Estado português fracassou no combate à corrupção este ano

A Frente Cívica, organização da sociedade civil para escrutínio dos poderes públicos, considera que 2023 representa o fracasso do Estado português no combate à corrupção, com suspeitas sobre o Governo e o Presidente da República.

©D.R.

Hoje assinala-se o Dia Internacional contra a Corrupção, que este ano coincide com o 20.º aniversário da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, documento que a Frente Cívica destaca como a “grande peça de direito internacional organizadora do combate à corrupção”.

A convenção abrange cinco áreas, entre a prevenção da corrupção, criminalização da corrupção e atuação do sistema judicial, cooperação internacional, recuperação de ativos e assistência técnica e troca de informação e para qualquer uma delas a Frente Cívica entende que 2023 é demonstrativo do “fracasso do Estado português”.

“As comemorações do Dia Internacional Contra a Corrupção decorrem este ano com um Governo demitido por suspeitas de tráfico de influências envolvendo o chefe de gabinete e o melhor amigo do primeiro-ministro, e com o próprio Presidente da República envolvido num caso suspeito de favorecimento, em resposta a um pedido do seu próprio filho. A informalidade, a lógica de acesso pessoal, a ‘cunha’ e o favorecimento tornaram-se em formas corriqueiras de exercício do poder ao mais alto nível”, critica a organização numa declaração enviada à Lusa.

O vice-presidente João Paulo Batalha salienta que “poucos governos terão legislado tanto em matéria de corrupção como os três Governos de António Costa”, lembrando que foi criada uma Estratégia Nacional Anticorrupção, um novo regime de exercício de funções políticas e de altos cargos públicos, códigos de conduta para governantes e deputados, um questionário de avaliação de idoneidade de governantes à entrada do cargo, novas instituições como o Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC) e a Entidade da Transparência.

Defende que os “mecanismos de prevenção da corrupção em Portugal são uma ficção”, resultado de “uma velha lógica de hiperatividade legislativa”, que tem como consequência a “ineficiência total nos processos de prevenção e combate à corrupção”, dando como exemplo o caso da Entidade da Transparência, criada em 2019, mas que, quatro anos depois, “não está instalada e a funcionar normalmente”.

Para a Frente Cívica, não há políticas reais de prevenção e “estão criados todos os incentivos para a informalidade, o abuso, o favorecimento e, no limite, a corrupção no exercício de funções públicas”.

“Tudo isto acaba atirado para os ombros de um Ministério Público com fraca capacidade operacional, que simplesmente não consegue dar vazão à barragem constante de casos e suspeitas. Mesmo quando as investigações avançam e redundam em acusações, sobretudo nos casos de grande corrupção, é o sistema judicial que depois falha, bloqueado por um Código de Processo Penal gerador de infindáveis oportunidades para protelar a realização da justiça. Reina a impunidade”, destaca.

Alerta, por isso, que a realidade vai para lá de práticas isoladas de corrupção e que o país está perante a “verdadeira captura do Estado”, ao mesmo tempo que a “incapacidade do sistema judicial significa que os impactos dos negócios corruptos se prolongam pelo tempo”, penalizando todos os contribuintes.

Para a Frente Cívica, a comemoração do Dia Internacional contra a Corrupção mostra o “fracasso reiterado do Estado português em prevenir e combater eficazmente a corrupção”, defendendo se trata de um fracasso das instituições públicas e da própria democracia.

Perante tudo isto, e com receio que o próximo ato eleitoral traga um maior crescimento de partidos populistas, a organização defende que todos os partidos políticos, sobretudo PS e PSD, “rompam com as lógicas de aparelho, com a permeabilidade das instituições à corrupção e com o conluio de interesses entre poder partidário e poder económico”.

Últimas do País

A Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH) afirmou hoje estar muito preocupada com a formação dos técnicos de emergência pré-hospitalar, apontando que está em causa a qualidade dos cuidados prestados à comunidade.
A proposta para revisão da carreira de oficial de justiça é “gozar com quem trabalha”, defende o Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), que põe fim ao “benefício da dúvida” a este Governo e anuncia o regresso à luta.
Um agente ficou ferido depois de ter sido atropelado por um condutor numa ação de fiscalização no Parque das Nações, em Lisboa, disse à Lusa fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP).
O presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Pedro Sobral, morreu hoje, aos 51 anos, na sequência de um atropelamento na Avenida da Índia, Lisboa, onde circulava de bicicleta, confirmou o grupo Leya, em comunicado.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi hoje recebido com honras militares pelo homólogo eslovaco, Peter Pellegrini, em Bratislava, com quem esteve reunido cerca de meia hora antes de visitar os militares portugueses naquele país.
Um militar da GNR ficou com ferimentos ligeiros e recebeu tratamento hospitalar, na sexta-feira, após responder a uma denúncia de agressões com três envolvidos, dois deles já detidos, no concelho de Faro, disse fonte da corporação.
O Tribunal de Contas (TdC) fixou em 5.297,40 euros o valor da multa a aplicar à Câmara de Caminha por irregularidades ocorridas entre 2015 e 2020 em vários contratos públicos, remetendo o processo para o Ministério Público (MP).
O TikTok conta atualmente com 3,6 milhões de utilizadores ativos em Portugal, afirma Enrico Bellini, responsável das relações governamentais da rede social para o Sul da Europa.
O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) vai realizar uma greve nacional a 15 de janeiro e convocou uma manifestação para junto da Assembleia da República, anunciou hoje o seu presidente, Ricardo Cunha.
Mais de 70% dos serviços de Finanças estão encerrados, no primeiro de dois dias de greve dos trabalhadores do Fisco, segundo os dados avançados pelo sindicato.