A atual crise que se desenrola entre Israel e Palestina é um novo capítulo profundamente doloroso na longa história de conflitos no Médio Oriente.
As imagens que hão-de perdurar na memória coletiva do povo judeu, influenciando a ação de Israel, são os vídeos de mulheres arrastadas para o cativeiro, crianças mortas a tiro, jovens mulheres despidas, cadáveres profanados e ultrajados, em atos de selvajaria inqualificável.
Graeme Wood, num artigo para “The Atlantic”, descreve mesmo esta nova fase do conflito como um verdadeiro cataclismo histórico no Médio Oriente, que poderá evoluir para um conflito regional, a uma escala nunca vista desde 1973.
O Prof. Paul Poast escreve, num tweet, que “quando escrevi ontem de manhã que a ordem de segurança mundial se estava a desgastar, não imaginava que as próximas 24 horas forneceriam novas evidências que apoiam essa afirmação”, e, de facto, acumulam-se os sinais de tal erosão da ordem internacional, com a Guerra na Ucrânia, as tensões com a Federação Russa, as crises de migrantes, e as tensões cada vez mais evidentes na Ásia-Pacífico.
Stephen M. Walt, da Universidade de Harvard, escreve, com acerto, que o Hamas conseguiu uma surpresa quase total (muito como Egito e Síria fizeram há 50 anos, durante a Guerra Israelo-Árabe de 1973), e demonstrou capacidades de combate inesperadas, conseguindo orquestrar um ataque que causou mais danos a Israel do que qualquer uma das suas operações anteriores.
Neste cenário, é imperativo que não esqueçamos o grande pensador político Edmund Burke, que nos advertiu sobre a tragédia da indiferença diante do mal, pelo que não podemos deixar de adotar uma postura de discernimento e justiça ao analisar os eventos em curso.
Israel, uma nação nascida das cinzas do Holocausto, representa um farol de democracia e liberdade numa região marcada por instabilidade política crónica.
Hoje, vemos Israel sob ataque constante de organizações terroristas, que visam indiscriminadamente civis inocentes, semeando o terror e a morte.
Alexis de Tocqueville, na sua análise sobre a democracia, observou, de alguma forma, que a liberdade não é simplesmente um direito, mas também uma responsabilidade.
Israel, ao longo dos anos, tem enfrentado este mesmo desafio de garantir a sua segurança, preservando, ao mesmo tempo, os seus ideais democráticos.
A resposta de Israel é, portanto, não apenas uma questão de segurança, mas também uma defesa dos valores que formam a base de sociedades livres.
Em boa verdade, os ataques que Israel agora enfrenta vêm de entidades que, muitas vezes, não valorizam as liberdades que muitos no Ocidente consideram fundamentais.
É de notar, e Danielle Pletka ( senior fellow at the American Enterprise Institute), aponta-o bem, que o Irão tem vindo a encorajar ativamente uma operação em larga escala como esta há meses, e que estes ataques só forma possíveis com a assistência do Irão e, possivelmente, de outros atores, como o Hezbollah.
O recente ataque contra Israel a partir da Faixa de Gaza trouxe também à tona a complexidade e a delicadeza da situação geopolítica e geoestratégica nesta região.
Provavelmente, este ataque poderá fazer implodir um acordo de paz formal entre a Arábia Saudita e Israel, e pode-se espalhar da maneira mais terrível, se o Hezbollah intervir, e as células do Hamas conseguirem lançar novos ataques contra os israelitas na Cisjordânia.
O que é expectável em Gaza, agora, é uma ação militar israelita prolongada, e de grande envergadura, tanto terrestre quanto aérea.
Em Israel, os estrategas não só quererão incapacitar o Hamas por anos a fio, mas quererão que a operação tenha uma função dissuasora para o futuro.
Este embate não é, assim, apenas militar, mas também ideológico, desafiando os valores da democracia e da liberdade, intrínsecos a Israel que, como qualquer nação soberana, tem o direito inalienável de se defender contra ataques terroristas.
O Hamas, reconhecido internacionalmente como uma organização terrorista, tem como objetivo declarado a destruição do Estado de Israel.
A defesa de Israel não é apenas uma questão de sobrevivência nacional, mas também uma defesa dos valores democráticos e da liberdade, pelo que é crucial que a comunidade internacional compreenda a natureza do conflito e apoie Israel na sua luta legítima pela paz e pela segurança, posto que a defesa da democracia e da liberdade é uma responsabilidade compartilhada por todas as nações comprometidas com a paz e a justiça global.
A paz só será alcançada quando o extremismo islâmico for derrotado, e os valores da liberdade e da democracia forem afirmados como pilares inabaláveis da comunidade internacional.
Winston Churchill, com a sua visão perspicaz sobre os desafios da liderança, afirmou que “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque é a qualidade que garante todas as outras”.
A determinação de Israel em proteger os seus cidadãos é, antes de tudo, um testemunho dessa coragem.