Património do circo em Portugal está em risco, alerta investigador

O coordenador científico do Centro de Investigação sobre as Artes do Circo (RISCO), Rui Leitão, alertou que o património circense português está em risco por falta de um espaço digno para armazenamento e conservação de documentos históricos.

© D.R.

O RISCO faz parte do Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC), um polo internacional dedicado às artes do circo e que promove a pesquisa do património circense em Portugal.

Localizado em Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga, o centro tem atualmente um acervo de cerca de 500 documentos históricos doados por seis famílias do circo em Portugal.

Neste momento, Rui Leitão, que é investigador e coordenador científico no RISCO, para além de estar a realizar o doutoramento na Universidade do Minho sobre a “A importância e invisibilidade do circo em Portugal no século XX”, assevera que conseguiu recolher um acervo de cerca de 500 documentos históricos sobre o circo em Portugal, designadamente uma coleção de figurinos de palhaços, centenas de fotografias a cores, partituras originais das orquestras que atuavam ao vivo nos espetáculos do Circo Chen e pastas de correspondência de gestão e administração datadas de 2000-2004.

Em entrevista telefónica à Lusa, Rui Leitão, antropólogo de formação, alertou que o património circense está em risco de desaparecer e que é preciso fazer um “trabalho extremamente emergente” para salvar o que resta junto das famílias de circo, que são atualmente 22 no ativo em Portugal, como por exemplo a Chen, a Cardinali, a Dias, a Monteiro e a família Noronha.

“O património circense português está completamente à deriva. Existem vários colecionadores e famílias que ainda têm muito espólio, mas este não está salvaguardado, muito menos classificado, correndo-se o risco de perdermos este património e a história do circo português a cada dia que passa. É emergente tomar uma atitude”, defendeu.

O coordenador científico está preocupado com este património, que “nem está agrupado”, “nem está classificado”, “nem está estudado”.

“Há todo um trabalho para se fazer, porque se não se fizer a história vai deixar de ser contada muito rapidamente”, disse.

O investigador avisou, por seu turno, que é urgente que as autoridades em Portugal, desde logo o Ministério da Cultura e os municípios, encontrem uma solução conjunta para fixar e proteger a história do circo.

“A cada ano que passa estamos a perder muitos elementos da história do circo. Há toda uma história que estamos a perder a cada dia que passa”, argumentou o especialista, explicando que se estão a perder objetos por não serem conservados numa unidade museológica.

Neste momento, na sua opinião, era urgente que um município conseguisse garantir, por exemplo, um “espaço de reservas técnicas” e uma “equipa mínima de trabalho para salvaguardar o máximo possível, porque há muita coisa que está a perder-se”.

Rui Leitão revelou que o RISCO solicitou uma audiência com a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, mas até ao momento não obteve qualquer resposta.

No contacto com as famílias de circo em Portugal, o investigador tem-se apercebido que os proprietários dos acervos estão preocupados com o que pode vir a acontecer ao legado que foram herdando pelos seus familiares.

A falta de condições para o devido armazenamento e conservação deste espólio é atualmente a “maior preocupação de ambas as partes: herdeiros e do INAC”, disse.

“Tenho fotografias que já não sei de vou conseguir recuperar (…), porque estavam numa sala com muita humidade e a humidade deteriorou-as (…). Algumas delas vou tentar recuperar com a inteligência artificial, mas não podemos trabalhar só nesse sentido”, considerou.

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