“Em vários estados do país, os jornalistas foram obrigados a abandonar não só os seus empregos, mas também as suas rotinas, as suas famílias e as suas casas, a fim de se protegerem das ameaças de funcionários públicos que procuram silenciá-los”, explica uma investigação do portal Efecto Cocuyo (EC).
O estado de Trujillo, de acordo com o EC, tornou-se num exemplo emblemático da crise, já que nas últimas semanas, jornalistas locais tiveram de fugir desta região, temendo pela segurança e pelas suas vidas.
“Um dos casos mais representativos é o operador de imagem Paul León, que foi detido a 30 de julho, quando se preparava para filmar um protesto (…) As autoridades encontraram o cartão de identidade da jornalista que trabalha com ele na VPI TV, o que a obrigou a esconder-se para evitar represálias. Desde então, deixou de trabalhar por temer pela sua segurança, juntando-se à lista crescente de profissionais que tiveram de abandonar o seu trabalho”, explica.
Por outro lado, a jornalista Yuliana Palmar viveu em primeira mão, em Trujillo, a violência sobre quem tenta informar, durante uma manifestação, em que a rápida intervenção dos manifestantes impediu que fosse detida pelas autoridades.
No entanto, “isso não a impediu de ser agredida fisicamente, tiraram-lhe o telefone e recebeu ameaças que a levaram a abandonar Trujillo, refugiando-se noutro lugar”, explica o EC.
Em algumas regiões do país, rádios suspenderam as emissões de vários programas, durante uma semana, após as eleições, regressando depois com um perfil significativamente mais reservado.
Ainda segundo o EC, apagar entrevistas e opiniões críticas foi uma das medidas adotadas pelas rádios para evitar confrontos com o Governo, tendo muitas optado por aumentar a programação de entretenimento.
Esta autocensura, explica o portal, afeta também as redes sociais, em estados como Amazonas, Carabobo, Lara, Barinas, Portuguesa e Anzoátegui, onde a imprensa reduziu drasticamente o número de publicações, especialmente de assuntos relacionados com a oposição.
“Os jornalistas tomaram medidas extremas para se protegerem: não assinam os artigos, evitam aparecer à frente das câmaras e, em muitos casos, optam por enviar reportagens genéricas para não se exporem a represálias”, sublinha.
Em Trujillo, “já não há debate de ideias nem discussão aprofundada sobre os assuntos, não há espaço para a opinião” o que deixa os jornalistas “numa situação de extrema vulnerabilidade”, numa região onde a autoridade local utiliza um programa semanal de televisão para atacar quem se atreva a criticar o Governo.
“Isto criou um clima de terror que obriga a atuar com extrema cautela, sabendo que qualquer palavra pode desencadear uma perseguição”, nota.
Os jornalistas de Carabobo e Amazonas queixam-se que “não existe uma instituição à qual acudir, nem possibilidade de mediação” perante a intimidação por parte das forças de segurança.
Além do medo, os jornalistas sentem crescente incerteza profissional, alguns deles por se recusarem a gravar a própria voz e a fazer trabalhos especiais. Alguns optaram por ceder as reportagens a colegas radicados no estrangeiro.
Entre 29 de julho e 04 de agosto, o Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) registou 79 violações da liberdade de imprensa no país, que correspondem a 62 casos relacionados com a cobertura de protestos da população.
Estas violações incluem agressões físicas ou verbais, discursos estigmatizantes, detenções, censura, bloqueios na Internet e administrativos, assédio judicial e restrições no acesso à informação.
Segundo o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela, a entidade que atribui a carteira profissional, pelo menos oito jornalistas foram detidos desde as eleições presidenciais.