A capitulação do PCP

Se já estamos todos incrédulos com as polémicas que envolvem o primeiro-ministro Luís Montenegro, só faltava o expediente arquitectado pelo partido comunista para fugir de eleições e ver a sua bancada parlamentar provavelmente reduzida a pó. Isto mostra o nível a que chegou a política portuguesa.

Já não bastava um primeiro-ministro que não declara rendimentos na declaração para o efeito, já não bastava um primeiro-ministro, licenciado em direito, advogado e profundo conhecedor das obrigações inerentes ao cargo que ocupa que recebe avenças que acumula com o salário de primeiro-ministro de uma empresa que depende de decisões do Governo, já não bastava um primeiro-ministro que se esconde dos jornalista e não responde a questões fundamentais por forma a que as graves suspeitas que sobre ele se acumulam possam deixar de existir se houver fundamento para isso. Uma questão se impõe, se não houvesse a denúncia de todos estes casos o que estaria a acontecer? Paulatinamente, tudo na mesma. Sem se saber. Escondido debaixo do tapete, a passar entre os pingos da chuva e a exigir rigor aos portugueses e com a justiça a punir os incumpridores. Mas isso parece ser só para os outros. Onde é que Luís Montenegro encontrou respaldo na lei para manter 9 mil euros mensais em avenças originadas na sua empresa SpinumViva enquanto é primeiro-ministro? E outra coisa. Mas alguém acredita que a manobra feita pelo PM de venda da SpinumViva aos seus filhos, é só isso e mais nada? Qualquer estudante de liceu sabe que, quando se compra uma empresa, entre outras coisas compra-se a lista de clientes.

E onde está essa lista de clientes? No telemóvel de Luís Montenegro, acidentalmente, primeiro-ministro em funções.

Perante tudo isto assistimos à política de trazer por casa com que o PS e, mais grave ainda, o PCP nos brindaram para nos atirarem areia para os olhos. Pedro Santos diz que vota contra a moção de confiança e contra a moção de censura do PCP. Como não lidera a oposição diz assim umas coisas, aflito por ir a eleições nesta altura. Ou seja, faz bola. Um verdadeiro líder, e depois do que tem dito o que disse sobre o primeiro-ministro em todos estes casos graves, apresentaria a sua própria moção de censura já que Luís Montenegro optou por um talvez, não sei, logo se vê se apresento na AR uma moção de confiança.

O PCP, e aqui convém perceber que as pessoas não são burras como nos querem fazer querer, decide com grande expediente, apresentar uma moção de censura ao Governo, sabendo, de antemão, que o PS votaria contra e, assim, o Governo já não iria apresentar uma moção de confiança. E assim, tudo fica na mesma. Para agrado de todos. Todos não porque quem defende a transparência no Governo, quem expõe estas supostas irregularidades, quem defende os portugueses nunca há-de parar de lutar pela dignidade nos cargos públicos.

A incredulidade que a brilhante iniciativa do PCP nos proporcionou só mostra a capitulação aos interesses partidários, ao sistema, ao medo e à tentativa de adiar o golpe de misericórdia que espera este partido desajustado do tempo e da realidade em que vivemos e desmascara quem afirma defender os trabalhadores, mas, na hora certa, se preocupa mais em defender a sua própria sobrevivência política. Depois do partido das manas Mortágua despedir trabalhadoras grávidas só faltava o PCP mudar a cor da bandeira para cor-de-laranja.

É isto que temos.

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