Associações de sargentos contestam acusação do MP a militares do Mondego

As associações socioprofissionais de sargentos e praças contestaram hoje a acusação de insubordinação por desobediência do Ministério Público aos militares da Marinha que recusaram embarcar no navio Mondego, voltando a elogiar a decisão da guarnição.

© Facebook da Marinha Portuguesa

Em declarações à agência Lusa, o cabo mor Paulo Amaral, da Associação de Praças (AP), manifestou-se indignado com a decisão do Ministério Público e chegou mesmo a alegar que esta acusação se trata de “uma encomenda” para “safar as costas” ao anterior chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo, que “não pode neste momento ficar mal visto” uma vez que “alegadamente tem perspetivas de voar um bocadinho mais alto”, aludindo a uma eventual candidatura à Presidência da República.

“Como é possível o Ministério Público acusar os militares do NRP Mondego, quando o próprio relatório que a Marinha fez em causa própria apresentava fissuras no casco, problemas na questão do tratamento das águas e dos óleos… Só quem nunca andou embarcado num navio de guerra é que pode achar que isto é uma coisa de somenos. Isto é totalmente impeditivo de um navio sair para o mar. Está aqui uma contradição tremenda”, criticou.

O presidente da Associação de Praças referia-se a um relatório de inspeção elaborado por uma equipa constituída para o efeito pela Marinha na altura, no qual se concluiu que o Mondego podia navegar em segurança, embora seja referida a existência de “fissuras na estrutura” do navio, “falta de estanqueidade”, “dificuldades de esgoto da casa das máquinas” e “incapacidade de separação de águas e óleos”.

Segundo o cabo mor, “quando os óleos do motor e a água não são separados” corre-se o risco de haver um “aquecimento suplementar” no navio que pode levar a um incêndio a bordo e, no limite, o Mondego poderia ter que pedir auxílio ao navio russo que pretendia vigiar.

Elogiando a “honorabilidade tremenda” destes militares, o dirigente da Associação de Praças (AP) manifestou-se convicto de que caso estivessem em causa vidas humanas, os militares teriam embarcado, mas tal não era o caso.

Também à Lusa, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, entendeu que “não houve propriamente um ato de insubordinação, pois os militares não abandonaram a missão, formaram no cais e informaram ao seu comandante que estariam disponíveis para a missão, mas não para aquele embarque, porque o meio não detinha as condições necessárias e podia pôr em risco a vida dos homens e a existência do próprio meio, numa atitude de grande responsabilidade e grande profissionalismo”.

O sargento sustentou que a falta de condições do navio ficou comprovada uma vez que “dias depois o navio veio a reboque de novo para o porto”, referindo-se a uma falha de “ordem técnica” registada no Mondego cerca de duas semanas depois da recusa destes militares.

“A insistência para navegar naquelas condições é que deveria ser alvo de alguma investigação”, defendeu, acusando a Marinha de não ter preservado o cenário para análise à época e ter enviado “equipas que deturparam completamente as condições em que as coisas estavam”.

Em 11 de março de 2023, o Mondego falhou uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira, após quatro sargentos e nove praças se terem recusado a embarcar, alegando razões de segurança.

A Marinha participou o sucedido à Polícia Judiciária Militar, em Lisboa, no âmbito de inquérito criminal, e instaurou processos disciplinares.

Contactada pela agência Lusa, a Marinha não quis comentar a decisão.

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