Traficantes de imigrantes usam TikTok para divulgar trabalho

Com as vias legais para chegar aos Estados Unidos cortadas, os grupos criminosos estão a lucrar com o contrabando de migrantes e redes sociais como o TikTok tornaram-se uma ferramenta essencial de divulgação.

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Os vídeos divulgados oferecem uma visão rara de uma indústria que há muito que ‘vende’ ilusões e das narrativas utilizadas pelas redes de tráfico para alimentar a migração para o norte.

À medida que o presidente dos EUA Donald Trump começa a intensificar a repressão na fronteira e os níveis de migração para os EUA diminuem, os contrabandistas dizem que as novas tecnologias permitem que as redes sejam mais ágeis perante os desafios e expandam o seu alcance a novos clientes.

“Nesta linha de trabalho, é preciso mudar de tática. O TikTok chega a todo o mundo”, contou uma mulher chamada Soary, parte de uma rede de contrabando que leva migrantes de Ciudad Juarez para El Paso, no Texas, que falou à agência Associated Press (AP) sob a condição de que o seu apelido não fosse partilhado por temer que as autoridades a localizassem.

Soary, de 24 anos, começou a trabalhar no contrabando quando tinha 19 anos, a viver em El Paso, onde foi abordada por uma amiga sobre um emprego. Apesar dos riscos envolvidos no trabalho com organizações de tráfico de pessoas, Soary contou que, como mãe solteira, ganha mais do que no seu emprego anterior, a colocar extensões de cabelo.

Como muitos contrabandistas, Soary gravava vídeos de migrantes a falar para a câmara depois de atravessar a fronteira para enviar pelo WhatsApp como prova aos familiares de que chegaram ao seu destino em segurança. Atualmente, publica esses clips de vídeo no TikTok.

O TikTok garante que a plataforma proíbe estritamente o tráfico de pessoas e denuncia este tipo de conteúdo às autoridades policiais.

O uso das redes sociais para facilitar a migração arrancou por volta de 2017 e 2018, quando os ativistas criaram grandes grupos no WhatsApp para coordenar as primeiras grandes caravanas de migrantes que viajavam da América Central para os EUA, de acordo com Guadalupe Correa-Cabrera, professora da Universidade George Mason focada na indústria do contrabando de migrantes.

Mais tarde, os contrabandistas começaram a infiltrar-se nestes grupos e a utilizar a aplicação de redes sociais mais popular da época, expandindo-se para o Facebook e o Instagram.

Os migrantes começaram também a documentar as suas viagens, muitas vezes perigosas, em direção a norte, publicando vídeos de caminhadas pelas selvas do Darien Gap, que divide a Colômbia e o Panamá, e depois de serem libertados por cartéis extorsionários.

Um estudo de 2023 das Nações Unidas reportou que 64% dos migrantes inquiridos tinham acesso a um smartphone e à Internet durante a sua migração para os EUA.

Na altura do lançamento do estudo, quando o uso da aplicação começou a aumentar, Correa-Cabrera disse que começou a ver anúncios de contrabando a disparar no TikTok.

“É uma estratégia de marketing. Toda a gente estava no TikTok, principalmente depois da pandemia [de covid-19, e depois começou a multiplicar-se”, frisou Correa-Cabrera.

Centenas de vídeos examinados pela AP mostram maços grossos de dinheiro, pessoas a atravessar a vedação fronteiriça à noite, helicópteros e aviões alegadamente utilizados por contrabandistas de pessoas conhecidas como coiotes e até contrabandistas a abrir catos no deserto para os migrantes beberem.

As narrativas mudam com base no ambiente político e nas políticas de imigração nos EUA. Durante a administração do democrata Joe Biden, as publicações anunciavam que os migrantes teriam acesso aos pedidos de asilo através de uma aplicação do Governo, que Trump encerrou.

Perante a política de repressão do republicano Donald Trump, as publicações visam dissipar os receios de que os migrantes serão capturados, prometendo que as autoridades norte-americanas foram pagas.

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