António Guterres reconheceu hoje numa entrevista à estação televisiva Al-Jazira, em Davos, que ainda não falou com o chefe do Governo israelita, e depois, o seu porta-voz, Stéphane Dujarric, emitiu na sua conferência de imprensa diária em Nova Iorque alguns comentários sobre o assunto.
Dujarric não especificou quantas vezes tentou Guterres comunicar com Netanyahu: “Não é alguém a ligar todos os dias [e a dizer] liga-me de volta, liga-me de volta. Existe um protocolo diplomático”, afirmou.
“Sabemos que a mensagem [da chamada] foi recebida, e o facto de eles não terem ligado não impediu o secretário-geral de ter um amplo leque de contactos com responsáveis israelitas”, explicou Dujarric, apontando entre os interlocutores o Presidente de Israel, Isaac Herzog, e o representante israelita junto da ONU, Gilad Erdan.
Quase desde o princípio da guerra, a ONU tem sido acusada de parcialidade pró-palestiniana pelo Governo israelita — em particular, a pessoa do secretário-geral da organização, cuja demissão foi já exigida por vários membros do executivo de Netanyahu.
O Governo de Israel ficou particularmente irritado com a afirmação de Guterres de que os ataques de 07 de outubro do Hamas “não surgiram do nada, mas de 56 anos de ocupação sufocante”, uma declaração que o alto responsável das Nações Unidas nunca retirou.
A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) — desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel — realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.139 mortos, na maioria civis, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas, e cerca de 250 reféns, dos quais mais de 100 permanecem em cativeiro.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que entretanto se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 103.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 24.000 mortos e mais de 60.000 feridos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.
Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, mais de 300 palestinianos foram mortos desde 07 de outubro pelas forças israelitas e em ataques perpetrados por colonos.