Assassinato de Sá Carneiro – Mais uns crimes que ficaram impunes

Na noite de 4 de dezembro de 1980, durante a campanha presidencial do general Soares Carneiro, candidato pela Aliança Democrática (AD), o ministro da Defesa português, Adelino Amaro da Costa tinha disponível uma aeronave Cessna a fim de deslocar-se ao Porto, onde iria assistir ao encerramento da campanha. O então primeiro-ministro português Francisco Sá Carneiro, que também se dirigia para o Porto acompanhado da sua companheira Snu Abecassis, aceitou o convite de Amaro da Costa, embarcando a bordo do Cessna juntamente com este, sua mulher Maria Manuel Simões Vaz da Silva Pires, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, António Patrício Gouveia, e os dois pilotos do aparelho, Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa.

Pouco depois de levantar voo, o avião incendiou-se e despenhou-se sobre o bairro das Fontaínhas, zona residencial vizinha da pista do Aeroporto da Portela, calculando-se que o impacto no solo ocorreu 26 segundos depois da descolagem. Morreram os sete ocupantes do aparelho.

A equipa de técnicos encarregada da investigação só chegou ao local três horas depois da tragédia.  Depois de dezenas de curiosos andarem a passear nas calmas por cima dos destroços, a recolher souvenirs. Como se não bastasse, retiraram-se para o conforto dos seus lares por forma a estarem aptos para o trabalho de investigação que os esperava no dia seguinte.

Entretanto, os destroços estavam a repousar a menos de um quilometro do aeroporto e dado que o avião se imobilizou numa rua estreita de apenas quatro metros e meio de largura e com uma única saída, não se percebe que não tivesse havido durante a noite um cordão policial para impedir a invasão do local de uma multidão incontrolável que recolhia as macabras lembranças, destruindo provas importantes para a investigação.

Na noite da tragédia ocorreu ao local uma equipa da RTP, que recolheu vários depoimentos de testemunhas que afirmavam ter visto o avião a arder, antes de se despenhar. As autoridades nunca as chamaram para recolher os seus depoimentos. Porquê?

O Chefe de Segurança de Sá Carneiro, que estava presente na placa do aeroporto assistiu atónito à explosão do avião quando este ainda estava em rota ascendente, poucos segundos depois da descolagem. Foi ouvido durante 8 horas pela II Comissão (nem a PIDE …) mas manteve corajosamente as suas afirmações iniciais. O seu depoimento nunca foi valorizado.

O controlador Gaspar Frade, só foi ouvido pela II Comissão três meses depois. Este assegurou que a explosão ocorreu muito antes da queda e muito aquém do ponto onde a aeronave se despenhou. Quando elementos do FBI vieram a Portugal, por estarem em causa indícios de terrorismo, e manifestaram interesse em ouvir o controlador, a DGAC levou-os à torre de controlo no preciso dia que este estava de folga. Estes peritos tiveram uma semana no aeroporto a recolher indícios e regressaram aos EUA sem falarem com ele. Estranho?

O rasto de materiais queimados ao longo de quase um quilometro prova que o avião explodiu e só se justifica esse rasto se houvesse um rompimento na fuselagem. Curiosamente esses materiais desapareceram por completo, depois de terem sido recolhidos. Sem falar na mala de Amaro da Costa, recolhida na noite da tragédia pela PJ e que até hoje não se sabe onde está. Nem a mala de Sá Carneiro, com documentos secretos, que este levava. 

Sabendo que o trem de aterragem leva 10 segundos a recolher, os autores da sabotagem escolheram esse preciso momento para acionarem esse engenho. A II comissão concluiu que foi falta de combustível na asa esquerda a causa do acidente. Acontece que o piloto, experiente, recolheu o trem porque sabia estar em segurança. E se faltou combustível, porque não avisou a torre de controle sendo necessário apenas carregar no botão e emitir o socorro? Porque a explosão danificou o sistema eléctrico, tendo estes ficado sem comunicação.

Depois de dez comissões de inquérito, chegou-se à conclusão que foi sabotagem. Depois dos crimes estarem prescritos. VERGONHA.

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