Mudança no regime venezuelano só acontecerá “com muito apoio externo”

Um investigador ouvido pela Lusa considerou hoje que uma mudança efetiva no regime político venezuelano só poderá acontecer com um forte apoio externo, quando o país enfrenta uma grave crise económica, social e humanitária.

© Facebook Maria Corina Machado

“Os militares continuam a apoiar [o Presidente venezuelano, Nicolás] Maduro e a oposição não tem armas, assim uma mudança de regime só poderia acontecer com muito apoio externo“, declarou Andrés Malamud, professor e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).

Segundo o investigador, o problema está no facto de os países que são relevantes para Venezuela ou apoiam Maduro – como a China, Rússia e Cuba – ou se mantém relativamente distantes da situação que o país atravessa, nomeadamente os Estados Unidos, o Brasil e a Colômbia.

“Não havendo nenhuma potência relevante que apoie materialmente o Presidente eleito [que considera ser o opositor Edmundo González Urrutia], não é possível esperar que este consiga retornar à Venezuela sem ser preso”, afirmou o especialista.

A oposição convocou manifestações contra a posse de Maduro na sexta-feira e González Urrutia afirmou que voltará ao país após se ter exilado em Espanha, em setembro, devido a um pedido de prisão emitido por um juiz em seu nome na Venezuela.

O chefe de Estado venezuelano foi proclamado vencedor das presidências de 28 de julho pelo Conselho Nacional Eleitoral, que não tornou pública a contagem dos votos nas assembleias de voto, alegando ter sido vítima de pirataria informática.

A oposição, que publicou as atas — que o Governo venezuelano diz ser falsas — de 80% das assembleias de voto recolhidas pelos seus escrutinadores, defende que o candidato opositor Edmundo González Urrutia obteve mais de 67% dos votos e venceu..

O regime de Maduro “subestimou o desejo de mudança” e “a capacidade da oposição de se ligar à população”, afirmou Carol Pedroso, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

A forte repressão das manifestações pós-eleitorais provocou 28 mortos, duas dezenas de feridos e cerca de 2.400 detenções.

A comunidade internacional exigiu a apresentação das atas eleitorais pelas autoridades venezuelanas, o que não aconteceu e levou o crescimento da tensão na comunidade internacional e cortes nas relações diplomáticas com algumas nações.

A prolongada crise económica, social e humanitária do país não tem fim à vista. Hoje em dia, o venezuelano médio tem de lidar com um salário mínimo mensal inferior a dois dólares, preços crescentes dos alimentos, fornecimento irregular de combustível e um sistema de ensino público deficiente.

Enquanto isso, um grupo de privilegiados ligados ao círculo de Maduro desfruta de regalias que a população em geral não tem direito, como o acesso a produtos alimentares e de higiene vindos do estrangeiro, entre outras coisas, como bons empregos e contratos.

Vários especialistas preveem que a crise poderá aumentar enquanto o Governo se continuar a debater com uma economia dependente do petróleo, com a corrupção, com a má gestão, com as sanções económicas impostas ao país, com o acesso restrito ao crédito e com a falta de investimento privado.

Antes das eleições, os eleitores venezuelanos disseram repetidamente que emigrariam se Maduro permanecesse no poder. Sob o seu Governo, mais de 7,7 milhões de venezuelanos já abandonaram a sua terra em busca de melhores condições de vida.

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