O terramoto político começou na terça-feira de manhã com as notícias que davam conta de buscas, inclusivamente, na residência oficial do primeiro-ministro, culminou com a demissão de António Costa.
Nesta senda, o Presidente da República chamou a Belém todos os partidos com assento parlamentar antes de tomar uma decisão relativamente à convocação ou não de eleições antecipadas – decisão que, à hora de fecho desta edição, não era ainda conhecida.
O primeiro partido a ser ouvido foi o Livre. À saída da reunião, Rui Tavares defendeu que os portugueses devem conhecer “melhor os contornos” judiciais do caso que envolve António Costa e considerou que as negociações orçamentais estão “completamente esvaziadas” e, se houver eleições, devem acontecer rapidamente.
Por seu turno, a porta-voz do PAN defendeu que deve ser “salvaguardada a conclusão do Orçamento do Estado”, manifestando apreensão com a atuação da Justiça no caso que envolve António Costa e garantindo que o seu partido está preparado “para qualquer circunstância”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda disse que o Ministério Público deve esclarecer as razões para a abertura de um inquérito a António Costa, apelando a que a investigação seja célere, e voltou a pedir a convocação de eleições antecipadas porque “qualquer outra alternativa significa arrastar uma situação que é insustentável”.
O secretário-geral do PCP afirmou, por seu lado, que é “preciso que esses processos [judiciais] sejam rapidamente esclarecidos, investigados, e que se chegue a conclusões”, frisando que tal é “importantíssimo para a credibilidade da própria democracia”.
Já o líder da Iniciativa Liberal apontou a realização de eleições antecipadas no fim de janeiro como a “única solução”, com Rui Rocha a garantir que, do ponto vista pré-eleitoral, “não temos nenhuma disponibilidade para entendimentos”.
O presidente do CHEGA, André Ventura, considerou que começa a gerar-se um consenso para a realização de eleições antecipadas entre fevereiro e março, para permitir que o PS escolha o sucessor de António Costa e que haja um instrumento orçamental. Sobre as notícias que têm vindo a lume da possibilidade de o PS nomear um primeiro-ministro interino, André Ventura, doutorado em Direito, foi perentório: “É apenas uma forma de pres- são absurda que o PS está a fazer para evitar o cenário eleitoral. Qualquer pessoa que saiba um bocadinho de Constituição sabe que isso não é possível”.
O líder do terceiro maior partido português disse ainda que “não teremos nenhuma solução em Portugal que passe por um acordo de incidência parlamentar. Ou haverá uma maioria de Governo ou não haverá uma maioria de Governo. E agora os portugueses, com esses dados em cima da mesa, têm a escolha sobre a formação do próximo executivo”. “Os dados estão em cima da mesa, agora os portugueses têm de escolher se querem o PSD ou se querem o CHEGA”, considerou.
Já Luís Montenegro afirmou que não colocará obstáculos a que o Orçamento do Estado para 2024 possa ser ainda aprovado “se for mais útil ao país” e defendeu eleições antecipadas “o mais rápido possível”.
Por fim, e porque foi o último partido a ser recebido pelo Presidente da República, o presidente do Partido Socialista disse, no final da reunião, que o “ponto de vista” do partido que lidera é o de que é “possível, no atual quadro parlamentar, prosseguir a experiência governativa” com a nomeação de um novo primeiro-ministro socialista. “A nossa convicção é que a opção preferencial é a de nomeação de um governo com um novo primeiro-ministro”, referiu Carlos César, sublinhando que o “PS continua a ser um partido que preza valores associados à democracia, estabilidade e respeito pelos mandatos que os governos têm e que resultam da vontade popular”. Carlos César disse ainda aos jornalistas que é “absolutamente fundamental para o país termos o Orçamento do Estado aprovado”, haja eleições ou não.
*Com Agência Lusa