A falta de indústria em Coimbra é algo indissociável à falta de oferta de emprego, à falta núcleos geradores de riqueza e consequentemente da debanda da população ativa para fora desta outrora terceira cidade do país.
A falta de empresas industriais que possam efetivamente criar emprego e riqueza na cidade é causa de vários fatores os quais devemos ter em atenção e analisar para que possamos dar nova vida a esta cidade que atualmente, tirando a “Queima das Fitas” e a ”Latada”, se encontra moribunda, exceptuando-se as cada vez mais comuns notícias de falta de segurança, da constante onda de assaltos e do fecho de lojas de comércio de toda a baixa, que há anos atrás fervilhava de gente e de lucrativo comércio.
Historicamente a cidade desenvolveu-se numa espécie de centro administrativo e universitário, tendo como tónica o setor terciário de serviços como sejam os hospitais, que diga-se de passagem, teimam em encerrar ou diminuir significativamente os serviços para a população, enviando todos os utentes para o HUC e teimando em encerrar o serviço de urgência do Hospital dos Covões…
Esta tendência histórica de “glorificar” os hospitais e a universidade, influenciaram sobremaneira o desenvolvimento económico da região, levando ao afastamento das indústrias e ao desenvolvimento neste setor. Já lá vai o tempo em que apenas Lisboa, Porto e Coimbra, possuíam escolas superiores e universidades, e uma espécie de oligarquia conimbricense, ainda hoje ostenta na sua cabeça que Coimbra é uma lição… Já foi! Hoje em dia, a vida académica que prolifera por muitas cidades do país deixa tal como Coimbra, momentos de saudade dentro que quem lá estuda ou estudou, e este sentimento deixou de ser um exclusivo da cidade de Coimbra, já nem a Académica tem o valor que tinha noutros tempos, veja-se o lugar em que a equipa de futebol milita atualmente na Liga 3, antiga Terceira Divisão. Ao ponto que a minha Coimbra chegou…
Coimbra teve no passado algumas indústrias importantes como as Fábricas Triunfo, a Fiação de Algodões de Coimbra, a Mondorel, a Fábrica dos Linhos, a Fábrica da Cerveja, o Matadouro Municipal, a Jaime Dias, a Termec, a Real Cerâmica, a Lufapo e tantas outras que se tornaria exaustivo continuar, foram em tempos grandes empregadores e reais formas de criação de riqueza na cidade, algumas por má gestão, outras devido à falta de modernização e até de mão de obra especializada – fruto da tal tradição doentia que ainda hoje esta cidade padece, bem como a concorrência de industrias recém criadas em municípios que tiveram uma visão voltada para a atração de investimento privado, terminaram numa decadência tal que deixaram um completo vazio no tecido industrial da cidade.
Também a escassez de espaços industriais capazes com áreas generosas e dotados das infraestruturas necessárias à fixação de grandes indústrias é um dos principais obstáculos e, por conseguinte, mais um enorme contribuidor para a falta de indústria na cidade. O atual executivo, tem alienado os últimos espaços disponíveis nas zonas indústrias que possui, a empresas de comércio e serviços e até de “simples” armazéns, esquecendo que esses mesmos espaços deveriam ter sido alienados por empresas industriais e não para servirem de local de centros de negócios onde proliferam com cogumelos os “hiperchinas”, os “hipersofás”, os “hiperarmazéns”, etc… Não que não sejam úteis à cidade e aos seus munícipes, mas que deveriam ter sido instalados em locais que não Zonas Industriais – essas são ou deveriam ser zonas exclusivas para a instalação de indústrias.
Não posso concordar com o que alguns advogam ao dizerem que a situação geográfica e a fata de infraestruturas rodoviárias sejam um dos entraves para a instalação de indústria na cidade, pois a A1 está ali a dois passos e a mesma conecta à A25 para o Porto de Aveiro, para o interior e para a europa, bem como liga o Porto a Lisboa e a A14 ao porto da Figueira da Foz. Pena é os anteriores e atual executivo se terem esquecido de exigir à tutela a conclusão do IC6 com ligação de Tábua a Oliveira do Hospital, Seia e Covilhã. Este IC6 termina de forma abrupta e vergonhosa em Tábua, fazendo desta forma com que o tecido empresarial dos concelhos de Tábua e Oliveira do Hospital, pois Coimbra não é apenas a cidade, mas sim todo o distrito, se vejam a braços com a falta desta importante infraestrutura inacabada desde 2010! Sim, leram bem 2010 – 15 anos de paragem de um importante eixo rodoviário!
Términus do IC6 em Tábua
Embora Coimbra tenha uma forte ligação à universidade, a ligação entre a mesma e o tecido empresarial tem de ser fortalecido, mas não apenas com startups ou ninhos de empresas que não passam de microempresas no que toca a empregabilidade dos munícipes e dos próprios técnicos formados na universidade. Existem microempresas maioritariamente de serviços no Instituto Pedro Nunes a laborar dentro do espaço há mais de 10 anos sendo que se trata de uma incubadora de empresas, não pode deixar estar tanto tempo a usufruir deste espaço as mesmas start-ups que apesar de considerável volume de faturação continuam a ser por esta entidade start-ups… curiosamente esta instituição que de instituto nada tem, a não ser o nome, trata-se de uma “instituição privada sem fins lucrativos” e recebe do município 80.000 euros por ano! Não posso deixar de referir que dentro dos órgãos associativos deste “instituto” um dos diretores é o ex-reitor da Universidade de Coimbra e simultaneamente irmão do atual presidente da Câmara Municipal de Coimbra e que o Presidente da Mesa da A. G. é o atual vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
A falta de investimento na indústria deve-se também e talvez seja este um dos maiores entraves, à concorrência de outras regiões que oferecem melhores condições para a fixação da indústria, como seja incentivos fiscais atrativos, infraestruturas adequadas e só estas duas condicionantes, que diga-se, são fáceis de resolver desde que haja vontade do executivo, são porventura dois enormes entraves à fixação das empresas.
Como comecei por dizer, a mentalidade e a cultura empresarial de Coimbra, influenciada pelas mentes universitárias e pela tacanha forma de gerir a cidade dos vários executivos que por ela passaram, colocam uma maior ênfase nos serviços e no setor público e é necessário promover uma cultura mais empreendedora e favorável à criação ou à atratividade para novas empresas industriais.
Como consequências da falta de indústria, sendo que a cidade está dependente do setor dos serviços, a economia da cidade torna-se demasiado vulnerável às crises económicas no setor dos serviços, à falta de diversidade económica que limita e fortemente as oportunidades de emprego e o desenvolvimento da região bem como a fuga de talentos para outras regiões que possuem uma oferta diversificada de emprego.
A cidade não pode continuar a viver apenas de escolas, da universidade e de hospitais, as gentes de Coimbra querem ver a cidade com vastas e variadas ofertas de emprego que não seja apenas nos setores que referi ou nas caixas de hipermercados, as gentes de Coimbra querem ver industrias onde possam trabalhar, locais de trabalho que não exijam apenas e só jovens com cursos superiores, mas sim acessíveis aos jovens que possuem cursos tecnológicos e onde possam desenvolver as habilidades que aprenderam sem ter de debandar para outros municípios.
As soluções para este grave problema, passa por desenvolver espaços industriais dotados de infraestruturas adequadas a grandes indústrias, pela criação de gabinetes de apoio ao investimento aproveitando os fundos do PRR de forma inteligente e que permitam atingir metas de sucesso, pela forte promoção da formação profissional para termos uma mão-de-obra ainda mais qualificada, valorizando de forma real e efetiva os jovens que por esta via enveredarem, pela promoção de Coimbra como um destino atrativo para o investimento industrial com incentivos fiscais e isenção da derrama, da venda de terrenos industriais a preços que não sejam pornográficos, com o contacto direto com empresas internacionais no sentido de oferecer a região de forma atrativa e com o desenvolvimento de clusters industriais em áreas específicas criando sinergias bem concertadas entre diversas empresas.
A proximidade das suas escolas superiores e universidades, deve ser um dos pontos de atração para empresas de tecnologia avançada e essa vantagem deve ser cabalmente apresentada aos possíveis investidores.
A desburocratização e a eficiência dos serviços prestados pela autarquia, como seja a simplificação e rapidez dos processos de licenciamento tem de ser uma prioridade, a criação de um balcão único para empresas e de uma equipa forte, coesa e bem direcionada é crucial para “apanhar o comboio” há tanto tempo perdido pelos vários executivos.
Em suma, a falta de indústria em Coimbra é um problema que exige investimento em infraestruturas, inovação na gestão de espaços e na promoção da cidade nos mercados internacionais para que seja ciado um ambiente favorável e atrativo à fixação das empresas e à consequente diversificação económica que se deseja.
A criação de zonas industriais com boas ligações de transportes é fundamental para colocar de novo esta cidade no lugar que merece, as gentes de Coimbra merecem isso.
Coimbra tem uma boa qualidade de vida se retirarmos o caos atual do trânsito, não só nas várias entradas da cidade, mas também no centro, fruto das obras para a via dedicada ao autocarro elétrico – jamais lhe chamarei metro… o custo de vida em Coimbra face a outras cidades Portuguesas, não se pode considerar excessivamente caro – estes aspetos têm de ser levados em conta quando se trata de promover a cidade como sendo uma cidade atrativa para a fixação da indústria.
Mesmo na área do turismo, Coimbra não tem conseguido atrair pouco mais que as visita ao Portugal dos Pequenitos, deixando de fora todo o património da alta da cidade, deixando a atividade hoteleira à mercê dos dias em que se promovem concertos no estádio ou aos dias de Latada ou Queima das Fitas.
A promoção da cidade não pode assentar na máxima que este executivo passa incessantemente: “Coimbra the right place to be”, pois segundo William Shakespeare “to be or not to be…” e da forma que vejo este executivo tratar a minha cidade, parece-me mais o “…not to be”.
Estou certo de que com um executivo novo, sem vícios, sem jogos de bastidores, sem ideologias arcaicas e com gente motivada, Coimbra poderá tornar-se um polo atrativo para que empresas de indústria para ela se fixem e contribuírem dessa forma para um desenvolvimento económico e social que faz com que os seus habitantes se sintam bem e onde a economia possa fluir.