Este número, afirmou a Unicef em comunicado, é equivalente à população total de Espanha, Alemanha e Reino Unido juntos.
Estes locais “necessitam de um financiamento maior no próximo ano”, alertou a organização, afirmando que estas crianças “vivem um inferno na terra”.
“Mais de 200 milhões de crianças estão a sofrer no meio da violência, da fome, das crises climáticas e do colapso de serviços essenciais. Não têm o que comer, não conseguem ir à escola há meses, são obrigadas a fugir de casa apenas com a roupa que têm no corpo, ou são mortas, mutiladas, violadas e exploradas”, alertou José María Vera, diretor executivo da Unicef Espanha.
Neste sentido, advertiu que os cortes no financiamento “estão a obrigar as organizações internacionais de ajuda humanitária, como a Unicef, a tomar decisões impossíveis, como concentrar a ajuda em crianças de algumas partes do mundo, em detrimento de outras, ou reduzir a frequência com que recebem fornecimentos e serviços”.
“Os programas de nutrição da Unicef receberam apenas 28% do financiamento necessário para 2025. O que é que isto significa? Significa que tivemos de limitar as nossas intervenções a 20 países prioritários. E o que é que isto representa na prática? Significa que ‘apenas’ conseguimos ajudar 27 milhões de crianças e mulheres, em vez da nossa meta de 42 milhões. Quinze milhões de pessoas ficaram para trás, à mercê da fome extrema e do atraso de crescimento”, refere-se no texto.
Por outro lado, sublinhou que muitas vezes os trabalhadores humanitários sentem-se “como juízes na vida de muitas crianças”.
“Não podemos ajudar todos e está a tornar-se cada vez mais difícil chegar àqueles que pretendemos alcançar. A transferência de fundos que está a ocorrer em alguns países, dos orçamentos de cooperação para o desenvolvimento para os orçamentos de segurança e defesa, não é razoável nem justa”, denunciou.
A Unicef fez um apelo à ajuda “vital” de 73 milhões de crianças em 133 países e territórios, nos quais se encontram em situações de vulnerabilidade. “Estas são as emergências que precisam de mais financiamento”, declarou a organização.
“O Sudão enfrenta a maior e mais esquecida crise humanitária. Mais de metade da população, um total de 30,4 milhões de pessoas, incluindo 15 milhões de crianças, não consegue sobreviver sem ajuda. A recente escalada da violência no Darfur e no Kordofan elevou o número de deslocados internos para cerca de 10 milhões e colocou inúmeras comunidades em ambas as regiões à beira da fome”, afirmou a organização.
Em agosto, o representante da Unicef no Sudão tinha indicado que milhares de pessoas estão em risco de fome na capital sitiada do Darfur do Norte, no oeste do Sudão, “e muitas crianças estão reduzidas a pele e osso” em Cartum.
Na capital do Sudão “a desnutrição está a causar estragos e muitas crianças estão reduzidas a pele e osso”, declarou Sheldon Yett. Neste país, segundo a ONU, cerca de 25 milhões de pessoas sofrem de extrema insegurança alimentar e vive-se atualmente “a pior crise humanitária” no mundo.
A situação em Gaza não melhorou muito, apesar do cessar-fogo após dois anos de conflito.
Segundo o relatório, as fortes chuvas e inundações, juntamente com a descida das temperaturas, estão a provocar casos de hipotermia e mortes, enquanto milhões de crianças “continuam à espera de vacinas ou de regresso à escola”.
O estudo “Desnutrição infantil 2025” da ONG espanhola Ação Contra a Fome (Acción Contra el Hambre), baseado em dados da Unicef e divulgado em novembro, identificou quatro focos críticos em África e no Médio Oriente.
No Sudão, 3,66 milhões de crianças vivem em situação de desnutrição aguda e na Faixa de Gaza cerca de 60 mil menores foram afetados no último ano.