Metade da humanidade vive em países onde dívida supera Educação ou Saúde

©Facebook.com/antonioguterres

Cerca de 3,3 mil milhões de pessoas – quase metade da humanidade – vivem em países que gastam mais com o pagamento de juros da dívida do que com Educação ou Saúde, segundo um novo estudo da ONU.

Os dados constam do recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) “Um mundo de dívida”, hoje apresentado em Nova Iorque com a presença do secretário-geral, António Guterres, que considerou estes números uma “falha sistémica”.

“Metade do nosso mundo está a afundar num desastre de desenvolvimento, alimentado por uma crise de dívida esmagadora. Essa é a principal mensagem do relatório que apresentamos hoje”, disse Guterres.

“No entanto, como a maioria dessas dívidas insustentáveis está concentrada em países pobres, elas não são consideradas um risco sistémico para o sistema financeiro global. Isso é uma miragem, 3,3 mil milhões de pessoas são mais do que um risco sistémico, são uma falha sistémica”, frisou.

De acordo com o ex-primeiro-ministro português, apesar de parecer que os mercados não estão a sofrer, as “pessoas estão”, sendo que alguns dos países mais pobres do mundo são “forçados a escolher entre pagar as suas dívidas ou servir o seu povo”.

Esses países “praticamente não têm espaço orçamental para investimentos essenciais nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ou na transição para energia renovável. Os níveis de dívida pública são impressionantes — e crescentes”, afirmou.

Em 2022, a dívida pública global atingiu o recorde de 92 biliões de dólares (83 biliões de euros), apontou Guterres, salientando que os países em desenvolvimento arcam com uma quantia desproporcional.

Uma parcela crescente é mantida por credores privados que cobram taxas de juro altíssimas de muitos países em desenvolvimento, disse.

Em média, os países africanos pagam quatro vezes mais por empréstimos do que os Estados Unidos da América e oito vezes mais do que os países europeus mais ricos, segundo conclusões do levantamento feito pela ONU.

O relatório hoje apresentado indica que a dívida pública atingiu níveis colossais, em grande parte devido a dois fatores: os esforços dos países para evitar o impacto de crises em cascata; e uma arquitetura financeira internacional desigual, que torna o acesso dos países em desenvolvimento ao financiamento inadequado e caro.

Citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o líder da ONU disse que 36 países estão na chamada “fila da dívida” — ou em alto risco de sobreendividamento. Outros 16 estão a pagar taxas de juros insustentáveis a credores privados.

“Um total de 52 países — quase 40% do mundo em desenvolvimento — estão com sérios problemas de dívida. É um resultado da desigualdade construída no nosso antiquado sistema financeiro global, que reflete a dinâmica do poder colonial da época em que foi criado”, criticou Guterres.

“O sistema não cumpriu o seu mandato como rede de segurança para ajudar todos os países a administrar a atual cascata de choques imprevistos: a pandemia, o impacto devastador da crise climática, e a invasão russa da Ucrânia”, observou.

Na visão do secretário-geral, quando os países são forçados a fazer empréstimos para a sua sobrevivência económica, a dívida torna-se “uma armadilha que simplesmente gera mais dívida”.

Apesar de ser um forte defensor de reformas profundas no sistema financeiro global, Guterres admitiu que essas reformas não acontecerão da noite para o dia.

“Mas há muitos passos que podemos adotar agora. As nossas propostas incluem um mecanismo eficaz de liquidação da dívida que apoie suspensões de pagamento, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas, inclusive para países vulneráveis de rendimentos médios”, disse.

“A ação não será fácil, mas é essencial e urgente”, concluiu António Guterres.

Últimas do Mundo

O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de Chicago, foi hoje eleito papa pelos 133 cardeais reunidos em Roma e assumiu o nome de Leão XIV.
Fumo negro saiu hoje da chaminé do Vaticano às 21:01 (20:01 em Lisboa) para indicar que os 133 cardeais eleitores, reunidos em conclave desde as 15:30 (16:30), não chegaram a consenso sobre o próximo papa.
Quinze dos 133 cardeais que vão estar a partir de hoje reunidos em conclave, em Roma, para eleger o sucessor do Papa Francisco, já estiveram no Santuário de Fátima a presidir a grandes peregrinações.
O primeiro sinal de fumo do conclave papal deverá sair da Capela Sistina a partir das 19:00 de quarta-feira (18:00 hora de Portugal continental), anunciou hoje o diretor da sala de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Os jovens do Reino Unido entre 11 e 19 anos com problemas de saúde mental declararam passar mais tempo nas redes sociais do que os que não têm problemas, segundo um estudo divulgado hoje na revista Nature Human Behavior.
O número de reclusos na União Europeia (UE) teve, em 2023, um aumento anual de 3,2%, com a taxa de ocupação média das prisões abaixo de 100%, divulgou hoje o Eurostat.
O tráfego aéreo de passageiros na Europa avançou 4,3% no primeiro trimestre face ao período homólogo de 2024 e já está 3,2% acima dos níveis pré-pandemia, anunciou hoje a divisão europeia do Airports Council International (ACI Europe).
As autoridades espanholas detetaram uma terceira perda de geração de eletricidade no sul do país 19 segundos antes do apagão da semana passada, revelou hoje a ministra com a tutela da energia, Sara Aagasen.
O ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou que terá alta hospitalar hoje, depois de três semanas internado após uma operação para desobstruir o intestino.
Várias pessoas ficaram feridas depois de um carro ter abalroado hoje uma multidão em Estugarda, no sudoeste da Alemanha, indicaram os serviços de emergência locais.