Feminismo(s), antifeminismo e desafio ao transgenderismo: porque não podemos festejar a chegada das casas de banho mistas

Fenómenos como o aumento do número de jovens raparigas diagnosticadas com disforia de género e o aumento do número de rapazes e raparigas que insistem em ter nascido no corpo do sexo errado têm preocupado algumas feministas. Apesar de apontarem a existência de uma hierarquia masculino/feminino e a subordinação da mulher provocada por aquela, muitas feministas parecem continuar a atribuir um nível importância às forças biológicas proporcional com as forças sociais. A discussão sobre o feminismo, o papel da mulher na sociedade e as relações entre homens e mulheres, sejamos realistas, não costumava ignorar as diferenças físicas ente estes dois últimos, mesmo nos tempos áureos de Simone de Beauvoir.

O dia 15 de Dezembro de 2023 ficará na história do nosso país como o dia em que “garantia de crianças e jovens à autodeterminação e identidade de género e expressão de género” e “proteção das caraterísticas sexuais” se tornaram desculpas politicamente (e socialmente, até certo ponto) higienizadas para que menores de idade frequentem as casas de banho que quiserem sem terem de pensar nos sinais (quando não os já tiverem retirado). O “tendo sempre em consideração a sua vontade expressa” consiste numa cedência absoluta a reivindicações identitárias por parte de sujeitos dotados de direitos e deveres ainda numa etapa muito precoce da formação da personalidade. Os proclamados “defensores dos direitos humanos” do PS, do BE e tutti quanti não parecem estar dispostos a explicar em que medida o exercício do direito à proteção das caraterísticas sexuais é compatível com o exercício do direito à autodeterminação e identidade de género por crianças e jovens.

Nada a que outros países não comecem também a estar habituados. No outro lado do Atlântico, já foram aprovadas leis em cidades como Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore no sentido de implementar casas de banho “neutras em género”. Apesar de os ativistas transgénero baterem palmas constantemente que estas políticas são aprovadas, algumas feministas já se mostram preocupadas.

É o caso de Julie Beck, que em 2019, ainda quando a proposta aguardava aprovação pela Câmara Municipal (City Council) de Baltimore, afirmou, em direto com Tucker Carlson, que a utilização indiscriminada de casas de banho anteriormente distintas no que toca ao sexo (ou género) pode ser um lugar seguro para rapazes ou homens desequilibrados tentados a se aproveitarem da fraqueza e da inocência de meninos e meninas para atentar contra a integridade física e moral destes últimos. Para além disso, referiu que a negação do sexo e a substituição deste conceito por género não é benéfico para a defesa das mulheres, pois é só através do reconhecimento das diferenças biológicas que reconhecemos as situações em que os interesse de homens e mulheres estão a ser prejudicados ou satisfeitos. Dois exemplos vêm-nos à mente: a gravidez e a violação.

As feministas e os designados antifeministas poderão concordar no seguinte: a cedência à autodeterminação e identidade de género por um menor implica a negação da dimensão biológica e corpórea das crianças ou dos jovens. Coloca-os em perigo. Quando as pessoas que fazem da defesa dos interesses das mulheres uma causa principal da sua vida se queixam de que demasiados homens que exigem ser chamados de mulheres estão a ocupar os espaços de mulheres biológicas, quer seja casas de banho, concursos de beleza, competições desportivas ou outras situações, é porque a história está a dar razão a milhares de pais, tios, irmãos e amigos que se revelam preocupado com os seus filhos, sobrinhos, afilhados, outros irmãos e outros amigos que ficam submetidos a ideias e políticas construídas à pressa, pouco sólidas e perigosas para todos nós. Se quisermos combater projetos de engenharia social oriundos do Governo, do Parlamento ou de organizações internacionais, é este tipo de consenso que devemos procurar. Nem que seja política a política, medida a medida.

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