No dia em que escrevo este artigo, mais uma vítima mortal, por homicídio, deitou o corpo sobre a calçada no Martim Moniz. As notícias referem apenas que se trata de uma mulher. Não é referida a nacionalidade, nem do agressor, nem da vítima.
Diz um despacho da Presidência do Conselho de Ministros que “os Órgãos de Comunicação Social e Forças de Segurança não devem, para bem da opinião pública sobre os imigrantes, revelar as nacionalidades, etnias, religião ou situação documental dos agressores e vítimas de crimes e ocorrências de violência”. Facilmente se depreende aí o receio de que tais informações sirvam para aumentar a xenofobia/racismo em Portugal. Ora, a medida seria útil se em Portugal tivessem sido abolidos por completo todos os seres pensantes – portanto, com neurónios funcionais. É que, francamente, o facto de não nos dizerem qual é a nacionalidade ou etnia, religião, etc., dos indivíduos envolvidos em crimes não nos deixa imediatamente convencidos de que não se trata de estrangeiros a residir em Portugal. E, de facto, muitas vezes não são estrangeiros – mas é igualmente uma verdade insofismável que a criminalidade aumentou nos últimos anos ao ritmo do crescimento imparável da imigração. Não nos é, portanto, possível continuar a enterrar a cabeça na areia fingindo que não há relação alguma entre uma coisa e outra.
Não nos sendo possível negar a consciência coletiva de que o povo português é, ele mesmo, tradicionalmente migrante, é necessário compreender que os portugueses que procuram melhores condições de vida além-fronteiras possuem um perfil completamente diferente de muitos dos imigrantes que nos entram porta dentro. A primeira delas e talvez a mais importante: a questão cultural. É a cultura dos povos que determina quão fácil é a sua integração em terras alheias e, portanto, dizer que um português se integra melhor em Paris do que um muçulmano ou indiano em Lisboa não é disparate algum. Ainda na senda das diferentes tipologias entre os que partem e os que nos procuram, há a preparação para o mercado de trabalho. Não é de agora que a dificuldade em emigrar, para quem nada mais tem para oferecer senão a força braçal, é muita. Daí que os emigrantes de hoje sejam essencialmente jovens licenciados, mestres e doutores. Esses partem. Já quanto aos que chegam e ficam, são precisamente os que, além de mão de obra não-qualificada, nada de novo trazem ao país. E é para esses que as nossas portas mais se abrem.
Mas há vantagens? Há quem diga que sim e até garanta que “esta massa de migrantes económicos é hoje um pilar importante para a nossa Segurança Social”. Mas será que é mesmo? Se somarmos os montantes em subsídios com a carga adicional nos serviços de saúde – é por isto, por exemplo, que segundo a Lusa, em Abril deste ano 1.565.880 de pessoas não têm um médico de família -, é difícil ver
quais serão as vantagens reais para a nossa Segurança Social. “O número de nascimentos está, finalmente, a equilibrar a balança face ao número de mortes em Portugal, o que contribui para mitigar o declínio demográfico”. Quanto aos leitores, não sei, mas eu não fico particularmente feliz por saber que os portugueses estão a ser progressivamente substituídos por outros povos. Enquanto isso, os apoios à natalidade são irrelevantes. É preciso que a família comum em Portugal não se importe de viver com terríveis dificuldades para tomar o caminho da paternidade.
Não duvido de que esta realidade seja deveras apelativa para empresários e políticos. Para os empresários porque, num país que baseia a sua economia no turismo e agricultura, basta-lhes mão de obra para fazer camas, servir mesas e trabalhar nas campanhas agrícolas sazonais. Cereja no topo do bolo: a ganância é sempre muita; aqueles trabalhadores são mais baratos. E, como é sabido, em muitos casos, extremamente baratos, tão baratos que trabalham a custo zero, graças às redes de tráfico humano que, inacreditavelmente, existem ainda em pleno séc. XXI e, mais inacreditavelmente, ainda operam em Portugal, um país que nem é, dizem, de 3o mundo. Para os políticos, porque lhes permite aceitar de bom grado as directivas de Bruxelas, contribuindo para o seu prestígio pessoal e carreirismo na UE, sob a máscara do altruísmo e ajuda humanitária. Sejamos honestos: Qual altruísmo? Qual ajuda humanitária? O altruísmo e ajuda humanitária que deixa pessoas em condições indignas, com parcos ou nenhuns rendimentos, sem trabalho, sem alojamento?
Primeiro é preciso diferenciar os refugiados dos migrantes económicos. Os primeiros, para que realmente possam gozar do estatuto de refugiados, têm de ser oriundos de países em guerra. À exceção dos ucranianos que Portugal acolhe, quantos dos outros podem dizer que são, efetivamente, refugiados? Não tenho números exatos, mas não serão muito mais de 2000 – portanto, seguramente poucos. É perfeitamente razoável afirmar que a larga maioria dos estrangeiros que residem no nosso país são migrantes económicos. Ainda assim, perguntemo-nos, qual ajuda humanitária? Não é segredo para quem viva minimamente informado, que o Estado Português, para além de se aproveitar politicamente do acolhimento aos refugiados, faz muito pouco por eles. A batata quente fica, invariavelmente, do lado das instituições de caridade. É a elas que estas pessoas recorrem quer para obterem alojamento, quer para terem comida na mesa. No que diz respeito aos migrantes económicos, embora o Estado não tenha com eles os mesmos compromissos, o resultado não destoa. Não há mercado de trabalho para tanta gente que apenas sabe fazer camas, servir mesas e apanhar fruta no verão. Não nos esqueçamos que a geração de portugueses que agora se detém nos 45/50 anos, também não tem formação académica excepcional. A maioria dos nossos cinquentões não estudaram além do 9o ano. Ora, o que têm também eles para oferecer senão a mesma mão de obra não-qualificada que se presta a pouco mais que fazer camas, servir mesas e apanhar fruta no verão? Some-se a isto a redução drástica de postos de trabalho braçal por conta das novas tecnologias e IA, – coisa
para se agravar ainda mais nos próximos anos-, que somos levados imediatamente à pergunta seguinte: Como é que estes imigrantes vivem? O que comem? Como pagam contas? 6, 7, 8 ou mais indivíduos amontoados num T0? Sim. Condições de higiene? Não existem. O que comem e como pagam contas entra diretamente no domínio do crime, e isto, não dá jeito nenhum dizer. Como também não dá jeito nenhum dizer que o paleio da integração e ajuda humanitária é uma falácia. Não dá jeito, mas é preciso dizê-lo. Tão preciso dizê-lo como dizer também, as vezes que forem precisas, que imigração, sim, mas muito controlada. Não, não é uma questão de racismo ou de xenofobia, que se diga isto também! É uma questão de paz social e de coesão nacional. Diga-se! Diga-se e repita-se!