Bruxelas quer “economia de guerra” com compras comuns, dívida conjunta e apoio do BEI

A Comissão Europeia vai apresentar uma estratégia industrial para a União Europeia (UE) ter uma “economia de guerra”, assente em compras conjuntas e financiamento comum, admitindo emissão de dívida e apoio do Banco Europeu de Investimento (BEI).

© D.R.

A menos de uma semana da apresentação da proposta sobre o futuro da política comunitária industrial de Defesa, prevista para a próxima quarta-feira, o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, disse em declarações a alguns meios europeus em Bruxelas, incluindo a Lusa, que “a UE tem de mudar o paradigma e passar para o modo de economia de guerra”.

“Isto significa também que a indústria europeia de defesa deve assumir mais riscos, com o nosso apoio, dando-lhes maior visibilidade, e é esse o objetivo da nova estratégia industrial de defesa”, explicou o responsável.

Em causa está a proposta que o executivo comunitário vai apresentar sobre a Estratégia Industrial de Defesa Europeia (EDIS, na sigla inglesa), para responder às lacunas de investimento no setor com instrumentos europeus e contratos públicos conjuntos e, assim, reforçar a capacidade industrial e apoiar a Ucrânia devido à invasão russa.

A EDIS traça, assim, o caminho para os próximos anos, prevendo que os países não só se reabasteçam e adquiram novos meios de defesa, como também para serem produtores.

“Precisamos de produzir mais, mais rapidamente e em conjunto, enquanto europeus. A disponibilidade de equipamento de defesa da UE está agora a tornar-se uma questão de competitividade e de segurança para a indústria de defesa europeia”, salientou Thierry Breton, aludindo ao contexto de subinvestimento e à diminuída dimensão do setor, dada a recente mobilização maciça de equipamentos para a Ucrânia e a necessidade urgente de repor os ‘stocks’ nacionais.

Com as despesas de defesa a aumentarem desde 2022, aquando da invasão russa da Ucrânia, cerca de um quarto desses gastos ainda só se dedicam à reposição de meios, sem novos investimentos, sendo que, em muitos casos, estão em causa importações de países terceiros (que ascendem quase a 80% para armas).

É este cenário que Bruxelas quer alterar, visando desde logo “utilizar o orçamento da UE para apoiar a aquisição e a produção conjuntas, semelhante à lógica da Lei de Apoio à Produção de Munições, mas desta vez expandindo a capacidade industrial para que não seja só para munições, como para todo o tipo de equipamentos”, indicou à Lusa um alto funcionário da UE envolvido na proposta, referindo-se ao regulamento criado devido à guerra da Ucrânia e que termina em 2025.

A estratégia prevê a criação de um “mecanismo de vendas militares europeias” para responder às necessidades, de preferência no espaço comunitário, que serão respondidas com a aposta no fabrico e de fornecimento de matérias-primas e outros componentes para meios de Defesa, à semelhança do que foi feito para acelerar o desenvolvimento das vacinas anticovid-19.

Também tendo por base a experiência da covid-19 e a da crise energética, Bruxelas quer compras conjuntas como realizado, respetivamente, para vacinas e para o gás, através de acordos de compras avançadas.

Quanto ao financiamento, “para uma defesa europeia credível, é necessária uma ambição orçamental adequada”, descreveu o comissário Thierry Breton, apelando a que a UE “se prepare já, nos próximos 12 meses, para a possibilidade de um investimento adicional na ordem dos 100 mil milhões de euros”.

A estratégia depende de verbas comunitárias alocadas, como as do orçamento a longo prazo da UE, bem como as do regulamento para munições, mas Bruxelas sugere financiamento também assente em emissão de dívida conjunta, de acordo com o alto funcionário da Comissão Europeia, que aludiu ao mecanismo usado para financiar as verbas de recuperação pós-crise da covid-19.

Este alto responsável propôs ainda financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI), a instituição de crédito a longo prazo da UE, detida pelos seus Estados-membros para financiar investimentos alinhados com os objetivos políticos comunitários.

“O mandato do BEI é apoiar todas as políticas da UE, por isso deve eliminar a restrição de não suportar investimentos em Defesa”, adiantou a mesma fonte, aludindo à redefinição de política do banco comunitário, a ser anunciada no verão.

Quanto a prazos, a ideia é que, até ao final deste ano, se consiga um acordo provisório entre os colegisladores da UE sobre esta nova estratégia industrial para a Defesa, com vista a que o processo legislativo esteja terminado em meados de 2025.

“No atual contexto geopolítico, a Europa deve assumir uma maior responsabilidade pela sua própria segurança”, adiantou Breton.

Últimas de Política Internacional

As autoridades turcas detiveram hoje 234 pessoas suspeitas de pertencerem a redes de crime organizado, numa grande operação policial de âmbito internacional, foi hoje anunciado.
A União Europeia (UE) quer reforçar o controlo e a responsabilização do comércio internacional de armas, após os 27 terem aprovado hoje uma revisão do quadro sobre esta matéria, motivada pela entrega de armas à Ucrânia.
A Alta-Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiro defendeu hoje que é preciso a Rússia seja pressionada para aceitar as condições do cessar-fogo, recordando que a Ucrânia está a aguardar há um mês pela decisão de Moscovo.
O presidente em exercício do Equador, o milionário Daniel Noboa, foi declarado vencedor da segunda volta das eleições de domingo pela autoridade eleitoral do país, derrotando a rival de esquerda, Luisa González.
O Governo moçambicano admitiu hoje pagar três milhões de dólares (2,6 milhões de euros) à euroAtlantic, pela rescisão do contrato com a estatal Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), mas abaixo da indemnização exigida pela companhia portuguesa.
O presidente da Ucrânia pediu uma "resposta forte do mundo" ao ataque com mísseis balísticos na manhã de hoje contra a cidade de Soumy, no nordeste da Ucrânia, que terá causado mais de 20 mortos.
O líder venezuelano Nicolas Maduro vai visitar Moscovo no próximo mês para participar nas comemorações do Dia da Vitória sobre a Alemanha nazi, que se celebra tradicionalmente a 9 de maio, confirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Os países que apoiam a Ucrânia na defesa do território ocupado por tropas russas comprometeram-se hoje com mais 21.000 milhões de euros para apoiar o país, durante uma reunião do Grupo de Contacto.
As autoridades italianas transferiram hoje o primeiro grupo de imigrantes em situação irregular para os polémicos centros de deportação na Albânia, transformados em estruturas de repatriamento de requerentes de asilo já com ordem de expulsão de Itália.
A inflação na Venezuela fixou-se em 136% em março, em termos anuais, anunciou o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF).