Vivo na Suíça há mais de vinte anos e trabalho como especialista de segurança corporativa. Como tantos outros portugueses, os meus pais foram forçados a deixar o nosso país, não por vontade, mas por necessidade. A decisão de emigrar custa. Parte-se com saudade, com revolta contida, com amor a uma pátria que nem sempre retribui. Porque amar Portugal não chega quando o país insiste em abandonar quem trabalha e contribui.
O Estado português tornou-se pesado, burocrático e ineficaz. Cobra como se fosse eficiente, mas entrega pouco ou nada em troca. Impostos elevados, salários baixos, serviços públicos em declínio e uma justiça lenta empurram os cidadãos para a saída. O trabalhador honesto, que quer apenas viver com dignidade, vê-se cada vez mais sozinho num sistema que o sufoca.
Quem sai leva consigo talento, experiência e esperança. E ainda assim, continua a amar o país que deixou para trás. Muitos gostariam de regressar, mas Portugal não cria condições. E quando se regressa, percebe-se que pouco mudou. O Estado continua igual: ausente onde devia estar, presente onde só atrapalha. A meritocracia continua adiada. A dignidade, hipotecada.
Os portugueses na diáspora sentem-se completamente esquecidos pela máquina burocrática do Estado. As embaixadas e consulados fazem o mínimo dos mínimos, e mesmo isso, muitas vezes, fazem mal. O apoio é quase inexistente, os serviços são lentos e desorganizados, e a ligação à pátria reduz-se a formalidades. O Estado português devia ser mais ativo, mais presente, mais útil. A diáspora não é um fardo: é uma força viva que continua a representar Portugal no mundo, mesmo quando Portugal parece tê-la esquecido.
É irónico que tantos dos que vivem no estrangeiro sejam tratados como um número, apenas lembrados nas campanhas eleitorais. Os que partiram não o fizeram por serem menos patriotas. Pelo contrário: partiram porque recusaram aceitar um futuro de estagnação e promessas vazias. E é essa recusa que devia ser ouvida, estudada, respeitada.
Portugal tem todas as condições para prosperar. Mas para isso precisa de inverter prioridades: menos Estado parasitário, mais Estado funcional. Menos favores partidários, mais reconhecimento pelo mérito. Menos castigo a quem produz, mais apoio a quem se esforça.
Afinal, o Estado existe para servir o cidadão, e não o contrário. Quando essa verdade é esquecida, o resultado está à vista: um país onde os melhores partem e os que ficam são deixados para trás. Se queremos um futuro digno, temos de começar por mudar essa realidade. E devolver ao povo aquilo que lhe foi tirado: o direito de viver em Portugal com orgulho, justiça e dignidade.