O caso mais recente e flagrante é o de uma criança de Guimarães que foi transferida, na segunda-feira, para o Hospital D. Estefânia, em Lisboa. Responsáveis do Hospital de Guimarães referiram à imprensa que não era um paciente urgente, mas com necessidade de cuidados intensivos que só podem ser prestados ou no Porto ou em Lisboa. No entanto, por esclarecer está ainda o facto de que uma criança teve de percorrer 360 quilómetros para poder ser submetida a uma cirurgia. Por que razão não foi operada no Porto?
“É uma vergonha uma coisa destas acontecer. Como é que é possível uma criança precisar de percorrer mais de 300 quilómetros para ter acesso aos cuidados médicos de que necessita? Não há palavras para descrever o ultraje aos portugueses que esta situação representa”, disse o Presidente do CHEGA ao Folha Nacional.
Mas este não é o único caso demonstrativo da forma como o SNS não está a conseguir responder às necessidades dos pacientes.
A Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, por exemplo, esteve fechada ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), numa altura em que havia cinco mulheres em trabalho de parto, uma vaga para emergência e três mulheres à espera de alta. “As altas podem surgir a qualquer momento e nesse caso pode ganhar-se algum espaço e com isso volta a abrir o atendimento ao CODU, mas para já não há essa previsão”, disse a fonte do centro hospitalar, que, além da MAC, integra os hospitais de São José, Capuchos, D. Estefânia, Curry Cabral e Santa Marta. A mesma fonte adiantou que a MAC está a ter “um acréscimo de 30% de partos” devido ao fecho de serviços de urgência de vários hospitais, tendo atendido no domingo na urgência 60 grávidas, mais 12 do que no mesmo dia de 2022, e no sábado atendeu 78, mais 17. Este ano, até 03 de dezembro, a MAC já realizou 3.383 partos, mais 17,4% do que em 2022 (2.881), segundo dados do centro hospitalar, que precisa que o maior número foi registado em outubro, totalizando 362, mais 30,2% do que em 2022, seguido de novembro, com 343 (+32,4%), setembro, com 340 (+26,4%), agosto, com 336 (+24,4%) e julho, com 329 (+23,2%).
As limitações nos serviços de urgência também estão a ter impacto no Hospital São José, que viu aumentar a afluência no passado fim de semana. “Os fins de semana que por natureza são dias calmos neste caso foram dias complicados com maior número de casos e com maior gravidade”, disse a fonte do CHULC, observando que diariamente cerca de 40 doentes aguardam vaga para serem internados no hospital.
No feriado de 08 de dezembro, o Hospital São José recebeu nas urgências 770 doentes, mais 169 do que no mesmo dia de 2022, no sábado o número subiu para 793 (mais 79) e no domingo baixou ligeiramente para os 758 (mais 102). Diariamente, cerca de 40 doentes aguardam vaga para serem internados no Hospital São José. Em relação ao Hospital de Santa Maria, fonte hospitalar adiantou que atualmente há 180 doentes em circulação nas urgências, dos quais 120 são casos “complexos ou muito complexos”.
“Temos 180 doentes em circulação na urgência, nas várias fases do processo – na triagem, na primeira observação, a aguardar exames, à espera de resultados, de diagnóstico, de internamento”, indicou.
A mesma fonte disse ainda que no domingo foram assistidas 230 crianças na urgência pediátrica. “Foi um dos maiores números deste ano e um dos maiores dos últimos anos”, salientou. Sobre o que está a ser feito para contornar a sobrelotação, segundo a fonte, o hospital está a “tentar agilizar internamentos”, reconhecendo que “os tempos de espera não são os ideais, mas não são ainda muito dilatados”. “Cria uma grande pressão no serviço e forçosamente levará a tempos de espera que são indesejáveis”, acrescentou. Segundo a Direção Executiva do SNS, 33 serviços de urgência “vão estar a funcionar com limitações esta semana e 50 unidades a funcionar em pleno (60%), dos 83 pontos em todo o país”. As especialidades com mais constrangimentos nas urgências são cirurgia geral, pediatria, ortopedia e ginecologia e obstetrícia, mas há quatro hospitais que apresentam, em alguns dias, limitações nas urgências da Via Verde AVC, nomeadamente Viana do Castelo, Guarda, Santarém e Garcia de Orta, em Almada.
Esta semana demitiu-se a presidente do conselho de administração do Santa Maria, Ana Paula Martins, que afirma que, “após profunda reflexão pessoal, a presidente do CHULN entende que o mandato para o qual tinha sido nomeado no início de 2023 se esgota com a extinção do Centro Hospitalar Lisboa Norte e a criação da ULS [Unidade Local de Saúde] e que não é elegível para dirigir este novo orgão”.
Ana Paula Martins confirmou que não apresentará candidatura à presidência da Unidade Local de Saúde (ULS) Santa Maria, o novo modelo de organização que a partir de 1 de janeiro de 2024 reunirá os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente com Cuidados de Saúde Primários do Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Norte e Oeste (Mafra).
O presidente do CHEGA pediu entretanto ao Governo que “meta a mão na consciência e não nomeie 300 pessoas para Unidades Locais de Saúde” a três meses de eleições legislativas.
André Ventura defendeu também que estas unidades não devem entrar em vigor. “Começa a criar-se a convicção política maioritária de que estas unidades não fazem sentido entrar em vigor a 01 de janeiro, uma vez que o Governo vai mudar, segundo tudo indica, em março”, considerou, pedindo também a intervenção do Presidente da República.
*Com Agência LUSA