“A Europa desistiu de defender os seus próprios interesses”, disse o nacionalista Viktor Orbán em Baile Tusnad, uma cidade de maioria étnica húngara no centro da Roménia.
“Tudo o que a Europa faz hoje é seguir incondicionalmente a política externa pró-democrata dos Estados Unidos, mesmo à custa da autodestruição”, declarou.
“Está a chegar uma mudança que não se via há 500 anos. O que estamos a enfrentar é, de facto, uma mudança na ordem mundial”, acrescentou, citando a China, a Índia, o Paquistão e a Indonésia como o futuro “centro dominante” do mundo.
Orbán alegou ainda que os Estados Unidos estiveram por trás das explosões de 2022 que danificaram os gasodutos Nord Stream, construídos para transportar gás da Rússia para a Alemanha, considerando-os “um ato de terrorismo”. Entretanto, não mostrou qualquer evidência para apoiar a sua afirmação.
As observações do líder da direita radical surgem quando há críticas crescentes dos seus parceiros europeus, depois de este ter embarcado em “missões de paz” a Moscovo e Pequim no início deste mês com o objetivo de mediar o fim da guerra da Rússia na Ucrânia. Considera-se que Orbán tem as melhores relações com o Kremlin entre todos os líderes da UE.
Quanto à Ucrânia, Orbán lançou dúvidas sobre a possibilidade de o país devastado pela guerra se tornar membro da NATO ou da UE.
“Nós, europeus, não temos dinheiro para isso. A Ucrânia regressará à posição de Estado-tampão”, disse, acrescentando que as garantias de segurança internacional “serão consagradas num acordo entre os EUA e a Rússia”.
Ao longo da guerra de grande escala da Rússia na Ucrânia, Orbán rompeu com outros líderes da UE ao recusar-se a fornecer armas a Kiev para se defender contra as forças russas e tem adiado, diluído ou bloqueado sistematicamente os esforços para enviar ajuda financeira a Kiev e critica a imposição de sanções a Moscovo.
Orbán utiliza normalmente a plataforma anual da Universidade de Verão Tusvanyos, na Roménia, para indicar a direção ideológica do seu governo nacional e para ridicularizar os padrões do bloco da UE, ao qual a Hungria aderiu em 2004.
A Hungria detém atualmente a presidência rotativa da UE, durante a qual Orbán fez um voto de “Tornar a Europa Grande Novamente” e apoiou abertamente a candidatura do antigo chefe de Estado norte-americano Donald Trump à Presidência em novembro.
Orbán visitou Trump duas vezes este ano.
Orbán disse hoje que a candidatura de Trump visa “retirar o povo norte-americano de um estado liberal pós-nacionalista para um estado-nação”.
“É por isso que o querem colocar na prisão [Trump]. É por isso que querem tirar-lhe os bens. E se isso não funcionar, vão querer matá-lo”, disse Orbán, referindo-se a uma tentativa de assassínio de Trump num comício na Pensilvânia este mês.
Os comentários de Orbán hoje não são os primeiros a utilizar durante o festival na Transilvânia para gerar controvérsia. Em 2014, Orban declarou pela primeira vez as suas intenções de construir um “Estado iliberal” na Hungria e, em 2022, provocou indignação internacional depois de protestar contra a Europa se tornar uma sociedade “mista”. Reforçou a sua posição anti-imigração de longa data no sábado, dizendo que não é uma resposta ao envelhecimento da população do seu país.
“Não pode haver uma diminuição da população complementada pela migração”, disse no seu discurso. “A experiência ocidental é que se houver mais hóspedes do que proprietários, então o lar já não é um lar. Esse é um risco que não deve ser corrido.”
Orbán tornou-se um ícone para alguns populistas conservadores pela sua firme oposição à imigração e aos direitos LGBTQ+. Também reprimiu a imprensa e o sistema judicial na Hungria e foi acusado pela UE de violar as normas do Estado de direito e da democracia.