PM húngaro alerta para esquecimento na UE e apoia Trump num discurso antiocidental

O primeiro-ministro da Hungria disse hoje que a União Europeia (UE) está a cair no esquecimento, durante um discurso com conotação antiocidental, alertando para uma nova “ordem mundial” e o seu apoio a Donald Trump.

©Facebook de Viktor Orbán

“A Europa desistiu de defender os seus próprios interesses”, disse o nacionalista Viktor Orbán em Baile Tusnad, uma cidade de maioria étnica húngara no centro da Roménia.

“Tudo o que a Europa faz hoje é seguir incondicionalmente a política externa pró-democrata dos Estados Unidos, mesmo à custa da autodestruição”, declarou.

“Está a chegar uma mudança que não se via há 500 anos. O que estamos a enfrentar é, de facto, uma mudança na ordem mundial”, acrescentou, citando a China, a Índia, o Paquistão e a Indonésia como o futuro “centro dominante” do mundo.

Orbán alegou ainda que os Estados Unidos estiveram por trás das explosões de 2022 que danificaram os gasodutos Nord Stream, construídos para transportar gás da Rússia para a Alemanha, considerando-os “um ato de terrorismo”. Entretanto, não mostrou qualquer evidência para apoiar a sua afirmação.

As observações do líder da direita radical surgem quando há críticas crescentes dos seus parceiros europeus, depois de este ter embarcado em “missões de paz” a Moscovo e Pequim no início deste mês com o objetivo de mediar o fim da guerra da Rússia na Ucrânia. Considera-se que Orbán tem as melhores relações com o Kremlin entre todos os líderes da UE.

Quanto à Ucrânia, Orbán lançou dúvidas sobre a possibilidade de o país devastado pela guerra se tornar membro da NATO ou da UE.

“Nós, europeus, não temos dinheiro para isso. A Ucrânia regressará à posição de Estado-tampão”, disse, acrescentando que as garantias de segurança internacional “serão consagradas num acordo entre os EUA e a Rússia”.

Ao longo da guerra de grande escala da Rússia na Ucrânia, Orbán rompeu com outros líderes da UE ao recusar-se a fornecer armas a Kiev para se defender contra as forças russas e tem adiado, diluído ou bloqueado sistematicamente os esforços para enviar ajuda financeira a Kiev e critica a imposição de sanções a Moscovo.

Orbán utiliza normalmente a plataforma anual da Universidade de Verão Tusvanyos, na Roménia, para indicar a direção ideológica do seu governo nacional e para ridicularizar os padrões do bloco da UE, ao qual a Hungria aderiu em 2004.

A Hungria detém atualmente a presidência rotativa da UE, durante a qual Orbán fez um voto de “Tornar a Europa Grande Novamente” e apoiou abertamente a candidatura do antigo chefe de Estado norte-americano Donald Trump à Presidência em novembro.

Orbán visitou Trump duas vezes este ano.

Orbán disse hoje que a candidatura de Trump visa “retirar o povo norte-americano de um estado liberal pós-nacionalista para um estado-nação”.

“É por isso que o querem colocar na prisão [Trump]. É por isso que querem tirar-lhe os bens. E se isso não funcionar, vão querer matá-lo”, disse Orbán, referindo-se a uma tentativa de assassínio de Trump num comício na Pensilvânia este mês.

Os comentários de Orbán hoje não são os primeiros a utilizar durante o festival na Transilvânia para gerar controvérsia. Em 2014, Orban declarou pela primeira vez as suas intenções de construir um “Estado iliberal” na Hungria e, em 2022, provocou indignação internacional depois de protestar contra a Europa se tornar uma sociedade “mista”. Reforçou a sua posição anti-imigração de longa data no sábado, dizendo que não é uma resposta ao envelhecimento da população do seu país.

“Não pode haver uma diminuição da população complementada pela migração”, disse no seu discurso. “A experiência ocidental é que se houver mais hóspedes do que proprietários, então o lar já não é um lar. Esse é um risco que não deve ser corrido.”

Orbán tornou-se um ícone para alguns populistas conservadores pela sua firme oposição à imigração e aos direitos LGBTQ+. Também reprimiu a imprensa e o sistema judicial na Hungria e foi acusado pela UE de violar as normas do Estado de direito e da democracia.

Últimas de Política Internacional

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou hoje “medidas enérgicas” contra os colonos radicais e seus atos de violência dirigidos à população palestiniana e também às tropas de Israel na Cisjordânia.
A direita radical francesa quer que o Governo suspenda a sua contribuição para o orçamento da União Europeia, de modo a impedir a entrada em vigor do acordo com o Mercosul.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi, afirmou hoje que Teerão não está a enriquecer urânio em nenhum local do país, após o ataque de Israel a instalações iranianas, em junho.
O Governo britânico vai reduzir a proteção concedida aos refugiados, que serão “obrigados a regressar ao seu país de origem logo que seja considerado seguro”, anunciou hoje o Ministério do Interior num comunicado.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou hoje uma reformulação das empresas estatais de energia, incluindo a operadora nuclear Energoatom, que está no centro de um escândalo de corrupção há vários dias.
A China vai proibir, temporariamente, a navegação em parte do Mar Amarelo, entre segunda e quarta-feira, para realizar exercícios militares, anunciou a Administração de Segurança Marítima (MSA).
A Venezuela tem 882 pessoas detidas por motivos políticos, incluindo cinco portugueses que têm também nacionalidade venezuelana, de acordo com dados divulgados na quinta-feira pela organização não-governamental (ONG) Fórum Penal (FP).
O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, vai na quinta-feira ser ouvido numa comissão de inquérito parlamentar sobre suspeitas de corrupção no governo e no partido socialista (PSOE), num momento raro na democracia espanhola.
A Venezuela tem 1.074 pessoas detidas por motivos políticos, segundo dados divulgados na quinta-feira pela organização não-governamental (ONG) Encontro Justiça e Perdão (EJP).
Na quarta-feira, o primeiro governo liderado por uma mulher em Itália cumpre três anos de mandato (iniciado a 22 de outubro de 2022).