BCE deverá manter taxas de juro apesar do abrandamento da taxa de inflação

O abrandamento da taxa de inflação da zona euro em fevereiro não deverá ser suficiente para que o Banco Central Europeu (BCE) avance na reunião de quinta-feira com um corte das taxas de juro, segundo analistas consultados pela Lusa.

© Flickr/BCE

 

A taxa de inflação homóloga da zona euro abrandou, em fevereiro, para 2,6%, 0,2 pontos percentuais (pp.) abaixo do registado em janeiro, refletindo um menor aumento nos preços dos alimentos, segundo a estimativa rápida divulgada pelo Eurostat.

No entanto, no final da reunião do Conselho do BCE, a presidente da instituição, Christine Lagarde, deverá anunciar que as taxas de juro diretoras permanecerão inalteradas.

“Não esperamos qualquer corte dos juros pelo BCE na sua reunião de política monetária de 07 de março”, refere o diretor Global de Investimentos em Obrigações da Allianz Global Investors (Allianz GI), Franck Dixmier, numa nota de ‘research’.

O analista considera que “dada a queda ainda frágil na inflação, os riscos para o BCE de cortar as taxas de juro demasiado cedo são maiores do que os riscos de as cortar demasiado tarde”.

É precisamente esse o argumento que Christine Lagarde deverá utilizar na conferência de imprensa de quinta-feira, segundo o economista-chefe do Capital Economics, Andrew Kenningham, que, numa nota, considera ser “bastante previsível” que os decisores afirmem “que querem mais provas de que a inflação está a diminuir antes de cortarem as taxas”.

Com os mercados e os analistas a descartarem um corte das taxas este mês, as atenções estão centradas no “tom” que a presidente do BCE irá usar na conferência de imprensa e na atualização das previsões económicas.

“Esperamos que a presidente Lagarde mencione, na conferência de imprensa, que as projeções parecem encorajadoras, que o Conselho continua dependente dos dados, mas que […] precisa de mais confiança de que a inflação regressará a 2% de forma atempada e sustentável”, refere uma nota do Goldman Sachs (GS).

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, em entrevista à Bloomberg no final de fevereiro, defendeu que o BCE deve estar aberto a discutir uma redução das taxas na reunião de quinta-feira.

“Março é a data em que temos a maior quantidade de novos dados à nossa frente – alguns dados podem dizer-nos para discutir cortes nas taxas de juro já em março”, disse. “Não estou a dizer que seja provável, mas temos que estar abertos”, acrescentou.

Os analistas esperam o primeiro corte nas taxas ocorra em junho, uma vez que dados da inflação subjacente “reduziram as probabilidades de um corte mais cedo”.

Além de um primeiro corte nas taxas em junho, o economista-chefe do ING, Carsten Brzeski, prevê uma flexibilização cautelosa e gradual, com uma descida total de 75 pontos-base em 2024.

“Prevemos que o banco central espere que a inflação global real desça para cerca de 2,5% durante mais de um mês, e que os dados salariais do primeiro trimestre, publicados no final de maio, bem como que as previsões de inflação a longo prazo continuem ancoradas em torno de 2%”, argumenta numa nota.

Franck Dixmier, que também aponta para um primeiro corte em junho, realça que “a pressão sobre o BCE para reduzir as taxas de juro deverá aumentar num contexto de estagnação da atividade na zona euro, especialmente na Alemanha”.

“Com o passar dos meses, acreditamos que o banco central terá menos argumentos para manter os juros onde estão, especialmente porque a manutenção das taxas de juro reais elevadas contribui para a limitação das condições financeiras”, indica.

O BCE decidiu na reunião de janeiro, pela terceira vez consecutiva, manter inalteradas as três taxas de juro diretoras.

A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito estão fixadas em 4,50%, 4,75% e 4,00%, respetivamente.

Quando o BCE altera as taxas de juro diretoras, tal reflete-se no conjunto da economia, tendo impacto por exemplo nos empréstimos bancários, nos empréstimos a nível do mercado, no crédito à habitação, nas taxas de juro dos depósitos bancários ou em outros instrumentos de investimento.

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