Primeira vitória permite a Milei exibir capacidade de governar em minoria

A meia sanção da Câmara de Deputados da Argentina ao pacote de leis conhecido como “Lei Bases” permite ao Presidente Javier Milei adotar o estilo pragmático e provar que pode avançar com reformas, apesar da sua absoluta minoria parlamentar.

©facebook de Javier Milei

“A aprovação parcial da ‘Lei Bases’ foi a primeira prova de fogo que Milei superou para demonstrar que pode tomar decisões com base em consenso, diálogo e acordos. Até agora todos os analistas políticos perguntavam-se como faria Milei para governar sem maioria para aprovar leis. Essa é a grande novidade desta vitória legislativa, independentemente do seu conteúdo”, explica à Lusa o cientista político Lucas Romero, diretor da consultora Synopsis, uma referência na Argentina.

Nesta terça-feira (30), depois de 29 horas e 20 minutos de debate, a segunda mais extensa jornada legislativa da história argentina, o governo obteve a sua primeira vitória na Câmara de Deputados, conseguindo a meia sanção da chamada “Lei Bases”, um pacote de ferramentas básicas com as quais o presidente Javier Milei pretende desregulamentar o Estado e modernizar a economia.

Em meados de maio, quando se prevê o tratamento no Senado, Milei poderá conseguir a sua primeira lei, cinco meses depois de assumir.

“Quando olhávamos para este governo, em absoluta minoria, víamos que seria necessária muita construção política para tomar decisões. Ao mesmo tempo, víamos um Presidente intransigente e dogmático, distante desse objetivo. Agora, estamos a ver um Milei muito mais pragmático”, compara Romero.

A oficialmente chamada “Lei de bases e de pontos de partida para a liberdade dos argentinos” foi aprovada em geral por 142 votos a favor, 106 contra e cinco abstenções. Para a aprovação, eram necessários 129 votos a favor, um limite desafiante para um governo com apenas 37 deputados, cerca de 15% dos deputados.

Na votação em particular de cada um dos 25 capítulos da lei, além de 21 capítulos de um pacote fiscal, as aprovações oscilaram entre 134 e 142 votos.

No Senado, no entanto, o desafio será ainda maior. Milei conta apenas com 10% dos senadores, precisando exercer ainda mais o jogo político por um estreito caminho de opositores.

Em fevereiro, a tentativa de aprovar a “Lei Bases” fracassou quando o Governo decidiu retirar a o texto do debate, depois que a oposição começou a alterar cada inciso, de cada artigo.

De fevereiro para cá, enquanto o Presidente Javier Milei desdenhava o que chama de “casta política que o impede de governar”, procurou negociar um consenso com a mesma “casta”.

O resultado foi um pacote de leis mais do que desidratado, longe do ideal pensado pelo Governo, mas dentro do possível permitido pela oposição.

“Milei passou de intransigente e ambicioso a limitado pelo sistema político que confrontava. Começa a entender o seu papel num sistema de decisões. Esse é o sinal que os analistas económicos e o Fundo Monetário Internacional queriam ver”, indica Lucas Romero.

Daqueles 664 artigos iniciais com seis anexos, restaram apenas 232 artigos com um único anexo. Foram excluídos, portanto, 432 artigos.

A reforma laboral, por exemplo, diminuiu de 60 artigos a 15, excluindo todo o capítulo sindical.

A “reforma” é agora apenas uma “modernização” que flexibiliza o modelo de emprego, mas não afeta o poder dos sindicatos.

Outro aspeto desidratado é o capítulo de privatizações. Das 41 empresas estatais privatizáveis, restaram apenas 11. As outras 30 empresas escaparam da venda.

O governo também ficou proibido de acabar com diversos organismos públicos que tinha prometido eliminar.

A concessão de superpoderes passou de onze áreas durante dois anos para apenas quatro durante um ano. Nenhuma área é sensível: administrativa, económica, financeira e energética.

“O mercado quer saber se Milei está limitado a tomar decisões apenas sobre o gasto público ou se consegue avançar com reformas estruturais. Até agora, o Presidente só avançou em atacar o défice fiscal. Faltam as leis para desregulamentar o Estado”, aponta o economista Rodrigo Álvarez.

A primeira vitória legislativa de Milei é um trunfo a ser exibido a investidores e ao Fundo Monetário Internacional. As ações das empresas argentinas em Wall Street subiram até 7% e a bolsa de valores de Buenos Aires subiu 3,8%.

“Acabo de chegar dos Estados Unidos. Investidores querem provas de que a Argentina possa ser sustentável em termos fiscais, que possa acumular reservas internacionais e que o governo possa aprovar leis. Querem saber se Milei tem músculo político para isso”, conclui Rodrigo Álvarez.

Últimas do Mundo

A agência de combate à corrupção de Hong Kong divulgou hoje a detenção de oito pessoas ligadas às obras de renovação do complexo residencial que ficou destruído esta semana por um incêndio que provocou pelo menos 128 mortos.
O gato doméstico chegou à Europa apenas há cerca de 2000 anos, desde populações do norte de África, revela um novo estudo que desafia a crença de que o berço deste felino é o Médio Oriente.
Os estabelecimentos hoteleiros da região semiautónoma chinesa de Macau tiveram 89,3% dos quartos ocupados no mês passado, o valor mais elevado para outubro desde antes da pandemia de covid-19, foi hoje anunciado.
A infertilidade afeta uma em cada seis pessoas no mundo em algum momento da sua vida reprodutiva e 36% das mulheres afetadas também são vítimas de violência por parte de seus parceiros, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O número de mortos pelas cheias no sul da Tailândia aumentou para 145, anunciou hoje um porta-voz do Governo tailandês numa conferência de imprensa, quando as chuvas também estão a provocar mortes nos países vizinhos.
Andriy Yermak, o homem mais poderoso depois do Presidente ucraniano, está a ser investigado por corrupção ligada à Energoatom. O NABU entrou esta sexta-feira na sua casa, abalando o núcleo duro do poder em plena guerra.
Pelo menos 128 pessoas morreram em consequência do incêndio que devastou um complexo residencial em Hong Kong na quarta-feira, de acordo com o balanço atualizado esta sexta-feira, 28 de novembro, pelas autoridades locais, que deram conta ainda da existência de 79 feridos.
Famílias imigrantes estão a viajar propositadamente para deixar adolescentes em instituições espanholas e aceder a benefícios públicos — um esquema que já envolve dezenas de casos e redes organizadas. O CHEGA avisa que Portugal “pode ser o próximo alvo” se não fechar urgentemente brechas legais semelhantes.
A Disney retirou pela primeira vez desde 2019 qualquer referência a “diversidade”, “equidade” ou “inclusão” dos seus relatórios oficiais, marcando um recuo histórico na estratégia ideológica que dominou a empresa nos últimos anos. Para o CHEGA, esta mudança demonstra que “o público está farto de propaganda disfarçada de entretenimento”.
A procuradora federal de Washington D.C. acusou hoje o suspeito do ataque contra dois agentes perto da Casa Branca de três crimes de tentativa de homicídio e um de posse ilegal de arma de fogo.