No dia 9 de Novembro de 1989,deu-se a queda do muro de Berlim.Esta data foi um acontecimento histórico que viria a mudar a geopolítica da Europa após a Conferência de Yalta em 1945.Em escassos dois anos assistimos à reunificação da Alemanha (em 31 de Agosto de 1990), ao fim do Pacto Varsóvia (em 1 de Julho de 1991) e, mais extraordinário, ao fim da União Soviética no dia 1 de Dezembro de 1991. A implosão da União Soviética deu origem a uma série de conflitos na defunta Jugoslávia, a qual já dava sinais de desagregação desde o falecimento do Marechal Tito em Maio de 1980. Também assistimos ao ressurgimento dos países Bálticos e à dissolução da Checoslováquia. A situação da Jugoslávia agravou-se de forma dramática com a independência da Eslovénia e da Croácia, a machadada final na Jugoslávia, que foi sacudida por um cortejo de horríveis guerras étnicas até 2017. Pela primeira vez, em 1999, tivemos uma intervenção da Nato na península balcânica e, mais grave, uma inexorável expansão para leste desta organização militar de âmbito defensivo, em virtude do vazio deixado por Moscovo.
Entre 1997 e 2025 aderiram à NATO dezasseis países europeus, muitos deles antigos membros da defunta organização militar criada pela extinta URSS ( o Pacto de Varsóvia), como são bons exemplos a Polónia e a Hungria. Os governantes europeus deixaram de apostar na defesa, gastando cada vez menos em despesa militar. As chefias dos países europeus acreditavam que os norte-americanos estariam dispostos a defender a Europa perante uma hipotética agressão russa. Bruxelas foi embalada pela cantiga da paz Kantiana e por uma profunda cegueira em termos de política de defesa. Os membros da NATO passaram a fazer missões meramente de policiamento com forças simbólicas em diversos teatros de operações.
Foi criada a ilusão de que o futuro seria de paz e prosperidade com o advento das energias verdes, ou do gás natural comprado a preços baixos à Rússia, como fez a Alemanha até 2022. Em 2007, o mundo foi sacudido por uma gravíssima crise económico-financeira (a crise do subprime). Muitos países europeus,são brutalmente afectados e, em sequência deste infortúnio, os membros da NATO que deveriam gastar 2% do PIB em defesa (da verba em defesa 20% em aquisição de material de guerra) cortaram ainda mais em despesa militar. Entretanto a NATO foi crescendo com a adesão em 1 de Abril de 2009 e dois novos membros-a Croácia e a Albânia. As promessas feitas aos russos na década de noventa do século passado de que não haveria expansão para o leste da Nato não foram cumpridas.A Ucrânia seria o ponto de ruptura entre o Ocidente e Moscovo.
Os membros da União Europeia sofrem de gravíssimos problemas, começando por um acentuado declínio demográfico muito preocupante, acompanhado de uma verdadeira invasão de migrantes para a Europa.Estamos a assistir a uma verdadeira substituição de populações, como aconteceu na Ásia Menor em 1071, com a derrota do imperador Romano IV Diógenes (Império Bizantino) frente aos Turcos Seljúcidas, em Manzikert. As populações de origem grega foram escorraçadas e substituídas pelos recém chegados turcos.
Esta substituição de populações tem vindo a aumentar de forma acelerada e corremos o risco de, a curto prazo, perder a identidade, sendo a Europa islamizada. A falta de gente nova aliada a salários pouco atrativos criou um novo problema no seio das Forças Armadas dos membros da NATO: a cruel falta de efectivos. Outro problema também bastante complexo é a dependência da Europa em relação aos Estados Unidos, em termos de toda a arquitectura de defesa, que foi criada pelos norte-americanos. Desde a logística, transporte, comunicações, munições carros de combate ou aviões de combate estão dependentes da América, como defendeu muito bem o general françês Vincent Desportes numa entrevista televisiva recente (possível assistir no Youtube :” Guerre en Ukraine : Vers la fin de l´Otan-Vincent Desportes”).
Os países europeus também estão reféns das matérias-primas para fabricar munições caso da celulose de algodão que é importada dos Estados Unidos, China ou da Índia. Sem esta matéria prima é impossível fabricar munições. Os membros da NATO não tem munições.Aliás,o Exército Federal Alemão só tem munições para um dia de combate!
Mas há mais problemas:
O número de horas de treino dos pilotos que no mínimo deverá ser de 180 horas por ano, não é respeitado, como é bem patente na Armée de L`Air e de Espace i.e Força Aérea Francesa. (caso dos pilotos dos caças Dassault Rafale). Os efectivos militares da Aliança Atlântica são esqueléticos, assim como o custo de aquisição de novos materiais de guerra tem sofrido aumentos astronómicos, não só por via da inflação mas também pelas constantes actualizações os chamados upgrades.
Mas os problemas, que os países europeus enfrentam, ainda são maiores, pois têm dividas externas monstruosas, como é o caso do Reino Unido, da França da Alemanha e dos Países Baixos. Como é que se vai financiar a industria de defesa perante um quadro tão negro, de desinvestimento em defesa durante décadas ?
Será necessário cortar nas pensões, nos ordenados dos funcionários públicos e subir impostos, como os “Imis”, ou os impostos sobre os rendimentos prediais, acompanhado de mais dívida pública e inflação?
O actual executivo de Donald Trump exige um aumento na defesa para 5% do PIB, isto significa que Portugal com o PIB de 2024 teria de gastar 13.000 milhões de euros
em defesa anualmente.Pelos últimos dados a serem fiáveis, Portugal não gastou 1%. Para tal o Estado Social teria de ser posto em causa! Os países europeus como a França, a Alemanha, a Itália ou os Países Baixos, enfrentam grandes problemas com o défice público e com a dívida pública. Os gastos na aquisição de material de guerra são cada vez mais onerosos, Um bom exemplo é o caso do carro de combate Leopard 2, de fabrico alemão, que já tem muitas versões desde 1979, graças à sua excelente versatilidade.O seu preço unitário em 2007 era de cerca de 5,8 milhões de euros na versão Leopard 2A6, Esta é a versão do MBT (Main Battle Tank) Leopard 2 usado pelo Exército Português. que foi adquirido a preço de saldo aos Países Baixos, em 2007, Neste momento a última versão que é o Leopard 2A8 já ascende aos 30 milhões de euros.e já tem encomendas de vários parceiros da NATO. como é o caso da Suécia.
A Alemanha Federal é um excelente exemplo no desinvestimento em defesa. Assim, em 1985 tinha cerca de 5137 carros de combate, neste momento possui apenas 296 unidades. O declínio diz tudo, da situação catastrófica em que se encontra.. A sofisticação e a manutenção dos equipamentos são cada vez mais caros e torna tudo proibitivo, devido às restrições orçamentais. Como acontece com o Exército Francês que tem tem stock, metade da sua frota de carros de combate. No que diz respeito às aeronaves de combate, o preço do Dassault Rafale ou do F 35 Lightning, os chamados MRCA (multi role combate aircraft), ultrapassa os 200 milhões de euros. O sucessor do F 35 Lightning de fabrico americano ultrapassa os 600 milhões de euros, segundo os últimos estudos. A degradação e o desinvestimento em defesa dos países europeus, membros da NATO, agravou-se com o actual conflito na Ucrânia ( a invasão russa a 24 de Fevereiro de 2022). A cruel falta de munições e equipamentos militares, de países como a França, a Alemanha ou Reino Unido acentuou-se, pois no seu conjunto estes países tinham cerca de 1.169 carros de combate, no ano de 2018. Passados sete anos, (Fevereiro de 2025) somente 929. Este é um de muitos exemplos, do que se passa no quadro de forças militares. Mas temos, algumas exceções: Como a Polónia que apostou seriamente na aquisição de novos equipamentos, a qual terá futuramente a maior e mais poderosa frota de carros de combate da NATO na Europa, sem falarmos da Turquia. A Polónia irá construir cerca de 820 tanques K2 Black Panther de fabrico sul-coreano. A Itália também apostou na modernização das suas forças terrestres, através de um convénio entre a Leonardo com a KNDS Deutschland, Como acontece com a aquisição e construção do futuro MBT Panther KF51, que será o mais potente e moderno carro de combate da NATO.
No Mediterrâneo, temos a ascensão das marinhas italiana e turca, pondo em causa a hegemonia da Marine Nationale Francesa. A modernização das duas marinhas tem sido fruto de colaboração entre vários estaleiros navais. Caso da Navantia Espanhola, com estaleiros turcos ou, da Fincantieri italiana, com a Naval Group francesa, donde saíram excelentes projectos de vasos de guerra, caso das fragatas da classe FREMM (projecto franco-italiano). Este modelo de fragata, foi encomendado pela Marinha Americana, aos estaleiros navais da Fincantieri, com os critérios da US.Navy, dando origem a uma futura classe de fragatas (Classe Constellation). O primeiro vaso de guerra deverá entrar em serviço em 2029. O declínio naval da França, mas especialmente da Inglaterra é assustador. A tradicional Royal Navy tem em comissão 14 destroyers e fragatas. A marinha francesa tem cerca de 22 unidades (destroyers e fragatas) deste tipo em serviço. A marinha turca, tem em serviço 13 fragatas, mais do que a Royal Navy que só tem 8 unidades A Royal Navy, teve de retirar três fragatas de serviço, por falta de tripulações.A Marinha de Autodefesa Japonesa, tem mais destroyers e fragatas, do que a soma das duas marinhas mais poderosas da Europa (Reino Unido e França). Ou seja do lado nipónico temos 48 destroyers e fragatas face a 36 dos ingleses e franceses, assim como mais submarinos. O Japão possui 24 unidades face a 18 submarinos nucleares dos seus congéneres europeus.
No entanto, os países europeus tem juntado, as suas sinergias, noutros sectores da defesa, como aconteceu entre a França e a Alemanha Federal, no sector de viaturas blindadas, através da fusão da Nexter francesa com a alemã Krauss-Maffei, dando origem ao gigante KNDS-KMW+Nexter Defense Systems, responsável pela construção da nova geração de carros de combate ou MBTs. Os italianos da Leonardo, também se associaram a este gigante, para modernizar o seu exército. A indústria aeronáutica europeia também dá cartas com os caças da Dassault ou da Eurofighter do consórcio BAE Sistems mais a Airbus e a Leonardo ( Reino Unido, Itália, Alemanha e Espanha). Relativamente as encomendas de aeronaves de combate (MRCA) os EUA representam 63 % do total das encomendas para o seu F 35 Lightning, (455 aeronaves) face a 261 aeronaves por parte da Dassault, Eurofighter e Saab. Este peso por parte dos Estados Unidos, demonstra a enorme fragilidade e dependência da Europa, face aos Estados Unidos e do seu poderoso complexo industrial.
Uma outra forma, de aquisição de equipamentos militares dentro da União Europeia, advém do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) . è o caso da construção do NRP D.João II para a Marinha de Guerra Portuguesa, que é um novo tipo de navio.Este é um exemplo, que poderá ser muito útil, para outros equipamentos militares. O chamado Navio Plataforma Naval Multifuncional, um tipo de vaso de guerra com algumas semelhanças com o turco Anadolu (baseado na classe espanhola D.Juan Carlos I).Aliás os estaleiros turcos da STM estão a construir dois navios reabastecedores para a Armada Portuguesa. A ordem de construção desta unidade para a Marinha Portuguesa, foi dada em Outubro de 2023, através do processo 3023004465. Se tudo correr dentro do previsto, a comissão do NRP D.João II será em 2026.
Finalmente, a Aliança Atlântica criada em 1949 é constituída por trinta países europeus e dois da América do Norte (Estados Unidos e Canadá). Os países europeus, são trinta nações, com muitas diversidades e com interesses muito próprios. Isto levanta, outra questão conciliar estes interesses, não caindo na fantasia de um exército federal, que não passa de uma quimera.A Europa, está prisioneira, das suas grandes debilidades e da sua dependência face aos Estados Unidos. Neste momento, atravessa uma gravíssima crise existencial! A saída dos Estados Unidos da NATO não será boa quer para a União Europeia, nem para a sobrevivência da NATO. A prosperidade da Europa, dependeu sempre destas duas organizações e do apoio americano.