As escolas francesas homenagearam as vítimas do terrorismo islamista e a questão das consequências da imigração em massa voltou a gerar polémica. A imigração ainda é uma oportunidade para a Europa?
No dia 13 de Outubro, o primeiro-ministro francês tornou pública a mensagem: «Com três anos de diferença, quase no mesmo dia, dois professores foram mortos por terroristas islâmicos. Ensinavam a História de França, o conhecimento do mundo e o amor pela nossa língua. Transmitiam aos seus alunos o gosto pela aprendizagem e o espírito de cidadania.»
Michel Barnier referia-se a Samuel Paty, morto e decapitado em 2020 por um aluno checheno, que vivia em França com o estatuto de refugiado, depois de o professor ter mostrado na aula as caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal satírico Charlie-Hebdo, e a Dominique Bernard, esfaqueado até à morte há um ano por um aluno originário da Inguchétia, que estava a ser vigiado pelos serviços de informações por «radicalização islâmica».
As cerimónias de homenagem nas escolas francesas no dia seguinte à mensagem do primeiro-ministro foram consideradas por muitos como insuficientes ou, pelo menos, não terem em consideração que esta violência não é apenas resultado do radicalismo islâmico, mas sobretudo da imigração em massa.
Uma das reacções mais polémicas foi a da Action Française, levada a cabo num cemitério de Mulhouse, na Alsácia. Activistas deste movimento nacionalista e monárquico puseram uma placa dedicada «Aos filhos da França, mortos pela imigração», com o nome de cerca de centena e meia de pessoas, entre as quais os professores Paty e Bernard, mas também a jovem Philippine, uma estudante universitária de 19 anos assassinada num parque público em Paris, em Setembro deste ano. O homicida, um marroquino que havia sido condenado por violação em 2021, estava sob a Obrigação de Saída do Território Francês (OQTF), o que lançou o debate sobre o cumprimento destas ordens de expulsão e as consequências de não serem executadas.
Como seria de esperar, a extrema-esquerda considerou a acção como inaceitável e típica de um «grupúsculo da extrema-direita» e a Liga dos Direitos do Homem avançou já com uma queixa judicial. Escusado será dizer que se trata da mesma extrema-esquerda que não se inibe de apoiar terroristas noutros países e que se exulta com qualquer acção de provocação e agitação, mesmo violenta, desde que venha do seu campo político-ideológico. É a habitual duplicidade de critérios da esquerda, que considera ter a «superioridade moral».
Nesta guerra de representações, há também um destaque às palavras e há quem use «francocídio» para descrever casos destes. O neologismo foi criado por Éric Zemmour quando foi candidato presidencial em 2022, dizendo ter-se inspirado na definição de «feminicídio» para formular este termo que significa um crime cometido por um estrangeiro contra um francês.
Toda esta realidade, da violência crescente ao asselvajamento da sociedade, bem como à polarização política e à guerra das palavras, parecia até há pouco tempo algo estranho e longínquo. Mas hoje vemos exactamente o mesmo fenómeno produzir as mesmas consequências em Portugal. Se nada se alterar, não faltará muito para vermos homenagens às vítimas da imigração no nosso país e vozes levantarem-se contra os «lusocídios».
Durante muitos anos, ouvimos em terras gaulesas que a imigração era une chance pour la France (uma oportunidade para a França). Anos depois, sabemos que assim não foi e que hoje é a maior preocupação dos franceses, o que motivou o actual ministro do Interior, Bruno Retailleau, a propor uma política de imigração mais restritiva. Noutros países europeus que enfrentam a imigração em massa há mais tempo, governos de diferentes cores políticas tendem para medidas de maior controlo migratório. E em Portugal, de que estamos à espera? Das vítimas da imigração?…