Estamos a nove meses de completar 50 anos da fundação do atual regime e alguns dos leitores dirão que é mais do que tempo de refletirmos sobre estas cinco décadas, e as tais conquistas que elas trouxeram. Não digo que não o façamos, de forma analítica e objetiva, com o rigor e a clareza política que a História nos exige. Porém, pergunto-lhe, caro leitor, se isso não é justamente o que temos vindo a fazer nos últimos anos? As críticas e contestações ao atual sistema têm vindo a agudizar-se, e isso, é só de per si, sinal de que os portugueses têm vindo a matutar sobre os males deste establishment político. Aliás, o nosso partido CHEGA! nasce do binómio «contestação-reforma» ao atual sistema, pelo que daí se depreende que não têm faltado reflexões sociais ao sistema que nasceu lá em abril de 1974.
Partindo da assunção anterior, em abril de 2024 devemos estar a olhar para o futuro e a pensar num novo sistema, refundado das cinzas do atual, e em disrupção total com o que há de pior neste presente. Para o efeito, torna-se cada vez mais premente assentarmos um conjunto de ideias que sejam a nossa bússola condutora. Se virmos bem, o regime forjado em abril de 74, de matriz socialista, tornou-se opaco e blindou-se a si mesmo, só permitindo em escassos momentos, aqui e acolá, o contrapeso de pontuais reformas dos partidos que haviam estado na Aliança Democrática. Pouco a pouco, o sistema socialista foi-se instalando e entranhando até alcançar todas as instituições do nosso país. E como se não bastasse, propagou-se um estado mental ideológico ao qual à agenda globalista veio a assentar como uma luva. Nada despropositado.
Pensar Portugal é um exercício a que a direita portuguesa hoje está a ser convocada. Refiro-me a Pensar Portugal a médio e longo termo, não ao mero ato eleitoralista, comezinho e estreito de mente, feito a pensar nos próximos quatro anos. Isso não chega! Há que almejar um marco de tempo muito maior, isto é, pensar Portugal para as próximas décadas. Necessitamos de deixar claro para as gerações vindouras, as reformas vitais de que Portugal carece nos vários setores económicos e sociais, passando pelos tradicionais setores produtivos, a agricultura e pecuária, as pescas, a indústria, os serviços e as atividades ligadas às novas tecnologias. No campo do ensino, urge definir um modelo de escola pública que convoque à responsabilização de todos os agentes da comunidade escolar, fazendo a destrinça entre ensino e educação. Neste âmbito, a escola portuguesa e os respetivos programas deverão procurar ser relativamente neutros quanto à ideologia, mas não quanto aos valores, porquanto axiologicamente se insere numa cultura de matriz cristã.
Partindo do princípio, como convém, atrevo-me a dizer que é importante definirmos desde logo o regime que mais convém a Portugal, seja de índole presidencialista ou de outro tipo qualquer. Tendo isto assente, será também conveniente que se faça um esboço do quadro de ministérios, secretarias, direções gerais e institutos públicos desejados, criando-se o necessário e eliminando-se o desnecessário, com vista à reforma orgânica do aparelho do estado. Urge eliminar as gorduras do estado e criar ministérios que façam de todo sentido, tal como o Ministério da Família.
Os jovens de direita devem ter claro o plano de trabalho para as próximas décadas e por isso, devem também ser convocados a colaborar na reconstrução do país que todos almejamos. Trata-se de um empreendimento nacional, e como tal, só fará sentido se for pensado e repensado com a colaboração de todos, mais velhos e mais novos.
Reformar Portugal exige-nos mesmo a construção de uma agenda a médio-longo prazo, talhada a definir os pontos cruciais da transformação de que o nosso país tanto necessita. Mais além dos programas eleitorais, que por certo devem acompanhar a leitura do momento social que se vive, precisamos de uma agenda verdadeiramente reformista, uma agenda de Portugal-2050. Com isto quero dizer, que é preciso à data de hoje ter Visão de Estado.