Mais de 1,1 milhões de crianças em Gaza estão em risco de vida por subnutrição

Mais de 1,1 milhões de crianças na Faixa de Gaza estão em risco de vida devido ao aumento de doenças evitáveis e à falta de água e alimentos, denunciou hoje a UNICEF, pedindo mais ajuda e um cessar-fogo humanitário.

© Facebook Israel Reports

 

Segundo a agência da ONU – Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) -, a intensificação da guerra em curso entre Israel e o Hamas e a subnutrição “aumentam o risco de um número crescente de mortes de crianças”, sendo que milhares já morreram no conflito.

A deterioração da situação está a suscitar preocupações quanto a subnutrição aguda e mortalidade sobretudo de mais de 135.000 crianças com menos de dois anos e de mais de 155.000 mulheres grávidas e lactantes, dadas as suas necessidades nutricionais específicas e vulnerabilidade, de acordo com a organização.

“Quando combinadas e não tratadas, a subnutrição e as doenças criam um ‘ciclo mortal’. Há evidências de que as crianças com saúde e nutrição precárias são mais vulneráveis a infeções graves como a diarreia aguda”, que, quando prolongada, coloca-as em “elevado risco de morte”, alertou a agência da ONU, num comunicado hoje divulgado.

Lembrando que o conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas destruiu sistemas essenciais de água, saneamento e saúde na Faixa de Gaza e que as crianças e famílias deslocadas não conseguem manter os níveis de higiene necessários para prevenir doenças, a UNICEF admite que a falta de água potável e saneamento “são alarmantes”.

Paralelamente, os poucos hospitais em funcionamento estão focados em responder ao elevado número de feridos pelo conflito e não conseguem tratar adequadamente os surtos de doenças.

“Os casos de diarreia em crianças aumentaram 50% em apenas uma semana”, referiu a UNICEF, adiantando que os casos em crianças com menos de cinco anos de idade aumentaram de 48.000 para 71.000 na última semana de dezembro.

Isto “equivale a 3.200 novos casos de diarreia por dia”, alertou a organização.

“O aumento significativo de casos em tão pouco tempo é um forte indicador de que a saúde das crianças na Faixa de Gaza está a deteriorar-se rapidamente”, prosseguiu a agência da ONU, lembrando que, antes da escalada das hostilidades, registava-se uma média de 2.000 casos de diarreia em crianças com menos de cinco anos por mês.

“Esta subida recente representa um aumento de cerca de 2000%” entre menores de cinco anos, sublinhou.

Por outro lado, destacou igualmente a organização, 90% das crianças com menos de dois anos estão atualmente sujeitas a uma situação de “pobreza alimentar grave”, segundo o Quadro integrado de classificação da segurança alimentar (IPC).

O IPC é um meio para classificar diferentes fases de situações de segurança alimentar, que inclui cinco níveis: segurança alimentar geral, insegurança alimentar moderada/limitada, crise aguda de alimentação e subsistência, emergência humanitária e fome/catástrofe humanitária.

“Desde que [o IPC] alertou para o risco de fome na Faixa de Gaza, no final de dezembro, a UNICEF constatou que um número crescente de crianças não está a satisfazer as suas necessidades básicas de nutrição”, adiantou a organização, indicando que nove em cada 10 crianças com menos de dois anos consomem apenas dois ou menos grupos alimentares por dia, de acordo com um inquérito realizado em 26 de dezembro.

A maioria das famílias afirmou que as suas crianças só consomem cereais – como, por exemplo, pão – ou leite, o que corresponde à definição de “pobreza alimentar grave”.

A questão é também grave no que se refere às mulheres grávidas e lactantes, já que uma em cada quatro consome apenas um tipo de alimento por dia.

“As crianças em Gaza estão presas num pesadelo que se agrava a cada dia que passa”, afirmou a diretora executiva da UNICEF, Catherine Russell, citada no comunicado.

“As crianças e as famílias na Faixa de Gaza continuam a ser mortas e feridas e as suas vidas estão cada vez mais em risco devido a doenças evitáveis e à falta de alimentos e água. Todas as crianças e civis devem ser protegidos da violência e ter acesso a serviços e bens básicos”, defendeu.

Perante a situação, a agência da ONU apela “à retoma do tráfego comercial, para que as prateleiras das lojas possam ser reabastecidas, e a um cessar-fogo humanitário imediato para ajudar a salvar vidas civis e aliviar o sofrimento”.

A organização “trabalha para fornecer a ajuda vital de que as crianças de Gaza tão desesperadamente necessitam, mas precisamos urgentemente de um acesso melhor e mais seguro”, acrescentou Catherine Russell.

“O futuro de milhares de crianças em Gaza está em risco. O mundo não pode ficar parado a assistir. A violência e o sofrimento das crianças têm de acabar”, concluiu.

A guerra em curso, que completa no domingo 14 semanas, começou quando o Hamas atacou Israel, provocando, segundo as autoridades israelitas, cerca de 1.200 mortos, além de ter sequestrado 240 pessoas, das quais mais de 120 ainda se encontram em cativeiro.

A retaliação israelita na Faixa de Gaza fez mais de 22.400 mortos e cerca de dois milhões de deslocados, bem como desencadeou uma crise humanitária grave devido ao colapso de hospitais, falta de medicamentos, alimentos, água e eletricidade, de acordo com as autoridades do enclave palestiniano controladas pelo Hamas.

Últimas do Mundo

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu hoje que os governos têm de trabalhar para reduzir a dívida e reconstruir 'almofadas' para o próximo choque, numa altura em que se espera baixo crescimento económico.
O Papa Francisco pediu hoje respeito pelas forças de manutenção de paz das Nações Unidas no Líbano, após os recentes ataques israelitas de que foram alvo, e apelou uma vez mais a um cessar-fogo no Médio Oriente.
Analistas africanos contactados pela Lusa sublinham a rutura em curso no sistema internacional e a mudança nos equilíbrios de poder e influência globais, mas questionam a exequibilidade, e até o sentido, da reforma do Conselho de Segurança da ONU.
A NATO inicia na segunda-feira o seu exercício nuclear anual “Steadfast Noon”, manobras que vão durar duas semanas e nas quais participarão mais de 60 aviões e 2.000 soldados, sem que seja utilizado armamento real.
Mais um empresário foi raptado esta manhã no centro de Maputo, por homens armados, mas entretanto resgatado peças forças policiais, anunciou hoje a Policia da República de Moçambique (PRM) na capital moçambicana.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, avisou hoje que o furacão Milton poderá tornar-se a pior tempestade na Florida num século e pediu às autoridades para evacuarem as localidades deste estado.
O Ministério Público francês pediu penas de prisão até 15 anos contra 18 suspeitos, a maioria iraquianos-curdos, de pertencerem a uma das principais redes de contrabando de migrantes no Canal da Mancha.
O principal suspeito do desaparecimento de Madeleine McCann, Christian Brückner, foi hoje absolvido de vários crimes sexuais graves pelo Tribunal Regional de Braunschweig, na Alemanha, num julgamento não relacionado com o caso da criança desaparecida no Algarve.
A França expulsou o filho mais velho de Osama Bin Laden, que viveu durante anos na Normandia com a sua mulher, de nacionalidade britânica, por fazer apologia ao terrorismo, disseram hoje fontes oficiais.
O Tribunal Provincial de Madrid ordenou hoje ao juiz que delimitasse a investigação que dirige contra Begoña Gomez, mulher do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, por alegados crimes de tráfico de influências e corrupção.