“Quando a PATA abriu em 2021, em 15 dias ficou cheia. Passámos de umas jaulinhas no CRA [Centro de Recolha Animal] para uma quantidade muito maior. Aumentar o número de jaulas ajuda um bocadinho na gestão do alojamento, mas não resolve o problema nem aqui nem em outros canis”, descreve a médica veterinária Daniela Barbosa.
Atualmente, a PATA tem mais de 150 animais adultos e seniores à espera de uma adoção que os responsáveis desejam que seja “consciente e responsável” porque nesta plataforma – onde até já morou um porco vietnamita que foi abandonado nos jardins do Gaia Shopping e encontrou lar com uma família que vive numa quinta – existem muitas histórias felizes, mas também tristes.
“O problema [da lotação] tem de ser resolvido junto da população na sensibilização sobre a esterilização dos animais, o controlo populacional, e o abandono (…). Insistimos muito na ideia de que as adoções têm de ser conscientes e responsáveis. A decisão de ter um animal não pode ser leviana”, defende a veterinária.
É por ter esta filosofia que a PATA não permite visitas vulgares ao canil, nem faz campanhas de adoção em julho, agosto e dezembro, períodos associados a férias e festas.
“Os animais não são um presente”, diz a veterinária que, quando ouve frases como “eu vinha só para ver”, responde “meio a brincar”: “Isto não é um jardim zoológico”.
Na PATA, as visitas para adoção são planeadas, ou seja, quem chegar às instalações para adotar um animal é convidado a regressar no dia seguinte e, no caso dos cães, a preencher um questionário que ajuda a equipa a pré-selecionar os candidatos ao novo lar.
“Esse tempo de espera, mesmo que seja de 24 horas, é o tempo suficiente para as pessoas caírem na realidade. Quem quer, vem e, quem está na dúvida, não vem. Assim, conseguimos que a taxa de sucesso seja muito superior ao que era anteriormente”, explica Daniela Barbosa.
Procedimentos à parte, no “grande dia”, a família que deseja levar um gato para casa convive com os felinos, quer os saudáveis, quer os que têm imunodeficiência felina, numa sala de socialização onde estes são diariamente soltos
No caso dos cães, através do questionário pré-adoção a equipa “estuda” a família, se tem crianças se não tem, se tem idosos ou não, se o novo lar é uma casa ou um apartamento, se procuram um cão adulto ou um cão bebé, e o auditório da PATA serve de sala de socialização, sendo apresentados três ou quatro animais.
“Normalmente, o primeiro conquista a família”, conta a veterinária.
A PATA tem cerca de 36 mil metros quadrados. O investimento municipal no espaço rondou os 1,3 milhões de euros.
Em 2020, ainda no CRA, foram adotados 165 cães e 91 gatos. No primeiro do ano do PATA 145 cães e 121 gatos e, no ano passado, foram 146 os cães adotados e 225 os gatos.
O município de Gaia oferece vacinação, identificação eletrónica e desparasitação/esterilização.
O período de adaptação após adoção é de 20 dias, ou seja, nesse período, a família pode devolver o animal. Após esse prazo, é cobrada uma taxa de devolução “simbólica”.
“Claro que preferimos que devolvam o animal e este não seja maltratado ou abandonado. Mas essa família não adota mais aqui”, aponta Daniela Barbosa.
Dourado, um cão sem raça – “difícil de trabalhar porque, por ter sido assilvestrado de matilha, ainda que não tivesse comportamentos agressivos, retraía-se” – é uma das histórias felizes recentes da PATA. Chegou a Avintes com pouco mais de 1 ano e ali permaneceu durante 10 anos. Foi adotado no final de março por uma pessoa que resgata animais dos mais antigos ou dos mais idosos, para lhes poder dar um resto de vida digno e confortável.
Já o Kiwi (8 anos), um gato “muito peculiar e muito sociável que se tornou a mascote da parte clínica” e que terá ficado sem cauda na rua, arrancada por um cão ou presa em algum sítio, “apaixonou” uma família que o quis levar para casa e garantiu que nunca o devolveria.
“Aos 23 ou 24 dias, voltaram. ‘O gato mia muito’. ‘O gato esconde-se’. ‘Não sentimos ligação com este gato’. Eu engoli e disse ‘nem este, nem outro. É um gato, um gato mia’. As pessoas querem as coisas resolvidas numa semana e não é assim. São animais e os animais têm de ser respeitados no tempo e no espaço”, conta a veterinária.
Sobre o abandono, há dois anos na PATA, e com experiência numa clínica privada dedicada a animais de companhia, Daniela Barbosa acredita que o verão já foi mais crítico. Atualmente, assiste mais a situações de pessoas que vão trabalhar para fora e, só no dia anterior à viagem, decidem entregar o animal. Também recebe pedidos de famílias onde um familiar com animais morre.
“Não podemos aceitar. A nossa prioridade são os animais que estão feridos na via pública, os animais que não têm um dono, um detentor. Não podemos priorizar animais com detentores. Esses têm uma família anexa. Esse animal faz parte de uma herança. É da responsabilidade dessas pessoas arranjar uma solução e não olhar para o canil como um local para o deixar”, explica.
Somam-se situações relacionadas com síndrome de Noé (acumulação), pessoas que negligenciam os animais, porque deixam de ter noção que lhes falta a capacidade de cuidado.
“E já apareceram ninhadas de gatos, gatos adultos dentro de uma transportadora ou cães adultos presos ao poste de eletricidade no exterior das instalações. E já atiraram cães pela parte mais baixa do muro”, acrescenta.
Com cerca de 20 pessoas desde médicos e enfermeiros veterinários, ao secretariado e receção, auxiliares de veterinária e tratadores, a PATA trabalha diariamente em colaboração com a Polícia Municipal e com o Batalhão de Sapadores de Bombeiros de Vila Nova de Gaia.
No sábado, o quarto aniversário será assinalado com uma “Cãominhada”, iniciativa marcada para as 10:00 no Parque São Paio. A inscrição é um donativo de alimentos e bens essenciais destinada a apoiar associações do município.