Vivemos numa época em que a fé é tratada como um mero resquício histórico ou uma excentricidade do foro privado. A cultura dominante diz-nos que acreditar é sinal de fraqueza, que a religião é coisa de velhos ou de fanáticos, e que Deus não tem lugar num mundo “moderno”. Mas há jovens que recusam esse discurso; em vez de se ajoelharem ao mundo, ajoelham-se diante de Deus — e fazem-no com convicção inabalável.
Não herdámos uma Europa cristã viva, nem uma cultura que transmita transcendência; pelo contrário, herdámos igrejas vazias, cruzes esquecidas e uma sociedade que idolatra o efémero. Crescemos numa época em que se ridiculariza a fé, se despreza o sagrado e se nega a alma. Mas é precisamente por termos nascido nesse deserto espiritual que começamos a escavar em busca de água viva.
Em países como o Reino Unido, França ou Alemanha, há cada vez mais jovens que redescobrem a fé católica — não como hábito social, mas como escolha espiritual. São conversões, reencontros, redescobertas. Muitos aproximam-se da liturgia tradicional, da beleza do latim, da profundidade do silêncio e da ordem do sagrado. Não procuram meras sensações passageiras — buscam estrutura, verdade e eternidade.
A imigração em massa oriunda do Médio Oriente, longe de ser apenas um fenómeno demográfico, tem servido como espelho. Ao verem comunidades muçulmanas praticantes, com regras, valores e fé pública, muitos jovens europeus sentem vergonha do vazio espiritual à sua volta — e dentro de si — e reagem: reencontram Cristo, regressam à Igreja e começam a rezar o terço, a estudar a doutrina e a viver os sacramentos.
Não o fazem por tradição, mas por missão; não para agradar, e sim para resistir. A fé torna-se também um ato de resistência cultural: uma âncora, uma bandeira invisível, uma resposta firme ao caos, ao niilismo e à dissolução do Ocidente.
Portugal, de raízes católicas profundas, ainda não vive esta viragem com a mesma intensidade, mas os sinais já começam a surgir: há jovens a regressar à missa, a assumir a fé sem medo, a compreender que ser católico é ser herdeiro de algo maior do que si próprio. E é essa herança espiritual, que moldou Portugal ao longo de séculos, que pode voltar a dar alma ao país.
Não precisamos de jovens conformados com o laicismo nem de católicos tímidos; precisamos de jovens com fé, clareza e coragem, que saibam que não há verdadeira liberdade sem sacrifício, nem verdadeira ordem sem Deus. Se herdámos ruínas espirituais, que sirvam então de alicerces para o nosso renascimento. Se herdámos indiferença, que a enfrentemos com fervor.
E se herdámos silêncio, que o enchamos de orações. A nova geração católica não é barulhenta — é firme.
Não procura aplausos — procura redenção.
E sabe que a sua missão começa onde o mundo já não vislumbra futuro.
Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam.