Nos últimos anos, Guimarães tem sido frequentemente apontada como exemplo no panorama nacional e europeu. Os títulos de “Cidade Verde Europeia 2026”, “Capital Europeia da Cultura” e as distinções na área da inovação e da economia circular são usados como bandeiras de uma gestão que se apresenta visionária. Contudo, a realidade vivida por muitos vimaranenses está longe de refletir essa imagem. A prioridade, ao que parece, não é nem o cidadão nem o desenvolvimento equilibrado da cidade.
Enquanto cidades vizinhas, como Vizela, assistem a um crescimento populacional e económico expressivo, Guimarães perdeu habitantes nos últimos 20 anos. Jovens e famílias procuram noutros concelhos melhores oportunidades, habitação acessível e qualidade de vida. Esta sangria demográfica não é apenas um número: é um sintoma de que algo está profundamente desalinhado com a forma como a cidade é governada.
É verdade que se fala do Avepark e de polos tecnológicos como marcos de inovação. Mas, na prática, a cidade não conseguiu criar uma economia diversificada que sustente emprego qualificado e evite a fuga de talento. O tecido económico tradicional perdeu peso e, em vez de se renovar com políticas claras de apoio às pequenas e médias empresas, Guimarães assiste a uma estagnação perigosa. O marketing político continua a vender uma imagem de modernidade, mas os resultados concretos são pouco palpáveis para a maioria da população.
Guimarães é promovida como modelo europeu de sustentabilidade. No entanto, basta sair do centro histórico ou dos bairros reabilitados para o turismo para perceber que a realidade não é tão verde como se pinta. Existem freguesias onde o saneamento ainda não é universal, transportes públicos insuficientes e acessibilidades deficitárias. A gestão municipal parece mais empenhada em colecionar prémios e organizar eventos de prestígio do que em resolver os problemas básicos dos vimaranenses.
Em vez de estratégias sérias para fixar jovens, criar habitação acessível ou regenerar áreas urbanas de forma equilibrada, o município aposta numa política de espetáculo. A imagem de cidade do futuro contrasta com a experiência do dia a dia de quem vive, trabalha e tenta criar família em Guimarães. A prioridade parece ser a fotografia para a imprensa e não o bem-estar real da comunidade.
Guimarães tem todas as condições para se afirmar como cidade de referência: história, cultura, património e capital humano. Mas o potencial esvai-se quando a governação esquece quem deveria estar no centro de tudo: o cidadão. É urgente recentrar a política local nas pessoas, criando oportunidades, reforçando serviços públicos e garantindo qualidade de vida. Sem isso, a cidade continuará a viver de títulos e distinções, mas sem conseguir transformar reconhecimento internacional em progresso local.”