Imigração passou para topo da preocupação dos espanhóis em 3 meses

A imigração saltou para o topo das preocupações dos espanhóis em apenas três meses, segundo um estudo do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) feito após um verão de notícias permanentes sobre números inéditos de chegadas de 'pateras' às Canárias.

© Facebook Open Arms

 

O Barómetro de Setembro de 2024 do CIS, um organismo público, revelou que a imigração passou a ser considerada o problema do país que mais preocupa os espanhóis, quando no estudo anterior, de junho, era o nono.

Em três meses, a imigração destronou o desemprego e “os problemas políticos” do topo das preocupações, segundo este estudo sobre as perceções da população.

O barómetro do CIS foi feito no início de setembro, após um verão marcado por notícias do aumento de chegadas de pessoas de forma irregular às ilhas Canárias, a bordo de embarcações precárias conhecidas como ‘pateras’, oriundas do continente africano.

Um contexto que peritos em sondagens, sociólogos e outros académicos têm dito ser essencial para a análise dos resultados do estudo, alertando para um provável “efeito agosto”, já que foi um verão sem outras notícias de relevo em Espanha, com os noticiários a mostrarem repetidamente imagens das ‘pateras’, numa “sobre-exposição mediática” do fenómeno.

Numa audição recente no parlamento espanhol, a ministra com a tutela da Imigração, Elma Saiz, assegurou que a ocupação dos centros de acolhimento de migrantes adultos nas Canárias, apesar do aumento de chegadas, se tem mantido, em média, em torno dos 50%, contrariando a ideia de caos ou esgotamento, alimentada sobretudo pela extrema-direita e nas redes sociais.

A atenção mediática e política esteve porém, nos meses de verão, no caso dos menores migrantes que chegam às Canárias sozinhos, que requerem uma resposta específica, ao abrigo de leis nacionais e europeias.

Neste caso dos menores, os centros de acolhimento das Canárias estão sobrelotados, as outras regiões autónomas têm mostrado pouca ou nenhuma disponibilidade para os acolher e no parlamento nacional não foi possível chegar até agora a um acordo para alterar a lei de imigração de forma a permitir a distribuição automática das crianças e jovens por todo o território.

O ano parlamentar fechou, em julho, precisamente, com este debate sobre a lei de imigração e os menores, com a extrema-direita a associar os imigrantes, incluindo os menores de idade, à criminalidade, ao contrário do que concluem os estudos e estatísticas nacionais e internacionais.

Também a ‘rentrée’ política, no final de agosto e início de setembro, se fez em torno da imigração: o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, viajou a países da África ocidental para promover “a migração circular” e garantir que quem entra de forma irregular em Espanha terá de regressar ao país de origem, enquanto o líder da oposição, Alberto Núñez, foi a Itália elogiar a política para esta área da primeira-ministra Giorgia Meloni.

O estudo do CIS foi feito neste contexto e levou a imigração para o topo das preocupações dos espanhóis. O mesmo já tinha acontecido em 2007, coincidindo com outro pico de chegadas de migrantes às Canárias, e em setembro de 2018 e de 2019, igualmente depois de um verão e num momento de irrupção do partido de extrema-direita Vox e do seu discurso anti-imigração na política espanhola.

Em 2007, 2018 e 2019, essa perceção da imigração como um dos maiores problemas de Espanha foi conjuntural e voltou a ser relegada para segundo plano nos barómetros seguintes.

Desta vez, os peritos que têm sido ouvidos pela imprensa espanhola consideram ser ainda cedo para uma conclusão, mas realçam que em diversos estudos, incluindo os do Eurobarómetro, há uma tendência de preocupação crescente dos espanhóis em relação à imigração desde 2023.

Os estrangeiros em Espanha rondavam os 17% da população no ano passado, segundo dados oficiais, e o país continua a ser daqueles em que as opiniões hostis à imigração estão abaixo da média europeia, embora em crescendo desde a entrada do Vox nas instituições.

“[O Vox] normaliza institucional e mediaticamente o discurso anti-imigrante e isso, em Espanha, nunca tinha acontecido”, explicou o sociólogo Juan Iglesias, professor na Universidade Pontifícia de Madrid à agência EFE.

A par disso, explicou também Juan Iglesias, nos últimos meses, parece ter-se quebrado o consenso tradicional em relação à imigração que existia nos dois grandes partidos espanhóis, o PSOE (socialista) e o PP (direita), com este tema a ser usado também por estas duas forças como “arma eleitoral”.

Para além do contexto político e da época do ano em que foi feito o estudo do CIS, os peritos alertam para várias questões técnicas e metodológicas que podem ter contaminado os resultados e ter colocado a imigração no topo das preocupações dos espanhóis.

Neste contexto, realçam que quando, no inquérito, se perguntou quais os problemas do país que afetam “pessoalmente” o entrevistado, a imigração já só surgiu no quinto lugar. Um indicador, afirmam, de que quem lida diretamente com imigrantes não vê a imigração como um problema e que, provavelmente, a valorização negativa parte, essencialmente, de quem a analisa de forma indireta, através dos meios de comunicação social ou das redes sociais.

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