Vem aí mais uma “Silly Season”

© Folha Nacional

Enquanto as temperaturas sobem e as praias vão ficando cheias de pessoas em busca de descanso e diversão, a política também entra numa espécie de pausa… a chamada silly season. É a época em que os políticos, assim como todos os outros cidadãos, aproveitam as suas férias merecidas. No entanto, mesmo durante esse período de descanso, a vida continua a acontecer e ultimamente em Portugal os verões têm sido “quentes”. 

Para os políticos, as férias são um momento de pausa na rotina frenética do trabalho diário. Na Assembleia da República fica para trás o corre-corre dos plenários, gabinetes, as reuniões intermináveis e das discussões acaloradas. Nas autarquias com mais ou menos descanso, aproveita-se para ir às festas da cidade, da vila, da freguesia, cumprimentam-se os locais, brinda-se ao novo projeto, sai-se dos Paços do Concelho para sentir a rua e as gentes …

A verdade é que enquanto os políticos estão de férias, a realidade política não tira férias, e em Portugal adivinha-se mais um “verão quente”.  Se há coisa de que não nos podemos queixar é de monotonia política em Portugal, infelizmente não pelos melhores motivos.

Vamos de férias a saber que a maternidade do maior Hospital da capital continuará fechada em agosto e que continuamos a ter 1 milhão e 700 mil portugueses sem médico de família. 

E no INEM? Bom, o caso do INEM é um enredo digno de uma série da Netflix. Há muito que a demissão de Luís Meira era pedida, pela sua inoperância em arranjar soluções para os problemas que se vinham adensando, nomeadamente com os Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH), organização das VMER (viaturas médicas de emergência), tempos de resposta em caso de socorro, compra de helicópteros de emergência médica, tema aliás que levou Luís Meira a demitir-se no dia 1 de julho na sequência de uma troca de acusações, entre o Ministério da Saúde e o INEM, sobre o concurso para o serviço de transporte aéreo de doentes, por o INEM ter deixado terminar o prazo para o lançamento do concurso público internacional para a aquisição de helicópteros, obrigando a novo ajuste direto. A 3 de julho, Vítor Almeida, é nomeado presidente do INEM, mas sabemos já que não vai assumir o cargo, porque depois de aceitar o cargo, o médico terá imposto condições ao Ministério da Saúde que não foram acolhidas. Uma dessas condições estará relacionada com o dossiê dos helicópteros de emergência médica (isso mesmo, o que levou ao pedido de demissão de Luís Meira), cujo contrato por ajuste direto corre sérios riscos de ser chumbado pelo Tribunal de Contas… eu não disse que o enredo era bom? Haja “argumentista” capaz de resolver isto! Entretanto, foi nomeado o tenente-coronel médico Sérgio Dias Janeiro, vamos ver se consegue por ordem na casa.

Os incêndios (por enquanto) estão a dar tréguas, mas também não temos certezas quanto aos meios para os apagar, vamos rezando para que os pirómanos que continuam à solta se mantenham entretidos com os bailaricos das festas populares.

A Procuradora-Geral da República está longe de ter descanso, devido às críticas em torno da atuação do Ministério Público nos últimos tempos, mas parece que o Governo já lhe deu o descanso antecipado … Lucília Gago irá ser substituída brevemente e da parte do Governo já ninguém lhe liga, aliás a própria Ministra da Justiça pouco ou nada tem dito quanto a estas críticas.  

Continuamos sem penas pesadas para crimes sexuais e o Brasil garante que o maior grupo criminoso já tem uma célula a operar em Portugal. A imigração ilegal e as redes de tráfico humano continuam a aumentar e a insegurança especialmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e no Distrito de Beja têm aumentado diariamente. Não, não é populismo, é o que consta do RASI (Relatório Anual de Segurança Interna), podemos dar as voltas que quisermos, mas a matemática é uma ciência exata e por mais voltas que se dê um mais um serão sempre dois.

Quem também precisa de férias é o Tribunal de Contas (TdC), que não tem tido mãos a medir ora quando aponta falhas nas regras do modelo de financiamento da descentralização de competências e nos critérios para apurar as verbas a transferir para as autarquias (nada que há muito não tivesse já denunciado), ora quando critica o processo de revisão da despesa, classificando-o como desconexo e ineficiente. Isto é, e para se perceber melhor, há má gestão de dinheiros públicos, despesismo e responsabilização nula dos gestores públicos.

Muito mais temas há a juntar a estes para se fazer uma avaliação ao estado da Nação. Depois de 100 dias de Governo PSD assistimos a um rol de intenções sem fim, mas o que é facto é que a execução é escassa e os portugueses estão céticos e cansados de eternas promessas.

Mas é garantido que podemos ir de férias descansados. Cuidado com as caravelas-portuguesas e com o peixe-aranha, de resto bons mergulhos e não esqueçam o protetor solar.

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