O que se tem vindo a passar na Região Autónoma da Madeira confirma o degradante paralelismo que existe entre o PSD-Madeira e do PS-Nacional. Como gémeos siameses, em ambos os casos, estamos perante organizações que, sem pejo, hesitação ou a ética que deve nortear a Vida, enxamearam a administração pública com os seus quadros, converteram a Função Pública no viveiro dos seus projetos de manutenção do poder e, em última instância, estabeleceram, fomentaram e alimentaram com dinheiros públicos os mais vergonhosos esquemas de corrupção, amiguismo, clientelismo e favorecimento através dos quais uma elite empresarial com ligações profundas (e até familiares) ao poder beneficiou de património público e muitas centenas de milhões.
Ao mesmo tempo, certos detentores de cargos públicos enriqueceram de forma descarada e descomunal, indo de falidos a milionários em tempo recorde, empregando os seus familiares nas empresas associadas, recebendo luvas em troca de benefícios ilegais, gozando férias luxuosas que não foram pagas por si e, pelo meio, fazendo escárnio na cara daqueles que, com o seu suor e trabalho, lhes pagam as benesses e os tiques de superioridade com que se pavoneiam na sociedade. Em suma, à imoralidade e à falta de ética, esses políticos juntaram a arrogância e a altivez bacoca de quem pensa que é superior aos demais, quando, na verdade, a grande diferença entre eles o Povo é o facto do Povo, ao contrário dos ditos ‘chefes’, poder andar na rua de cabeça levantada.
E não deixa de ser dramático que, num momento em que celebramos cinco décadas de Democracia, a pergunta que mais prementemente se coloca é bem simples: Será que colhemos o que plantámos? A resposta é clara, mas difícil de aceitar.
Penso nas três bancarrotas, nas indemnizações pornográficas, na incompetência atroz na gestão da Causa Pública e nos buracos que fomos obrigados a tapar na TAP e nos bancos. Penso nos desvios constantes nas obras públicas, nos concursos feitos à medida das empregas amigas, nas adjudicações directas, nos sacos azuis, nos relógios de luxo escondidos nas gavetas, nas mansões construídas às escondidas e nos envelopes de dinheiro vivo metidos em caixas de vinho.
Foi isto que plantámos?
Penso na Educação onde os professores são abusados e espezinhados. Na Saúde onde os médicos são apelidados de covardes e os profissionais padecem de exaustão crónica. Na Justiça que não condena os corruptos, mas liberta os bandidos. Nos agentes de Segurança a dormir à chuva nos degraus da Assembleia. Nas famílias a dormir dentro de carros e em tendas nos jardins das nossas cidades.
Foi isto que plantámos?
Penso nos jovens que são empurrados para fora do seu país. Penso na mediocridade que importamos, que não respeita a língua, nem a cultura, nem as leis, nem a liberdade das nossas mulheres. Penso na carga fiscal que asfixia porque há toda uma legião de subsídio-dependentes para alimentar, manter calada e por a votar nos mesmos que lá estão. Penso nos antigos combatentes que veem o país pelo qual morreriam a dar milhões a um museu que honra aqueles que os queriam matar nas selvas de África. Penso nos idosos que têm de escolher entre comer ou comprar medicamentos.
Foi isto que plantámos?
O antigo autarca que está a ser investigado pelo Ministério Público, mas que quer ser deputado da Nação? O presidente de câmara que se especializou em jogos imobiliários na própria autarquia, mas que quer um lugar na Casa da Democracia? O ministro que foi demitido por incompetente figura, mas que quer liderar o país? O secretário de estado do mais corrupto dos governos, que andou anos a viajar e a comer às nossas custas, mas que agora se apresenta como um desavergonhado arauto das boas práticas?
Por muito que nos custe a admitir, talvez tenha sido isto mesmo que plantámos. O que queríamos era muito diferente. O que queríamos eram políticos que percebessem que a honra é a bússola dos homens de bem. Mas o homem de bem que disse isso foi assassinado a 4 de Dezembro de 1980. E Portugal ainda não aprendeu.