Que o primeiro-ministro não é de confiança já se sabia, tendo em conta a sua posição no Orçamento do Estado em que faltou à sua promessa eleitoral de reduzir o IRC em 2% para satisfazer os interesses do Partido Socialista e, assim, garantir que os socialistas não inviabilizavam o documento. Os empresários que votaram na AD porque acreditaram que palavra dada era palavra honrada devem estar agora bem arrependidos. Se este episódio já havia demonstrado que para Luís Montenegro palavra dada não é palavra honrada, surgiu esta semana um novo capítulo no livro da falta de ética do primeiro-ministro.
O Chefe do Executivo assinou, depois de tomar posse, o Código de Conduta de Governo no qual se lê que o “XXIV Governo Constitucional estabelece como objetivo do seu Programa a promoção da ética e responsabilidade na vida pública e a implementação generalizada de mecanismos que assegurem a transparência e a integridade do sistema democrático”. O que ficámos a saber esta semana é que transparência e integridade, apesar de estarem inscritas no Código de Conduta, não estão presentes na conduta do próprio primeiro-ministro. Perante as notícias de que a sua família possui uma empresa que contraria estas regras, Luís Montenegro continua sem vir a público dar explicações e apenas vai dizendo que “não há nenhum conflito de interesses”. Este caso é muito mais do que aquilo que representa por si só em termos individuais, é, antes, uma demonstração da forma como os políticos têm governado nos últimos 50 anos, sem qualquer pudor em contornar leis ou códigos de conduta, sem transparência, sem integridade.
Depois acham estranho que os cidadãos não confiem na classe política.
Mas sabem o que é engraçado nesta história? É que se fosse André Ventura com estes problemas de incompatibilidades já os políticos, jornalistas e comentadores lhe pediam a cabeça numa bandeja. Como é um primeiro-ministro do sistema, ninguém se insurge. Os outros até podem tentar escamotear o caso, mas fiquem sabendo que connosco não passarão!