Chamavam-se Carolina Amália e Josefina Adelaide, filhas de um abastado negociante italiano, cá por Lisboa estabelecido. O pai morreu e as filhas sem dinheiro, tiveram de mudar de uma rica casa de S. Bento para um modesto andar perto da Escola Politécnica. A mania das grandezas, os “tiques” e a nova condição exposta à critica e à maldade lusitana, trouxeram-lhes notoriedade e a alcunha de Manas Perliquitetes. Estávamos em 1889 e Rafael Bordalo Pinheiro, sempre atento, resolveu eternizá-las no jornal “Pontos nos ii” e, a propósito do que Portugal iria apresentar na Exposição Universal de Paris, dedicou-lhes uma quadra famosa:
Dois frascos de bandolina
Para alisar gentis topetes
Três anéis de coralina
E as manas perliquitetes.
Facto é que existem outras manas nos dias de hoje, mas como estas que vou contar é difícil encontrar neste mercado jornalístico. Pode parecer ficção, mas não é. O ridículo das suas posições, os alvos escolhidos, a sustentação das acusações, o facciosismo dos seus raciocínios para além da obediência canina à “his master voice” fazem-me lembrar as Perliquitetes, as manas de diferente idade e físico, mas semelhantes no escárnio e no mal dizer.
Estava no meu “zapping” procurando por algo decente na televisão quando, ao passar pela SIC NOTÍCIAS, passava das 22h00 do dia 24 de julho, dei de caras com um par de jarras, se me é permitida a expressão. Nada mais, nada menos, que Maria João Avilez e Bernardo Ferrão. A primeira uma jornalista reconhecida, que já teve os seus dias e que agora, para ganhar a vida, se dedica a dizer mal das pessoas, principalmente do Ventura, a quem reserva sempre uma especial antipatia.
O segundo, um vulgar jornalista, agora na moda por causa do Polígrafo, uma espécie de rodízio onde a carne dos expostos é servida mal ou bem passada, conforme a inclinação dos acusados, se é que me faço entender. Se fôr o Ventura então, a “chicha” é para servir queimada como se de um pedaço de carvão ardido se tratasse. Sem mais comentários chamarei a estes dois seres as novas e modernas Manas Perliquitetes porque foi o que me lembraram de imediato mal comecei a vê-las. Voltei atrás umas duas vezes para ter a certeza do que estava a ouvir. E, caros leitores, o que ouvi eu?
Que o Ventura tinha tratado por VOCÊ o Chefe Da Casa Civil do Presidente da República e que o presidente da comissão de inquérito do caso das gémeas, Rui Paulo Sousa, não lhe tinha chamado à atenção por também ser do CHEGA e ter receio de, já no corredor, levar “tau-tau” do Ventura. Conheço pessoalmente Rui Paulo Sousa e a sua impecável postura como presidente de tal comissão e sei que não ligou, e muito bem, patavina ao assunto.
Se eu não tivesse ouvido a mana mais velha dizer tal dislate ou se me tivessem contado, não acreditava. Como diria o outro que, desde que tinha visto um porco a andar de bicicleta, acreditava em tudo. Factos, porém, são, que hoje em dia, a anormalidade a decência e a noção de democracia, permitem a velhas e a novos dizer o que quer e lhe apetece desde que, no fim, digam mal do Ventura.
Que tinha tratado o chefe da casa civil do vosso presidente Marcelo por “Você”. Que desfaçatez! Que má criação! Que atrevimento! Que falta de respeito pelo lugar e pela Assembleia. Na realidade, eu ainda não tinha visto tudo e melhor que na destreza do porco ciclista, eu vi nas caras das manas perliquitetes a condenação daquilo que as pessoas normais consideram um ato banal, mas próprio de pessoas que pouco ou nada têm para dizer.
No meio do “senhor presidente dá licença? Até ao “senhor deputado, faz favor” durante largos minutos, é natural que saia um “você” agora considerado ofensivo por estas prendas. Ofensivo não só pela semântica, mas principalmente por ser usado em casa fina e onde as regras da etiqueta são, ou deveriam ser, seguidas pelos senhores e senhoras que nos representam.
A mais velha das Irmãs, no fundo ainda consciente da importância do lugar acha, que para a assembleia da república, não parece bem este tipo de tratamento e parece gostar mais da “vossa excelência isto, vossa senhoria aquilo”. Concordo! Porém, quanto a costumes e à maneira de trajar, nenhuma das manas se manifestou. Porque, digo eu, criticar a maneira de estar ou de vestir pode ferir o estatuto propositadamente criado para esta esquerda caseira que, em qualquer restaurante “mais fino” como eles gostam de frequentar no estrangeiro e sem que possamos vê-los, não podem entrar de “chanatas” ou sem gravata.
Sou da opinião de que os senhores deputados e deputadas deveriam andar vestidos de maneira a demonstrar respeito não só pelo chão que pisam, mas também pelos milhares de portugueses que representam. Mas não o fazem. À esquerda a má apresentação e o mau gosto parece tradição e andar de blue-jeans esfarrapados, de t-shirts e de brincos à pirata das caraíbas, tudo vale atendendo à muita consideração que dizem ter pela casa da democracia deles.
Um velho como eu, que se sente incomodado pelo modo de vestir abandalhado daqueles que infelizmente foram escolhidos para deputados da nação, podia “dar de barato” estes caricatos modernismos, fechar os olhos às despenteadas cabeças, ao mau gosto das ditas deputadas ou ao cheiro de outras que parecem não tomar banho há semanas, ao lado de quem nunca por nunca, quereria estar.
Talvez por isso ache espantoso como as Manas Perliquitetes se continuem “a dar ao ridículo” e a preocuparem-se com coisas menores. Como o “Você” do Ventura que parece um eufemismo em relação à posição da pessoa a quem se dirigia.
E meus senhores e minhas senhoras, não conseguem ver o que se passa neste velho e glorioso país? Não conseguem ver mesmo ao ponto que nos tentam levar só para venderem a sua democracia. A democracia de uma esquerda sem valores, que perverte novos e velhos em nome de uma igualdade que nem eles próprios entendem, mas que os nossos filhos terão de pagar. Ó se terão e
A pronto!