FMI alerta que inflação já não vai contribuir para redução dos défices

A vice-diretora do departamento dos assuntos orçamentais do FMI, Era Dabla-Norris, alertou hoje que a inflação já não irá contribuir para a redução dos défices e que os níveis de dívida ainda são elevados em muitos países.

© FMI

Em entrevista à Lusa, à margem dos encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorrem em Washington, nos EUA, Era Dabla-Norris recordou que os níveis elevados de inflação contribuíram significativamente para a redução dos défices em 2022.

No entanto, “o seu papel é agora menor porque, mesmo que a inflação ainda esteja acima dos níveis pré-pandémicos, foi incorporada nas expectativas”.

“Na atual conjuntura, a inflação surpreendente não irá contribuir para a sustentabilidade orçamental e os níveis de dívida ainda são muito elevados em muitos países”, adverte.

Segundo Era Dabla-Norris, como os surtos de crescimento “também são improváveis (ajudam a aumentar as receitas), o único caminho para atingir níveis mais baixos de défices e de dívida é através de uma consolidação orçamental”, ou seja, “cortar transferências não direcionadas, reduzir subsídios regressivos e ineficientes que, de qualquer forma, são na sua maioria regressivos, alargar as bases tributárias e colmatar lacunas”.

“As receitas normalmente acompanham muito de perto o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, pelo que, como percentagem da produção total, não são muito afetadas, mas são superiores à inflação esperada”, indica, acrescentando que “embora alguns ganhos ocorram porque as faixas de taxas de imposto são definidas em termos nominais”.

Neste sentido, realça que “à medida que o rendimento nominal cresce, as empresas e as famílias poderão mudar para regiões com taxas de imposto mais elevadas (mesmo sem testemunhar ganhos de rendimento real”, ainda que esses efeitos não sejam “muito grandes”.

Era Dabla-Norris considera, contudo, que os governos devem calibrar o ritmo de consolidação às circunstâncias específicas de cada país, estabelecendo um equilíbrio entre os riscos orçamentais e a força da procura privada para evitar ajustamentos perturbadores.

“A consolidação orçamental pode reduzir a dívida pública de forma mais eficaz quando concebida de forma adequada e realizada enquanto a economia está a crescer. A consolidação antecipada é especialmente desejável para economias com elevados riscos de dívida, que carecem de quadros credíveis de médio prazo”, justifica.

Neste sentido, a vice-diretora do departamento liderado pelo antigo ministro das Finanças português Vítor Gaspar advoga que “os governos devem mudar de atitude, deixando de agir como uma seguradora de primeiro recurso e concentrando-se nos seus objetivos principais de enfrentar os desafios estruturais, reduzir a pobreza e promover o crescimento sustentável”.

O FMI elenca que para alcançar uma consolidação orçamental mais decisiva, os legados das medidas discricionárias da era da crise devem ser “imediatamente eliminados” e as receitas proporcionais às despesas.

“Este esforço poderia potencialmente aumentar os rácios impostos/PIB em cinco a oito pontos percentuais nas economias de mercado emergentes e em sete a nove pontos percentuais nas economias de baixo rendimento”, exemplifica.

Últimas de Economia

As exportações e as importações de bens aumentaram 23,5% e 15,5% em julho face ao mesmo mês de 2023, sobretudo impulsionadas por transações associadas a trabalho por encomenda, divulgou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os patrões aguardam que as Finanças deem mais “pistas” sobre as medidas fiscais para 2025, nomeadamente no IRC, enquanto os sindicatos defendem que o Governo pode ir mais longe no acordo de rendimentos para os salários.
Os roubos de cortiça têm vindo a agravar-se nos últimos anos, gerando elevados prejuízos, e os produtores querem que estes sejam classificados como "crime ambiental", exigindo ao Governo o reforço da vigilância, das penas e multas.
O limite total da despesa para 2025 definido pelo Governo vai aumentar 19,3%, para 425,9 mil milhões de euros, segundo o quadro plurianual das despesas públicas, remetido hoje pelo Governo ao parlamento.
Um estudo da associação que representa empresas agrícolas do sudoeste alentejano revela que a escassez de água é a “maior preocupação”, apontando a necessidade de o Governo implementar uma estratégia nacional para a gestão dos recursos hídricos.
As taxas máximas dos cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias, facilidades de descoberto e ultrapassagens de crédito, vão recuar 0,1 pontos percentuais, para 19,1%, no quarto trimestre face ao anterior, anunciou esta quinta-feira o BdP.
O Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) pagou aos agricultores quase 54 milhões de euros até 23 de agosto, destacando-se os montantes no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020.
O fosso entre os rendimentos do trabalho e os rendimentos do capital agravou-se nas últimas décadas, advertiu hoje a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A produção industrial recuou, em julho, 2,1% na zona euro e 1,9% na União Europeia (UE), com Portugal a registar a terceira maior subida homóloga (2,0%), divulga hoje o Eurostat.
A indústria portuguesa de calçado criou 45 novas empresas e encerrou 25 desde início do ano, segundo dados da Informa DB citados pela associação setorial APICCAPS, para quem esta é “mais uma prova" da "vitalidade e renovação" do setor.