Nos últimos anos, um fenómeno inquietante tem ganho terreno nas grandes cidades: a ocupação ilegal de imóveis. O que antes era visto como uma violação clara do direito à propriedade privada, hoje é romantizado e até defendido por certos setores da esquerda política, que tentam transformar infratores em vítimas do sistema.
Chamam-lhes “ocupas”, mas o nome mais justo seria parasitas do imobiliário. Instalam-se em casas que não lhes pertencem, beneficiam-se do esforço e investimento de outros e, quando finalmente são confrontados pela lei, fazem-se de mártires de uma causa social. É uma inversão completa de valores: quem trabalha, poupa e investe é tratado como vilão; quem invade, danifica e se apropria indevidamente é retratado como um herói da resistência urbana.
É evidente que Portugal enfrenta um problema real de habitação. O custo das rendas disparou, e as novas gerações têm cada vez mais dificuldade em encontrar uma casa digna. Mas nada — absolutamente nada — justifica que a solução passe por atropelar o direito de propriedade. A ocupação ilegal não resolve a crise habitacional; apenas a agrava, gerando insegurança jurídica, desvalorizando bairros e afastando investidores que poderiam construir mais habitação.
A esquerda radical, em vez de propor políticas sérias — como a liberalização do solo, incentivos à construção ou parcerias público-privadas eficientes — prefere o caminho fácil da demagogia. Defende os ocupas como “excluídos do sistema”, mas ignora que a sua atuação mina precisamente as bases desse sistema: o respeito pela lei, pela propriedade e pela responsabilidade individual.
É esta a grande contradição do discurso socialista moderno: ao tentar proteger os “oprimidos”, acaba por punir quem produz, quem arrisca e quem cria valor. E, como em tantas outras áreas, o resultado é previsível — menos confiança, menos investimento e, no fim, ainda menos habitação disponível.
Proteger o direito à habitação não é o mesmo que destruir o direito de propriedade. É possível — e necessário — garantir ambos. O Estado deve apoiar os mais vulneráveis, mas através de políticas transparentes, de habitação social bem gerida e de incentivos à oferta privada. O que não pode é legitimar a apropriação alheia como se fosse um ato de justiça social.
Enquanto continuarmos a tolerar os parasitas do imobiliário, estaremos a corroer as fundações do Estado de Direito. E uma sociedade que já não distingue entre o que é de todos e o que é de cada um, e assim, cedo deixará de ser livre.