos a nossa adesão à opção da paz e à realização de esforços políticos, diplomáticos e jurídicos como forma de obter os nossos direitos legítimos, entre os quais o principal é o nosso direito à liberdade e à independência”, declarou.
A guerra na Faixa de Gaza conduziu a uma espiral de violência no Médio Oriente, que se estendeu à Cisjordânia e ao vizinho Líbano e atraiu o envolvimento de outros atores internacionais, como o Irão, e o presidente da ANP avisa que a resolução da questão da Palestina “é a única garantia de a região não voltar a explodir novamente.