A frente ribeirinha de Alcochete e Samouco, outrora um símbolo de identidade, património natural e tradição ligada ao Tejo, encontra-se hoje num estado lamentável de abandono. O que deveria ser um espaço valorizado, cuidado e usufruído por todos está, em muitos pontos, degradado, sujo e inseguro.
O problema mais gritante? A apanha de bivalves ilegal — uma prática descontrolada, cada vez mais frequente e impune, que põe em risco não só o ecossistema do estuário do Tejo, mas também a saúde pública, a segurança local e o modo de vida de quem sempre respeitou o rio.
Em plena zona protegida, onde as regras deveriam ser claras e fiscalizadas, vemos diariamente dezenas de mariscadores ilegais a operar livremente, sem qualquer controlo sanitário, sem licenciamento e sem consequências. Muitos destes produtos acabam em circuitos informais de venda, sem rastreabilidade, colocando em causa a segurança alimentar dos consumidores.
Enquanto isso, os moradores, pescadores legais e os cidadãos que usam a zona para lazer e descanso sentem-se cada vez mais afastados da sua própria terra. A falta de ação das autoridades competentes e a inércia do poder local face a esta realidade são, no mínimo, vergonhosas.
Mas há algo ainda mais revelador: a falta de interesse político direto por esta zona. Nas últimas eleições autárquicas, e mesmo em debates mais recentes, foi notória a ausência de propostas específicas e sérias para requalificar a frente ribeirinha. Poucos são os que se atrevem a assumir a responsabilidade por esta área ou a incluí-la como prioridade de candidatura. Isso demonstra não só um desinteresse estrutural, como um profundo alheamento da realidade vivida diariamente pelos habitantes locais.
Não se trata de criminalizar comunidades ou ignorar problemas sociais. Trata-se de garantir regras para todos, proteger os recursos naturais e preservar a segurança da população. O Tejo não pode continuar a ser um território sem lei. O rio merece respeito. E Alcochete e Samouco também.
Onde estão as fiscalizações regulares? Onde está o policiamento de proximidade? Onde estão as medidas para recuperar os acessos, limpar as margens, sinalizar zonas protegidas e devolver dignidade à frente ribeirinha?
Se nada for feito, estaremos não só a permitir a destruição de um ecossistema frágil, como a entregar o nosso território ao desrespeito e ao abandono.
É hora de agir. É hora de exigir.
Alcochete e Samouco merecem muito mais do que o silêncio cúmplice, a passividade… e
o desinteresse político.